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Um vinho que ruge

Nasceu a nova colheita de Barca Velha 2011, um vinho sobre o qual Luís Sottomayor, enólogo da Sogrape e responsável pelo emblemático tinto duriense, nunca teve dúvidas de que iria ver a luz do dia. Um vinho que, ao contrário do BV de 2008 - mais contido - considera exuberante, bonito, a brilhar entre os demais. Um verdadeiro leão.

Já se sabe, o lançamento do Barca Velha é um acontecimento histórico. E não é para menos.  Foi há mais de meio século que Fernando Nicolau de Almeida criou aquele que muitos consideram ser o mais emblemático vinho português, numa época em que ninguém ainda ninguém pensava em fazer vinhos tintos no Douro. Muito menos, um grande tinto. Na região reinava o Porto, mas Fernando já há muito desejava fazer um tinto de qualidade excepcional, à semelhança do que vira e provara nas suas viagens a França, acreditando que o Douro também tinha um terroir de eleição para a produção de vinho de mesa. Foi à conta da sua força de vontade e perseverança que viu o seu sonho tornado realidade. E, desde o ano de estreia (1952) o seu vinho fez grande sucesso, sendo produzido desde então apenas nas melhores colheitas. (1952, 1953, 1954, 1955, 1957, 1964, 1965, 1966, 1978, 1981, 1982, 1983, 1985, 1991, 1995, 1999, 2000, 2004, 2008 e 2011).

O Barca Velha de 2011 chega ao mercado no início de outubro por 600€. Não é para todos os bolsos, é certo, mas estamos a falar de um vinho histórico que, segundo Luís Sottomayor é também uma «eterna busca pela perfeição que acontece não quando o homem quer, mas quando a natureza entende». O enólogo arrisca-se mesmo a dizer que «o extraordinário ano de 2011 foi um dos melhores de sempre no Douro» pelo que, logicamente, o vinho só poderia alcançar um nível de qualidade ímpar.

Luís Sottomayor, enólogo da Sogrape, segura nas mãos dois vinhos emblemáticos da Sogrape, o Barca Velha e o Mateus rosé.


«Nunca tive dúvidas que este ano daria um Barca Velha, 2011 foi um ano memorável. Depois de produzido, tivemos de ter paciência, esperar que o vinho pudesse ir para a mesa. É, sem dúvida, um vinho de grande personalidade e carácter» afirma com satisfação. «É um vinho que diz ‘estou aqui, cheguei’, um tinto magestoso, e por isso o comparo a um leão. Ao contrário da colheita de 2008 que, embora de grande qualidade, é mais contida e enigmática. O 2011 mostra logo a sua exuberância, a sua garra», remata.

Este ano, devido à pandemia, ao contrário do que tem acontecido em jantares de lançamento de outras colheitas de Barca Velha em que a Sogrape escolhe vários locais emblemáticos em diversas regiões nacionais, foi idealizado e preparado um cenário ao ar livre na própria Quinta da Leda, no Douro Superior, de onde são provenientes as uvas que dão origem a este tinto. Aproveitando a ocasião, a Sogrape não deixou de fazer uma provocação inicial ao oferecer aos convidados uma pequena garrafa fresca de Mateus rosé, um vinho barato mas muito bem conseguido, e provavelmente o vinho português mais conhecido no mundo, assinado por António Braga, também enólogo da Sogrape. Antes do jantar foram ainda saboreadas amêndoas do Douro, figos pingo de mel, presunto pata negra, bôla de carne e diferentes variedades de ostras. Um luxo que terminou com um jantar preparado por cozinheiras da região, a Angelina e a Nela, que prepararam um belo cabrito assado no forno de lenha da propriedade.

Este ano, o lançamento da nova colheita (2011) de Barca Velha foi ao ar livre, no coração da Quinta da Leda.
Fernando da Cunha Guedes relembrou durante o jantar que o Barca Velha é feito sem pressas nem pressões.. Na fotografia em baixo, a elogiar o cabrito servido ao jantar pelas cozinheiras Angelina e Nela.



Para Fernando da Cunha Guedes, Presidente da Sogrape, este é mais um lançamento com enorme carga emocional. «O meu pai teria ficado muito feliz se estivesse aqui connosco, tenho a certeza que teria gostado de provar este vinho e de o saborear com este cabrito da Angelina e da Nela», afirmou com emoção, relembrando o pai Fernando van Zeller Guedes, criador da Sogrape, actualmente a maior empresa produtora de vinho a nível nacional: «Este vinho manda. A decisão se é ou não Barca Velha é puramente enológica, cem por cento alheia a pressas ou pressões comerciais. Aqui o patrão não manda, o enólogo decide o que quer, o Luís Sottomayor que o confirme», remata, gracejando.

Produzido com 45% de Touriga Franca, 35% de Touriga Nacional, 10% de Tinto Cão, e 10% de Tinta Roriz, recolhidas em diversas parcelas e altitudes na Quinta da Leda, o vinho estagiou 18 meses em barricas de carvalho francês antes de ser engarrafado, em Maio de 2013. De aroma complexo, é uma colheita que revela notas frutadas, de cacau e especiaria, e leves apontamentos balsâmicos. Continua complexo no paladar, é denso, vivo, equilibrado, sem altos nem baixos, sempre elegante. Tem a madeira muito bem integrada, acidez no ponto, e um longo final de boca. Sem dúvida, um grande vinho.