Anselmo Mendes – Rei da Alvarinho
Reconhecido nacional e internacionalmente pela imprensa especializada, pela crítica de vinho e diversas entidades do sector, é detentor de inúmeros títulos de reconhecimento ao seu trabalho, assim como de medalhas que reforçam e divulgam a qualidade dos vinhos que produz ou faz para outros produtores. Um enólogo marcante que muito tem trabalhado pelos vinhos portugueses.
Quando é que realmente percebeu que queria ser enólogo?
O meu interesse pelo vinho vem desde pequeno. Eu fui ‘agricultor’ ainda muito jovem e gostava de tudo o que fossem culturas agrícolas, incluindo a vinha. Percebi que queria e podia ser enólogo no 3º ano de Agronomia, pois comecei a gostar de microbiologia geral, microbiologia das fermentações, bioquímica, viticultura, tecnologia, enologia, este tipo de matérias. Agronomia sempre foi muito forte nas disciplinas e ensino de matérias ligadas à tecnologia enológica e hoje estou grato a esta faculdade pelas ferramentas que colocava ao dispor dos alunos para serem engenheiros/enólogos na vida real.
Trabalha e é consultor em
diversas regiões nacionais. Qual para si a mais desafiante?
A região mais desafiante é Portugal pela sua diversidade de castas e solos que permitem a um enólogo fazer vinhos originais em qualquer parte do mundo. Contudo, a região dos vinhos verdes é aquela onde eu acho que é possível inovar e recriar novos vinhos.
Se não trabalhasse em
Portugal, em que país gostaria de ser enólogo?
Em França, onde há uma grande história de vinho e um grande conhecimento científico e domínio dos factores que determinam o ‘Terroir’.
É também ‘mestre’ de alguns enólogos que estão neste momento a dar cartas. O que devem fazer os jovens enólogos para atingir um bom nível profissional, para ir mais além? Que conselhos lhes dá?
Aos meus jovens colegas enólogos digo-lhes sempre que o conhecimento não tem limites e que só se faz ‘arte’ depois de muito conhecimento. Hoje é preciso contar uma boa história, mas esta deve ter substância. A enologia portuguesa tem de produzir mais matéria científica mas as empresas do sector também têm de investir nestas áreas juntamente com as universidades.
Além das consultorias que dá, é um dos produtores mais reconhecidos da região dos vinhos verdes. Que vinho gostaria de fazer que ainda não fez?
Estou a começar a fazer brancos da casta Alvarinho capazes de ir a jogo com brancos do Loire e da Borgonha. É o exemplo dos meus vinhos Parcela Única, Curtimenta, Expressões, Muros de Melgaço.Quero com o Loureiro e o Avesso nos seus terroirs de excelência fazer vinhos mais sérios, pois no Vale do Lima e Baião é possível fazer brancos de classe mundial.
Conte-me uma história, um
episódio profissional que o tenha marcado...
Numa visita a uma vinha no sul do Brasil que tinha mais de 20 anos quase abandonada, encontrei meio hectare da casta Alvarinho, mas estava marcada com outro nome, Gouveio. Recuperámos essa vinha e fizemos o primeiro vinho da casta Alvarinho no Brasil.
Tem ganho inúmeros prémios com vinhos que produz para si e para outros produtores, além do reconhecimento
à tua própria pessoa. Aliás, foi condecorado pelo Presidente da República... no fundo, o reconhecimento pelo que tem feito pelos vinhos portugueses...
Sinto-me
reconhecido pelo que tenho feito pelos vinhos portugueses mas penso que tenho de fazer mais pelo meu país pois ele deu-me a possibilidade de fazer vinhos com diferentes expressões. E é com este nome ‘Expressões’ que eu quero fazer vinhos que exprimam a terra onde nascem. Comecei pela minha terra com um vinho
Expressões Monção e Melgaço, 100% Alvarinho, mas onde eu não refiro a casta, considerando que esta é uma ferramenta importante, mas por si só não faz a expressão dum território.