A Arte de fazer Tricot e Crochet
As malhas da vida fizeram com que Sandra Tavares da Silva e Susana Esteban se cruzassem no caminho da amizade e fizessem nascer dois vinhos com características distintas mas semelhantes na elegância. Um projecto que já tem mais de dez anos, com novas colheitas lançadas agora no mercado.
Há muitos anos, quando Sandra Tavares da Silva e Susana Esteban se conheceram, ainda no início das suas carreiras, era ainda raro haver mulheres enólogas. Por essa razão, e também porque a empatia foi imediata, as duas tornaram-se amigas e foram alimentando e fortalecendo essa amizade, até hoje. Na época, Sandra trabalhava na Quinta Vale D. Maria, e Susana na Quinta do Côtto, ambas no Douro, ambas entusiasmadas pelos seus trabalhos e troca de experiências. Mais tarde, Susana rumou para o Sul e estabeleceu-se no Alentejo, onde reside e trabalha até hoje. Mas a amizade continuou e, em 2011, depois de já estarem lançadas profissionalmente, Sandra desafiou Susana a fazer um vinho no Douro em conjunto com a amiga. «Esta foi a forma que arranjámos para estarmos juntas mais vezes. Quando a Susana foi trabalhar para o Alentejo, já não nos encontrávamos tanto, o que é uma pena pois gostamos imenso uma da outra como amigas mas também como profissionais», afirma Sandra Tavares da Silva. «Obviamente que fazer vinhos é um negócio, mas com estes vinhos queremos acima de tudo trabalhar juntas. Ambas temos os nossos próprios projectos e uma agenda complicada, por isso não queremos crescer mais. Já tivemos vontade de aumentar a gama, fazer mais vinhos, mas não dá mesmo. Estes dois já revelam o que queremos mostrar e que é a nossa amizade», reforça Susana Esteban.
Assim nasceu a primeira colheita de Crochet em 2011, um tinto do Douro com um perfil delicado, elegante, mas ao mesmo tempo estruturado, com presença. O Tricot acabou por surgir mais tarde, em 2014, com um perfil igualmente fresco e elegante, mas com a expressão do terroir das vinhas da Serra de São Mamede, no Alentejo.
No caso do Crochet (Douro) foram utilizadas as castas Touriga Nacional (50%), Touriga Franca (40%) e 10% de Vinhas Velhas apanhadas manualmente e seleccionadas à porta da adega. A vinificação foi feita em cubas de inox com maceração pré-fermentativa durante 4 semanas e um estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês, 20% novas, e as restantes de segundo e terceiro ano.
Já o Tricot é elaborado 50% com vinha Velha e a outra metade com Touriga Nacional. Tal como o seu irmão do Douro, as uvas que o produziram são colhidas manualmente com selecção à porta da adega e fermentação em cubas de inox com maceração pré-fermentativa. No estágio são utilizadas 30% de barricas novas e as restantes usadas.
Em ambos os vinhos as edições são sempre discutidas até ao último pormenor. «Geralmente concordamos sempre uma com a outra, temos visões muito idênticas do que deve ser um vinho de cada uma das regiões», afirma Sandra. «Muitas vezes tenho pontos de vista diferentes com outros colegas, mas realmente com a Sandra concordamos sempre, as ideias fluem naturalmente» diz Susana bem disposta, revelando ainda que se deslocam regularmente durante o ano a uma e a outra região, não só para conversar, como para fazer provas.
As edições são sempre limitadas e, tal como já afirmaram, não pensam aumentar, apesar da fama que os vinhos têm ganho ao longo dos últimos anos. Por último, na sua produção são utilizadas uvas de viticultores amigos, sempre os mesmos desde que o projecto nasceu. A ideia é lançar sempre os vinhos todos os anos, excepto quando isso possa não acontecer, como por exemplo em 2018, que o Crochet não foi produzido por falta de produção consistente.
Tricot e Crochet expressam bem o terroir de cada região, algo revelado na prova realizada para comemorar os mais de dez anos do projecto. Sandra e Susana deram a provar 4 colheitas mais marcantes do Crochet (2012, 2015, 2017 e 2019) e outras quatro de Tricot (2014, 2015, 2016, 2017). No caso do Crochet destacou-se a colheita de 2012 pela sua antiguidade mas enorme frescura, e a de 2019, com notas mais florais, estrutura marcante e elegante, e pelo seu menor teor alcoólico. No Tricot destacou-se a colheita de 2014 pelo seu perfil vegetal e diferenciador, e a colheita de 2017, de uma delicadeza e frescura incríveis.