
Amália, Voz e Vinho
A Fundação Amália Rodrigues desafiou a produtora Rita Nabeiro a criar um vinho dedicado à grande fadista portuguesa. Ciente que a missão teria de ir mais além, convidou mais seis mulheres produtoras a juntarem-se a ela para elaborar este vinho emblemático, que também tem fins solidários.
Já se sabe, Amália Rodrigues foi uma das grandes fadistas portuguesas aclamada como a voz de Portugal e uma das mais brilhantes cantoras do século XX. Esta mulher, nascida a 1 de Julho de 1920, que tantos admiradores conquistou ao redor do mundo, deixou-nos em 1999 com o desejo de criar uma fundação na sua casa de Lisboa, em São Bento, onde todos pudessem conhecer o seu lado mais pessoal. Este seu desejo acabou por ser cumprido a 23 de Julho de 2001, quando a sua casa finalmente abriu portas, revelando a sua vida. Um local onde se recria o seu dia a dia, vêm-se os seus vestidos e jóias de palco, os balandraus que usava por casa e outros objetos pessoais, os seus prémios e honras, as suas memórias. Agora, para complementar, dois anos passados do centenário do seu nascimento, também se poderá ‘beber’ Amália.
Não é a primeira vez que um produtor dedica um vinho à fadista, mas é a primeira vez que tantas produtoras mulheres se juntam para homenageá-la, juntando vinhos de várias regiões. Em tempos (Novembro de 2012) as produtoras já se tinham juntado num artigo do Diário de Notícias que falava de mulheres enólogas, da autoria do jornalista Fernando Melo. Agora, voltam-se a juntar para homenagear Amália.
«Em 2020, devido à pandemia, não pudemos comemorar o centenário do nascimento da Amália, mas finalmente estamos a fazê-lo agora», explicou Vicente Rodrigues, presidente da Fundação Amália Rodrigues. «Pensar e alargar este projecto a mais produtoras foi uma feliz ideia da Rita e só trouxe maior riqueza ao projecto, assim como a possibilidade de chegarmos mais além. Estamos muito contentes e acreditamos que este vinho honra a memória de Amália Rodrigues pela sua enorme qualidade».


Assumido o propósito de criar algo único, maior que uma marca ou região, o vinho teria de representar o país e eternizar a fadista na memória colectiva. Assim, as sete produtoras são oriundas e representam quatro regiões distintas, de norte a sul do país (Douro, Dão, Alentejo e Lisboa). São elas Rita Nabeiro da Adega Mayor, Francisca Van Zeller da Van Zellers & Co, Maria Manuel Maia da Poças, Luísa Amorim da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, Rita Pinto da Quinta do Pinto, Mafalda Guedes da Sogrape e Catarina Vieira da Herdade do Rocim. «Uma iniciativa pioneira que pretende dar voz à imensidão de Amália, cuja receita total reverte para a Fundação Amália Rodrigues através do lançamento de Amálias 100», explica Rita Nabeiro, a porta voz do grupo de produtoras que se reuniu uma vez mais no dia do lançamento do emblemático vinho no Teatro Tivoli, em Lisboa. O lucro será depois repartido entre as instituições que a Fundação Amália apoia, tal como a Casa do Artista, e ainda para obras de recuperação da casa de Amália Rodrigues, fundamental para a preservação do espólio da cantora.
O ‘Amálias 100’ tinto 2020 é um blend de quatro castas que simbolizam Portugal: Touriga Nacional (27%); Alicante Bouschet (26%); Alfrocheiro (20%); Touriga Franca (13%); Trincadeira (7%); e Field Blend Vinhas Velhas (7%). Em 2020, após a vindima, cada produtora elaborou na sua adega um lote de vinho representativo da autenticidade da sua região, que estagiou durante 18 meses em barricas antes de se juntar ao lote final. Chegado o momento de se unirem num vinho único, seguiram-se ainda 12 meses de estágio em garrafa antes de ser lançado. Um tinto de aroma floral e de frutos pretos sivestres, com apontamentos balsâmicos e da madeira onde estagiou. No paladar é intenso, concentrado e poderoso, com apontamentos de especiaria, tudo num conjunto muito harmonioso e equilibrado. «É um vinho muito cosmopolita como Lisboa, tem uma sensação fina e elegante do Douro, outra mais quente do Alentejo, e outra ainda mais incisiva do Dão. Sentimos tudo neste vinho» afirma Carlos Rodrigues, da Adega Mayor, um dos mais envolvidos neste projecto. Do vinho foram enchidas 1920 garrafas de 1,5 L (garrafa Magnum), que serão vendidas a um PVP de 180€.
Um tinto genuíno e sofisticado, com um grande final de boca. Uma homenagem a Amália Rodrigues mas também à força carismática do vinho português.

