António Machado – Bom humor à mesa
Não estava a representar, mas nem à mesa o actor António Machado larga o humor. Aquele que nos faz rir sempre que o vemos nos écrans de televisão a fazer papéis cómicos. É um bom garfo e um bom copo mas, mesmo assim, torce o nariz a alguns pratos. E não há quem o tire de uma boa tertúlia com os amigos. É por gostar tanto de comer e beber bem que o convidámos para esta conversa.
Nasceu em Lisboa mas sempre morou na linha de Cascais, em São Pedro do Estoril. A mãe, nada dada a cozinhados, e o pai muito menos, entregava esse papel às empregadas domésticas, que preparavam as refeições para a família. «Eram pratos simples mas saborosos», diz António Machado, «como o esparguete à bolonhesa, bifes com batatas fritas, souflés de peixe ou o célebre frango à maricas, com um limão enfiado pelo rabo» (risos). Gostava de todos estes pratos, mas havia alguns que não podia sequer ver, especialmente ervilhas com ovos escalfados, que odiava. A mãe bem o tentava obrigar, mas a comida não lhe passava pela goela. Nem esse prato, nem outros tantos, como polvo, favas ou cogumelos. Era esquisito de boca, portanto. E até hoje mantém esses ‘ódios’ de estimação.
Só quando saiu de casa para morar sozinho é que começou a despertar para outros sabores. Ia jantar a casa de amigos que cozinhavam bem, mas também descobriu os programas de televisão e os livros de Jamie Olivier. E aventurou-se a cozinhar: «Antes não sabia sequer o que era um refogado» (risos). «Ter comprado um robô de cozinha ajudou, apesar da minha primeira experiência - uma mousse de limão - não ter ficado grande coisa. Devia ter comprado leite evaporado mas enganei-me e comprei leite em pó... a máquina começou a fazer barulhos esquisito e a sobremesa ficou uma porcaria» (risos). Finalmente, quando casou, teve a sorte da mulher cozinhar bem, e com ela também aprendeu alguma coisa.
Já nos vinhos, aconteceu mais ou menos o mesmo percurso. Bebia-se em sua casa, mas nada de vinhos especiais. Só quando começou nas jantaradas com os amigos começou a perceber que afinal, havia vinhos melhores e tratou de ir provando aqueles que não conhecia, sempre que surgia uma oportunidade. O ponto de viragem dá-se quando vai a casa de um amigo e prova dois tintos que o impressionaram, um português do Douro (Roquette & Cazes) e outro da Ribeira del Duero (Aalto). A partir daí começou a ler mais sobre vinhos, a assinar revistas sobre a matéria e a ir a feiras. «Além disso, tenho um grande amigo com quem também aprendi muito sobre vinho, e que é meu companheiro nestas lides, o meu colega e actor João Didelet», diz António. Fez também alguns cursos, o primeiro, inesquecível : «Provei 22 tintos e 16 brancos e o curso foi dado pelo enólogo Paulo Laureano. A partir daí tornei-me muito refilão nos restaurantes. Refilo quando os copos são maus ou a temperatura não está correcta. Se o tinto está quente mando vir o frapé. Faço a família passar vergonhas» (risos).
Gosta de todas as regiões, desde que se tratem de bons vinhos. «Já passei várias fases. Passei pelo Douro, pelo Alentejo, que são regiões mais conhecidas, mas gosto de fazer novas experiências. Por exemplo, recentemente fiquei surpreendido com o Algarve! E também tenho provado uns Bairrada interessantes». Quanto às castas, gosta tanto de nacionais como de internacionais. «Gosto muito de brancos elaborados com Viognier ou Sauvignon Blanc. Mas também gosto da casta Verdelho. Já nos tintos, tenho andado a provar a Baga, e a descobrir mais vinhos de Touriga e Castelão. E de Alicante Bouschet que, embora seja uma casta francesa, é quase portuguesa, já que se adaptou tão bem por cá!», remata.
BIOGRAFIA
António Machado (10 de Julho de 1973) é um actor e imitador português. Tirou o curso de teatro no IFICT em 1992. O seu primeiro trabalho em televisão foi a apresentação do ‘Clube Disney’ para a RTP, de 1994 a 1996. Foi membro da equipa de vozes do ‘Contra Informação’ de 96 a 2004 e entrou em numerosos anúncios e séries televisivas. Fez parte do elenco das peças ‘Canção dos Oceanos’, de Rui Vilhena, em 1998; ‘Não te esqueças de puxar o autoclismo’, de Rita Fernandes, em 2003; ‘Deixa-me Rir’ (com uma imitação de Durão Barroso) em 2004, encenada por António Feio no Teatro Villaret, e também de ‘2 Amores’, em 2007, encenada por António Feio e também no Villaret. Participou em Hora H, de Herman José e no elenco fixo da série da RTP1, ‘Bem-vindos a Beirais’. Entrou ainda na peça ‘Filho da Treta’ em parceria com José Pedro Gomes, entre 2016 e 2018 e, pelo meio, na novela ‘Espelho d’Água’, da SIC. Actualmente faz parte da peça ‘Faz-te Homem’ com João Didelet. Colabora há 13 anos com Manuel Marques na rubrica radiofónica Portugalex (Antena 1). Faz dobragens de desenhos animados e toca bateria. E ainda anima eventos e faz de DJ. Continua a beber vinho.