Alorna: 300 anos de história
A Quinta da Alorna fez 3 séculos e lançou um vinho especial complementado por um livro que conta a história da propriedade.
Quem conhece a história do vinho em Portugal sabe como a Quinta da Alorna sempre foi um dos produtores de referência da região do Tejo e também do país. Fundada em 1723 por Pedro Miguel de Almeida Portugal, celebrou agora o tricentenário com o lançamento de uma edição especial, um vinho de topo limitado a 712 garrafas, denominado de ‘Quinta da Alorna 1723 Grande Reserva Tinto’. O vinho será comercializado em conjunto com o livro ‘Da Índia ao Tejo, do Tejo para o Mundo: 300 anos da Quinta da Alorna’. O kit de celebração do 300º Aniversário será vendido na Quinta da Alorna e em garrafeiras de referência.
Sendo um livro que envolve a história e os vinhos da Alorna, e uma data tão especial, foi com um prazer enorme que aceitei o convite para escrever este livro, que me diz muito em vários aspectos. Profissionalmente foi uma das primeiras quintas que conheci quando comecei a estudar nesta área; por outro lado, porque a quinta pertenceu aos Almeida e por isso revi parte da história de família nas minhas pesquisas. É por isso com orgulho que celebro também os trezentos anos da história da Alorna, evidenciando a forma como este património agrícola tem sido tão bem gerido até hoje pelos descendentes de Manuel Caroça, que desde o dia 21 de Junho de 1918 se tornou o único detentor e gerente da Sociedade Agrícola da Alorna.
Já a pensar nos 300 anos que se iriam comemorar em 2023, a administração da Alorna pensou há uns anos neste vinho especial, necessariamente inspirado na história da propriedade e nas emblemáticas personalidades que por ali passaram. Assim, para a enóloga Martta Reis Simões, que conhece de cor o perfil dos dois topos de gama da quinta - os Marquesa de Alorna Grande Reserva, branco e tinto, de edição limitada – o vinho comemorativo tinha de ser diferente, mas igualmente marcante. Um vinho que permitisse evidenciar o carácter e a genuinidade do terroir da região. Complexo mas elegante, sem muita extração, com muita presença e frescura, como ditam as tendências mundiais.
Assim, durante a vindima de 2019, não duvidou em recorrer às vinhas mais antigas da Alorna, datadas de 1986, situadas em solos pobres e não regados da charneca, para ir buscar as melhores uvas. Ali, a constituição do solo é arenosa e argilosa, complementada com calhau rolado à superfície, o que lhe dá uma particular beleza. Este calhau rolado, existente nos vários horizontes do solo, contribui para uma boa drenagem e arejamento, permitindo um enraizamento profundo das plantas, sendo também responsável pela retenção do calor do sol, libertado depois durante a noite para as vinhas. Isso faz com que não existam mudanças bruscas de temperatura, contribuindo para uma maturação lenta e equilibrada das uvas, que no final se traduz na elegância e frescura do vinho.
A complementar a questão dos solos, o clima também contribuiu para a qualidade do vinho. 2019 foi um ano seco, mas as chuvas da Primavera surgiram no momento certo do desenvolvimento da vinha, originando uma produção generosa, com uvas muito sãs. Meses antes da vindima, as temperaturas mantiveram-se amenas durante o dia e frias durante a noite, contribuindo também para o equilíbrio perfeito entre a acidez natural e teor de açúcar no mosto.
A vindima decorreu sem sobressaltos. Os cachos de Alicante Bouschet, Castelão e Tinta Miúda foram apanhados manualmente e separados em caixas de dezoito quilos (para evitar o esmagamento das que estão por baixo). Posteriormente foram seleccionados na mesa de escolha.
A vinificação, foi fora do comum. Os cachos foram colocados inteiros dentro de tanques para fermentar, e só depois passadas para o desengaçador, a dois terços da fermentação. De regresso ao tanque, as uvas já desengaçadas foram pisadas a pé, e fermentaram durante seis dias, a temperatura controlada. O vinho seguiu depois para a prensa, onde o líquido foi separado das cascas, terminando o percurso a estagiar durante 10 meses em barricas de carvalho francês usadas, de diferentes tanoarias, grão fino e tosta média longa. Todo este processo contribuiu para a qualidade do vinho e foi realizado individualmente, casta a casta, sendo o lote feito apenas no final. Por último, a escolha do nome do vinho é óbvia: O ‘Quinta da Alorna 1723’ remete ao ano em que D. Pedro de Almeida Portugal comprou estas terras em Almeirim.
«Com um pH de 3.28 o Quinta da Alorna 1723 Grande Reserva Tinto é um vinho elegante e sumptuoso, que transcende e desafia os dogmas da enologia e distingue-se pela elegância dos sabores», afirma Martta Reis Simões, enóloga na Quinta da Alorna desde 2003 e Diretora de enologia desde 2010 (na foto de entrada, à direita, ao meu lado).
Já o livro, da minha autoria, e com prefácio de António Barreto, foi editado pela Guerra e Paz e é um livro muito bonito e ‘fora da caixa’, com uma paginação incrível da autoria de Ilídio J.B. Vasco, que brincou com o lettering e aproveitou imagens e mapas antigos dando-lhe uma nova roupagem gráfica para criar uma obra irreverente. Por último, o design da capa, assinado por Rita Rivotti, destaca-se pela elegância e sobriedade. A obra descreve os momentos e pessoas que foram mais marcantes para a evolução da propriedade e da empresa que pertence à família Lopo de Carvalho (descendentes de Manuel Caroça) desde o início do século XX, eternizando nomes, caras e momentos que marcaram esta quinta ao longo dos seus 300 anos.