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A responsabilidade do nome Heritage

Heritage significa património, herança, legado, tradição, entre outros substantivos que transmitam carga histórica. É por isso que o topo de gama da Ravasqueira foi batizado com este nome, uma homenagem dos filhos a José de Mello, reconhecido empresário português que foi um apaixonado por vinhos e o primeiro da família a investir na plantação de vinhas. Recentemente foi realizada uma prova que revela a consistência do projecto.   

Quando o Monte da Ravasqueira foi adquirido em 1943 como refúgio familiar, a família Mello certamente não pensou que um dia a propriedade viria a ser um dos produtores de vinho mais reconhecidos do país. A partir de 1998m, para a plantação das primeiras vinhas (escolha das castas mais apropriadas e dos melhores locais para a sua plantação), foram realizados estudos geológicos que contaram com o apoio de técnico de consultores nacionais e internacionais, com vasta experiência no sector. Inspirada nas adegas de Napa Valley, na Califórnia, a adega foi  dotada da mais avançada tecnologia. Os primeiros frutos vieram em 2001, data da primeira vindima, e das primeiras experiências vínicas, embora tenha sido produzido um vinho que nunca chegou a sair para o mercado. Só dois anos depois, foi lançado o primeiro vinho, um tinto da colheita de 2002. Desde então, a Ravasqueira não parou de evoluir.

José Manuel de Mello, que faleceu em 2009, deixou um legado único aos seus filhos, que o souberam continuar. Além disso, com a entrada de sangue novo na empresa em 2012, a Ravasqueira trilhou um caminho de consistência importante, que começa na gama de entrada e termina num vinho icónico, o Heritage (antes denominado MR Premium). Foi este tinto, produzido apenas em anos excepcionais, que foi dado a provar aos especialistas, nas colheitas de 2012, 2014 e 2017 (2007 foi a primeira colheita, mas entretanto esgotou), de forma a perceber o trabalho realizado e a sua consistência desde o seu início. Mais recentes são o Heritage branco, produzido também nos melhores anos; e o Heritage rosé, lançado todos os anos, que também estiveram presentes na prova, nas colheitas de 2019 (branco) e 2021 (rosé).     

Segundo Vasco Rosa Santos, administrador e enólogo da Ravasqueira (na foto, ao centro) com Gonçalo Ribeirinho, à esq. (direcção de Marketing) e David Baverstock à dirt. (direcção de enologia), «a gama de vinhos Heritage respeita as técnicas tradicionais de vinificação, ao mesmo tempo pretende revelar dinâmica e modernidade». Com o apoio de David Baverstock, que hoje comanda a equipa de enologia, cria nesta nesta gama vinhos de perfil moderno que «refletem a paixão pelo terroir da Ravasqueira» e pela região do Alentejo. «São vinhos que expressam este lugar e que refletem a grande paixão de todas as pessoas envolvidas e a sua atenção diária aos detalhes e pormenores», reforça Vasco Rosa Santos.  

Esse conhecimento fundamental do terroir é parte integrante da estratégia da Ravasqueira.  Desde 2012, na altura da maturação das uvas, é captada uma fotografia aérea da vinha, dando-se início a um intenso trabalho de viticultura de precisão, com o objetivo de efetuar uma zonagem que permite a potencialização máxima de cada bloco de vinha. Esta acção permite identificar e localizar toda a variabilidade existente nas vinhas da Ravasqueira, recorrendo às informações de georreferenciação para mapeamento; dados meteorológicos (incluindo temperatura, precipitação, humidade e vento); Mapas de NDVI (Normalized Difference Vegetation Index); análise topográfica e análise de compostos da uva versus prova de bagos. O resultado permite que as uvas de cada zona da vinha sejam direccionadas para  cada gama de vinho; e o Heritage é, consequentemente, proveniente dos melhores talhões de vinha. 



Um vinho especial

O Heritage é elaborado, após vindima manual e selecção no tapete de escolha, com as melhores uvas de Touriga Nacional, Touriga Franca, Syrah e Alicante Bouchet.  A maceração é feita a frio em lagares, durante 5 dias, e a fermentação com temperatura controlada dura 12 dias. No final da fermentação alcoólica, o vinho é passado para barricas, onde faz a maloláctica. O vinho estagia ainda 24 meses em barricas novas de carvalho francês.

A prova dos tintos, que começou do mais novo (2017) passou pelo 2014 e terminou no velho (2012) revelou o bom potencial de envelhecimento durante a década que passou. O mais novo apresentou fruta, notas vegetais, de cacau e apontamentos balsâmicos, e um paladar estruturado e sedutor, onde se sente a madeira bem integrada, excelente frescura, e um final prolongado.  Já a colheita de 2014 manteve o perfil, mas já com laivos de aromas terciários, destacando-se no paladar alguma fruta seca e notas de ginja, embora muito moderadas, já que a fruta fresca ainda se encontrava presente. Já o 2012 revelou apenas os esperados aromas terciários, mas na boca ainda mostrou uma enorme vitalidade própria de um vinho que ainda tem muito para dar. O que quer dizer que o produtor pode continuar a produzir o Heritage para que possamos nos próximos anos possamos continuar a compará-lo com a colheita mais antigo, para ver como se aguenta!

Apesar do foco da prova estar mais nos tintos do que no branco (de 2019) ou no rosé (2021), estes vinhos também se destacaram pela sua estrutura, acidez e equilíbrio. Já se sabe, de estilos diferentes, mas provenientes de uvas vindimadas manualmente, vinificados com todas as mordomias e estagiados em barricas de carvalho novas.