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Arintos de classe

A Quinta de Chocapalha organizou uma prova vertical que conta a evolução dos vinhos brancos nascidos nesta propriedade da região de Lisboa.  

A Quinta de Chocapalha, em Alenquer, na Aldeia Galega da Merceana, remonta ao século XVI, mas só durante o reinado de D. João VI, no século XVII, surgem referências históricas às suas vinhas. Alice e Paulo Tavares da Silva adquiriram a propriedade na década de 80, mas só a partir do ano 2000 decidiram começar a produzir vinhos por sugestão da filha, a reconhecida enóloga Sandra Tavares da Silva. Investiram então na introdução de novos métodos de cultivo que permitiram produzir vinhos de qualidade, contribuindo assim para o reconhecimento da qualidade vitivinícola da região. A nova adega de linhas sóbrias, enquadrada na ondulação da paisagem, veio permitir a partir de 2013 maior funcionalidade e controle no processo de produção.

(na foto de entrada, da esq para a dirt Andrea Tavares, irmã de Sandra e responsável comercial e de enoturismo; Sandra Tavares e Miguel Cavaco, enólogos de Chocapalha. Sentados, Paulo e Alice Tavares). Fotos de Ernesto Fonseca.  

A propriedade, hoje com 70 hectares e 50 de vinha, tem castas nacionais e internacionais, brancas e tintas, sendo a Arinto uma das principais, a ocupar 9 hectares. Assim para contar o percurso desta história familiar a Quinta de Chocapalha organizou uma prova vertical de Quinta de Chocapalha das colheitas de 2008 a 2019; e de CH de Chocapalha de 2015 a 2019, de forma a contar a história dos Arintos ali produzidos.

Quinta de Chocapalha: Casa (em cima) e adega (em baixo)



A casta Arinto está presente na maioria das regiões vitícolas portuguesas, mas a região de Lisboa é uma das regiões privilegiadas no seu cultivo. Trata-se de uma variedade que dá origem a vinhos vibrantes, com excelente acidez e mineralidade, revelando desde sempre um enorme potencial de envelhecimento. No nariz é relativamente discreta, com notas que variam entre os aromas citrinos, frutados, vegetais e minerais dependendo da região onde é plantada. «A Arinto é uma casta muito bem definida, com uma pureza e uma forma de se expressar única», afirma Sandra Tavares. «Quando idealizámos o Quinta de Chocapalha quisemos fazer um vinho sério, competitivo. 2008 foi a primeira colheita e começámos por fazer apenas 3000 garrafas. Hoje em dia produzimos 31.000», remata, satisfeita. Na adega, a sua fermentação ocorre durante 22 dias em cubas de inox e depois o vinho fica ainda em contacto com as borras finas durante 5 meses, o que o torna um vinho mais untuoso. Esta untuosidade, frescura e complexidade é, aliás, uma característica comum nesta vertical de 2008 a 2019, acrescida de uma salinidade sempre presente, principalmente nas colheitas mais recentes. Nesta vertical também foi provado o excelente potencial de envelhecimento da casta, começando apenas a sentir-se notas de evolução mais significativas a partir da colheita de 2015.

Vertical de Arinto da Quinta de Chocapalha (de 208 a 2019) em cima; e de CH by Chocapalha (de 2015 a 2019) em baixo.



Já no caso da vertical de CH de Chocapalha (de 2015 a 2019) as sensações são semelhantes mas o vinho é mais estruturado. Antes de fazer nascer este vinho, Sandra fez várias experiências em barricas de forma a perceber o que melhor resultava. Mas assim que atingiu o perfil pretendido, passou à acção. A fermentação das uvas ocorre durante 15 dias a baixas temperaturas em barricas de carvalho francês usadas de 500 litros. Depois, o vinho estagia nas mesmas barricas em contacto com as borras finas, durante 9 meses, com ‘batonnage’. «Este vinho é mais encorpado, mais complexo, tem uma camada maior de sabor e textura mas sempre respeitando a casta», diz Sandra. Idealizado para homenagear a mãe de Sandra, Alice, este vinho destaca-se pela personalidade marcante e pela sua enorme frescura. Um vinho de guarda que, tal como as colheitas do seu ‘irmão mais novo’ Quinta de Chocapalha, é um vinho sério mas que revela ainda mais o seu potencial de envelhecimento.