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7 brancos indispensáveis para o bacalhau

Seleccionei sete vinhos brancos para que nada vos falte. Sete boas razões para se sentarem à mesa este Natal e usufruir de uma das melhores harmonizações nacionais: vinho e bacalhau

Longe vão os tempos em que os pratos de peixes eram apenas acompanhados com vinho branco e os de carne com vinho tinto. No entanto, e porque os brancos portugueses estão cada vez melhores, optei por pensar em sete, mais ou menos encorpados, dependendo da receita de bacalhau que vão acompanhar.   

O bacalhau é um peixe de origem selvagem, pescado em alto mar, e um dos alimentos mais ricos em proteínas. Tem 21 gramas de proteína por cada 100 gramas de peixe. Além do valor proteico, o bacalhau é altamente gastronómico, versátil e de grande qualidade. É, também, um peixe pobre em gorduras, uma vez que tem apenas 0,5 gramas por cada 100 gramas, e a pouca gordura que possui é mono e polinsaturada, logo, rica em ómega 3 e ómega 6. Durante o seu processo produtivo, a chamada Cura Tradicional Portuguesa, não lhe é adicionada qualquer substância além do sal, que acaba por ser retirado na demolha. Depois, é só confeccionar a gosto.

Em Portugal, o bacalhau mais tradicional é servido às postas, cozido com batatas, ovos e couve. É um prato muito simples de preparar e delicioso. Mas há inúmeras receitas que jogam bem com o bacalhau e podem servir como alternativa a quem gosta de uma receita mais aprimorada. A pensar tanto naqueles que seguem a tradição, como naqueles que gostam de inovar, seguem sete sugestões de vinhos, dos mais estruturados aos mais simples, das mais variadas regiões nacionais, todos eles para harmonizar com o delicioso bacalhau.  



1 - Muros de Melgaço Alvarinho (Vinhos Verdes)
Anselmo Mendes É impossível não reparar na garrafa, mais alta do que o normal e com um design estilizado. Mas se é verdade que o seu formato contribuiu para chamar a atenção do consumidor, também o é o facto de ter sido produzido por Anselmo Mendes, um dos mais reconhecidos enólogos portugueses. Apesar de prestar consultorias a produtores de diversas regiões portuguesas, Anselmo é conhecido pela sua dedicação à Alvarinho, casta típica da terra onde nasceu, Monção, no noroeste de Portugal e a poucos quilómetros da Galiza espanhola. A marca Muros de Melgaço foi por si lançada em 1998, ganhou fama e cada vez mais apreciadores, ao ponto de se ter tornado num dos vinhos de grande referência da região. Filho e neto de agricultores e produtores de vinho, Anselmo Mendes é, além de produtor dos seus vinhos, consultor de reconhecidas marcas de vinho, de diversos produtores nacionais.

Nota de prova: Um dos grandes brancos portugueses que traduz bem a qualidade da casta Alvarinho, com aromas mais minerais e citrinos e menos tropicais. No paladar muito refrescante e mineral, com suaves notas de madeira, muito bem integradas. Um vinho de grande equilíbrio. 

2 - Palmeirim de Inglaterra (Trás-os-Montes)
Com raízes familiares em Chaves, os primos Isabel Sarmento, Ricardo Sá Fernandes e João Morais Sarmento decidiram juntar as uvas das suas propriedades para manter vivas as tradições ligadas ao vinho. O nome Palmeirim de Inglaterra é de um famoso romance de cavalaria do século xvi, escrito pelo transmontano Francisco de Morais, antepassado dos proprietários das quintas onde nasceu este vinho. O livro possui algumas lembranças autobiográficas do autor e é considerado um dos melhores romances de cavalaria do século xvi, tendo sido muito elogiado por Cervantes em Dom Quixote.

Nota de prova: Elaborado com Arinto, Malvasia Fina, Roupeiro e Moscatel Galego Branco, tem um aroma de fruta branca madura, ameixa amarela, complementado com notas minerais. Na boca é suave, fresco, envolvente, cativante.

3 - Somnium (Douro)
A palavra Somnium, em latim, significa sonhar. Foi o sonho que moveu Joana Pinhão e Rui Freire, amigos e colegas da universidade, a fazer um grande vinho. Após terem seguido caminhos separados e vivido diferentes experiências e oportunidades, juntaram-se dez anos depois para fazer um grande vinho no Douro. Um branco diferente, produzido com uma mistura de castas tradicionais provenientes de uma vinha de altitude com cerca de setenta anos, no Cima Corgo, na pequena freguesia de Porrais. A vinha perfeita para produzir um vinho com intervenção minimalista. A primeira colheita nasce em 2011, tendo mantido desde então um perfil diferenciador e muito gastronómico.

Nota de prova: Complexo e profundo, sobressam notas frutadas, minerais, algum vegetal e madeira da barrica onde estagiou. Na boca mantém o estilo mineral e muito fresco.

4 - Pai Abel (Bairrada)
Mário Sérgio é o terceiro numa geração de viticultores, mas só a partir de 1989 é que começou a engarrafar com a marca Quinta das Bágeiras, a partir de vinhas implantadas em terrenos que pertenciam aos seus avós maternos e paternos. Com o passar do tempo, foi adquirindo outras vinhas, incluindo uma parcela comprada em 1997, onde vai buscar as uvas para produzir este vinho. Quando a comprou, teve de a replantar e decidiu fazê-lo não separadamente, mas sim com as castas à mistura, como nas vinhas velhas. O pai ficou apreensivo mas ajudou à compra da vinha e apoiou a decisão arriscada. De alguma forma, Mário acreditava que a mistura de castas iria dar maior complexidade aos vinhos, até porque ao lado desta vinha existia outro terreno com vinhas velhas. Uma decisão não cientifica mas que deu bons resultados, já que o vinho revelou grande qualidade. O nome do vinho é uma homenagem ao seu pai, que sempre acreditou nele.

Nota de prova: No aroma é frutado, citrino e mineral, evidenciando-se ainda alguma especiaria. Tem um corpo estruturado, envolvente, muito fresco e profundo.

5 - Pedra Cancela Malvasia Fina e Encruzado Reserva (Dão)
Pedra Cancela Vinhos do Dão Este branco é elaborado por João Paulo Gouveia, talentoso enólogo da região do Dão. A Quinta Pedra da Cancela pertence à sua família, que se dedica à exploração vitivinícola há já várias gerações. Mas se no passado as uvas eram entregues à adega cooperativa, a partir de 1999 o cenário mudou. Ao contrário das gerações anteriores, João Paulo Gouveia deixa de entregar uvas e decide produzir e engarrafar o seu próprio vinho. Após terminar os estudos superiores em Viticultura e Enologia, investiu na reestruturação das suas vinhas, na aquisição de outras e começou a produzir o seu próprio vinho. Dinâmico e empreendedor, o enólogo é ainda investigador, docente universitário e sócio fundador de várias empresas, incluindo a Lusovini, a partir da qual produz e comercializa os vinhos Pedra Cancela.

Nota de prova: Tem notas frutadas, florais e citrinas, complementadas com nuances da madeira da barrica onde estagiou. Mantém o mesmo perfil no paladar, com todos os elementos afinados e muito equilibrados numa frescura vibrante.

6 - Mountain Wines Chardonnay Almeida Garrett (Beira Interior)
A família Almeida Garrett instalou-se em Tortosendo no final do século XIX e ainda hoje se encontra na posse dos seus descendentes, sendo José Almeida Garrett o rosto mais visível do projeto vitivinícola. Desde essa altura dedicaram-se à produção de vinhos e azeites, sendo um dos seus maiores investimentos a plantação de varas de Chardonnay na Covilhã, ainda hoje a única casta branca nas vinhas da casa. Este vinho expressa bem a personalidade do Chardonnay e a forma como a casta tão bem se adaptou ao nosso terroir.

Nota de prova: No aroma é frutado e mineral. No paladar é estruturado, amanteigado, untuoso, com boa acidez e leves fumados. Um grande vinho de boa relação qualidade/preço.

7 - Herdade Grande Reserva (Alentejo)
A Herdade Grande pertence a António Manuel Lança, encontrando-se na posse da sua família desde 1920, altura em que que foi adquirida. Situada a escassos quilómetros da Vidigueira, é uma extensa propriedade com vinha, olival e pastagem. Desde que se formou como engenheiro agrícola no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, António tem vindo a investir cada vez mais na propriedade, onde hoje existe um moderno projeto vitivinícola. Em 1980 foram instaladas novas vinhas e, em 1997, iniciada a vinifi cação. Este vinho é produzido com as melhores uvas da herdade, dando origem a um branco de grande nível.

Nota de prova: Feito de Viosinho, Rabigato e Arinto. O aroma é frutado e citrino, com notas minerais a complementar. No paladar é elegante, untuoso, paladar complexo e equilibrado, e madeira bem integrada. Final longo e persistente.