Desafio sem limites
Fazer um vinho sem barreiras à imaginação ou outro qualquer obstáculo foi o que propôs a administração da Sogrape à sua equipa de enologia. O primeiro vinho desta série é de Sercialinho, vem da Bairrada e é assinado por António Braga. Um desafio onde cada enólogo pode vestir qualquer papel e desempenhar a função que mais gosta no enredo.
Imaginem a seguinte cena: o administrador de uma conhecida empresa de vinhos marca uma reunião com a sua equipa de enologia e pede-lhes para fazerem um vinho a seu belo prazer. Que façam o que lhes der na real gana. Não importa a região, as castas, o estilo de vinho, os custos. Tem é de português, de grande qualidade e diferenciador. Fora isso, não há obstáculos nem limites à imaginação. Parece um sonho, um filme, uma série de televisão… Bom demais para ser verdade. Mas é! Pura realidade.
Fernando da Cunha Guedes, Presidente da Sogrape, desafiou a equipa de enologia da Sogrape a pensar de forma livre, sem preconceitos, para desenvolver um vinho como de uma obra de arte se tratasse. Série Ímpar é o nome da marca criada para este fim, que será elaborada todos os anos por qualquer um dos membros da equipa de enologia, que farão propostas autorais ou co-autorais. Podem ser vinhos de qualquer região onde a empresa produz. Pode ser branco, tinto ou rosé, tranquilo ou espumante. Pode ser um ou mais vinhos. Pode ainda ser monovarietal ou um blend. Cada ano será uma surpresa. Com as propostas já colocadas em cima da mesa, todos os enólogos da casa têm de concordar em sessão plenária que o vinho (ou vinhos) tem estatuto para ser lançado.
Segundo Fernando Guedes, o tempo passa, mas a Sogrape quer continuar a manter o seu legado. «Se nesta história houve já vários realizadores, os enólogos são parte importantíssima de um grande elenco que promete levar a Sogrape mais longe. Dito isto, incitá-los a fazer vinhos sem igual, dando-lhes liberdade total para idealizarem e criarem à sua própria medida é o mesmo que pedir-lhes para acrescentarem ainda mais valor à nossa história».
O primeiro vinho da Série
Série Ímpar Sercialinho 2017 é o primeiro vinho que marca a estreia deste desafio. Foi na Bairrada, na Quinta de Pedralvites, que o enólogo António Braga se inspirou para fazer a sua proposta, provada e aceite posteriormente pelos colegas.
O enólogo, que hoje divide o seu tempo entre 4 regiões de norte a sul
do país, foi o primeiro a reagir ao desafio. «A ideia de fazer algo diferente
andava no ar e na vindima de 2017 tive a oportunidade de ver nascer um vinho da
casta Sercialinho com um enorme potencial qualitativo» revelou. Para o enólogo,
estamos perante «um vinho clássico moderno que, por um lado, reflete o terroir
da Bairrada através da sua acidez vibrante, textura e perfil gastronómico, ao
mesmo tempo que apresenta o seu caráter e personalidade de forma contemporânea,
sem estar preso a tendências. Além disso, vinhos que nascem de uma folha em
branco levam mais do enólogo e isso dá muito gozo», conclui António Braga.
A casta Sercialinho é uma casta de uva branca, já rara na Bairrada. Tem boa intensidade aromática, com notas citrinas e minerais a sobressair, e um sabor acídulo e refrescante. Durante muitos anos pensou-se que a Sercialinho resultava de uma fusão entre a casta Vital e a Alvarinho. No entanto, estudos genéticos realizados pela Sogrape concluíram que só a casta Vital tem a carga genética comprovada. «Já se descobriu que o pai é a casta Vital mas a mãe não é de certeza a Alvarinho. Fizeram-se vários estudos de DNA mas não se chegou a uma conclusão segura, nada ficou comprovado. Por isso a novela continua!» revela em tom de brincadeira António Braga.
A ideia de fazer um vinho de Sercialinho surgiu-lhe porque sempre achou que se devia fazer algo com as uvas daquela vinha de 2,5 hectares, já com 33 anos. «Era uma vinha perdida no meio dos 60 hectares da Quinta de Pedralvites. As uvas serviram no passado para uma marca de vinho da Bairrada que a Sogrape tinha e que foi desconbtinuada. Achei por isso que seria uma boa oportunidade fazer alguma coisa a partir dessa vinha. Mas a Sercialinho não é uma casta fácil. É susceptível a doenças, pouco produtiva e por isso foi sendo deixada para trás. No entanto, dando-lhe colo, quando pega bem, dá origem a vinhos de grande qualidade».
Produzido na adega da Sogrape, em Mogofores, Anadia, o vinho deu origem a 2050 garrafas, de edição limitada, e poderá ser encontrado apenas em garrafeiras selecionadas.