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Barca Velha, um vinho mítico

O mais emblemático vinho português, tem em 2008 a sua colheita mais recente. Um tinto com mais de 60 anos e apenas 18 colheitas.

Um dos vinhos portugueses mais famosos, o Barca Velha, que só sai em anos de qualidade excepcional, lançou a sua última colheita em 2008 e ainda não se sabe quando será a próxima. A primeira colheita, nascida em 1952 pelas mãos do enólogo Fernando Nicolau de Almeida, fez história pelas mais variadas razões. Pela personalidade que o concebeu mas, principalmente, por ter sido concebido para ser um vinho de enorme qualidade, elaborado com as mais avançadas técnicas de vinificação da época, entre as quais, a fermentação a temperatura controlada, o que lhe permitia preservar aromas e sabores. Tudo isto feito com alguma imaginação, já que havia conhecimento avançado, mas condições rudimentares.

Luís SottoMayor, enólogo da Sogrape e quem actualmente decide se sai ou não Barca Velha para o mercado

Mas hoje, o cenário é outro. O vinho continua a ser elaborado com as melhores uvas, agora elaborado com a mais moderna tecnologia pelas mãos de outro enólogo, igualmente talentoso, Luís SottoMayor. É ele quem hoje decide quando será ano de Barca Velha. Neste caso específico – o da colheita de 2008 – não houve grandes dúvidas, já que a vindima foi desde logo foi muito prometedora e o vinho mostrou garra: «A nossa experiência, consolidada ao longo de muitos anos sinalizou que estávamos perante um conjunto de características excecionais, próprias de um Barca Velha», recorda Luís Sottomayor, que viria em diferentes momentos a reforçar esta ideia na sala de provas. Agora que já foi lançado, o enólogo chefe da Casa Ferreirinha não esconde a satisfação pelo resultado alcançado: «Estamos perante um Barca Velha para conhecedores e apreciadores, um vinho que demora a revelar-se. É preciso tempo e paciência para desvendar tudo o que vale. E é muito!», conclui.

Para lançar este vinho, a Sogrape – actual proprietária da Casa Ferreirinha – escolheu o Palácio Monserrate, em Sintra, onde o jantar esteve a cargo de Miguel Rocha Vieira, chefe Executivo do restaurante Fortaleza do Guincho. Ao contrário do que tem acontecido em colheitas anteriores, em que se produzem cerca de 30.000 garrafas de Barca Velha, o ano de 2008 não foi dos melhores em matéria de quantidade, sendo apenas produzidos neste ano 18.000 garrafas. Por esta razão, o preço do vinho ultrapassa a dos anos anteriores (400€) podendo variar conforme o local de compra. De cor rubi e um aroma intenso e complexo, o Barca Velha 2008 tem notas de frutos vermelhos vivos, especiarias, algum balsâmico e folha de tabaco. Na boca é complexo, harmonioso, elegante, com um excelente volume, acidez viva e taninos intensos. Com madeira bem integrada, tem um final longo. Um vinho para momentos especiais e que qualquer verdadeiro apreciador de vinho tem de provar, nem que seja uma vez na vida.