Aventuras de um Alemão em Terras do Alentejo

Após anos dedicados ao setor de malas de luxo, o empresário alemão Dieter Morszeck voltou suas atenções para os vinhos alentejanos. Em 2017, adquiriu uma propriedade na Vidigueira com 85 hectares – a Quinta do Paral -  e recentemente abriu um hotel de charme onde se podem beber bons vinhos e praticar actividades de enoturismo muito exclusivas.

Tudo começou quando o único filho de Dieter Morszeck, há anos apaixonado pela região e formado em engenharia agrónoma, descobriu uma vinha velha no Alentejo e convenceu os pais a investir na compra desse pedaço de terra. Anos volvidos, o projecto de fazer vinho foi muito mais além e deu lugar à construção de um hotel boutique de cinco estrelas, concluído recentemente, tendo o mesmo sido aberto em soft opening durante o Verão de 2024. Assinado pelos arquitetos Saraiva & Associados, tem 23 quartos, rodeados de um parque com mais de 800 árvores, um túnel verde forrado de vinhas e um ginásio. No total, 85 hectares onde se respira natureza.

A marca de malas de luxo Rimowa, fundada pelo avô de Dieter em 1898 na cidade de Colónia, na Alemanha, já não ocupa mais o seu foco. Depois de vender a empresa ao grupo de luxo Moët Hennessey Louis Vuitton (LVMH), o empresário direcionou os seus interesses para a construção de aviões leves, com fábricas na Suíça (Junkers) e nos EUA (Waco), mas também para a produção de vinho alentejano na Quinta do Paral. O sonho de Dieter é, agora mais que nunca, criar no vinho um negócio familiar, com vinhos que reflictam o terroir da região. As vinhas velhas, com mais de 60 anos, contribuem para a produção de vinhos genuínos que refletem o enorme potencial a região. «As primeiras vinhas descobertas pelo filho de Dieter juntaram-se a outras que entretanto se foram comprando. Muitas vinhas velhas da região foram sendo arrancadas por serem economicamente inviáveis, mas a nossa aposta foi aproveitar a carga história, a complexidade e a qualidade das uvas que estas vinhas dão», explica o enólogo Luís Leão, também director do projecto global do Paral. «Muitas destas vinhas sexagenárias estavam dispersas e foram adquiridas a 10 proprietários, algumas com apenas quatro ou cinco carreiras, mas valeu a  pena pela qualidade, concentração e elegância dos vinhos», remata. Características que podem provar-se através dos vinhos topo de gama Quinta do Paral branco e tinto Vinhas Velhas que têm na sua composição castas tão tradicionais como as brancas Antão Vaz e Perrum, e as tintas Aragonez e Tinta Grossa. Já os Reserva e os Grande Reserva assumem um perfil deliberadamente internacional, elaborados com castas Chardonnay e Sauvignon Blanc (brancas) e Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Malbec e Marselan (tintos). Na vinha com mais de uma década que já existia na propriedade, foram encontradas castas inusitadas, como a branca Vermentino, que também foi aproveitada para fazer parte dos lotes dos vinhos brancos Colheita, Superior, e também para o espumante Brut Nature.

Pelo meio, há ainda outros produtos de destaque, como o vinho de Talha (de tinta Grossa e Tinta Caiada), o Licoroso Condessa 1703 (um tributo à história da Quinta do Paral que inicia no século XVIII, em 1703, elaborado com Tinta Grossa e Trincadeira) e, por fim, o azeite,  nas versões Virgem extra  e Virgem Extra Premium «Estamos a crescer cada vez mais a nível nacional e a alcançar também novos mercados internacionais», diz Luís Leão, mas Portugal e Espanha estarão sempre no foco da comercialização destes vinhos por razões óbvias.

No Enoturismo, a Quinta do Paral oferece uma variedade de atividades que proporcionam uma experiência de proximidade com os vinhos alentejanos. Os visitantes são convidados a participar em visitas guiadas pelas vinhas e pela adega, onde podem aprender sobre as castas e as práticas de viticultura que respeitam a tradição e a sustentabilidade da região. A visita inclui uma passagem pela adega, onde os processos de vinificação são explicados ao detalhe. Uma das actividades mais destacadas é a prova de vinhos com petiscos regionais (pão, queijo, enchidos), das mais simples às mais elaboradas, ou por medida. Almoços e jantares privados, workshops de cozinha, piqueniques no campo, passeios a cavalo e observação do céu na cama balinesa instalada no meio das vinhas são outras opções.

Há, também, a possibilidade de agendar visitas culturais a Évora ou ao Alqueva, entre outros lugares à medida do visitante.