Leonor Alcácer – Descobrir os prazeres da mesa

Desde pequena que a actriz Leonor Alcácer aprendeu a gostar de tudo, mas nunca foi dada a grandes patuscadas. Só mais tarde descobriu o prazer de comer e saborear os alimentos e o vinho de uma forma especial, mais consciente dos prazeres sensoriais. E hoje não só gosta de comer como também de cozinhar e apreciar um bom vinho às refeições.
Filha de um pai de Alcácer do Sal e uma mãe de Grândola, Leonor tinha todos os motivos e mais alguns para ser um bom garfo. Mas não. O pai, com problemas de saúde, tinha uma alimentação regrada preparada pela mãe que, contudo, era muito ‘petisqueira’. «Como o meu pai não podia comer coisas muito gordurosas, a minha mãe tinha muito cuidado com os cozinhados que fazia. Mas, de vez em quando, fazia petiscos para ela. Eu e os meus irmãos já estávamos habituados àquela alimentação de grelhados e cozidos do meu pai e nem pensávamos na comida. Aliás, eu era um pisco a comer», explica. No entanto, recorda-se dos cozinhados da avó paterna, muito saborosos: o gaspacho, o empadão, os carapaus fritos com batatas e couves, a mioleira com pão e os bifes com batatas fritas. E do que não gostava? «Odiava uma coisa que a minha mãe fazia que era bofe (pulmão). Tinha uma textura esponjosa, nem o podia ver!» (risos).
Aos 17 anos, quando saiu de casa para vir estudar em Lisboa, é que começou a ter mais apetite. «Fazia muito desporto. Remo, vólei, andebol, ginástica desportiva…. Era fanática do desporto e foi nessa altura que o apetite começou a abrir e eu a comer mais», explica a actriz. Nessa altura, morava num quarto de uma senhora e já tinha de cozinhar alguma coisa, mas tudo muito simples. Só mais tarde, aos 26 anos, quando finalmente comprou casa, é que se aventurou a sério na cozinha e começou a jantar mais vezes fora com amigos e colegas e a perceber o mundo dos sabores de outra forma. Hoje, comer e beber é um dos seus prazeres de eleição.
E vinho? Não o bebe todos os dias mas, quando o bebe, tem de ser bom. «Recuso-me a beber mau vinho», afirma com convicção. E completa: «Houve uma época em que bebi tanto brancos como tintos, mas hoje ando a beber mais brancos. No entanto, quando bebo tintos, tem de ser um ‘tintão’, um vinho mais encorpado e complexo». Enquanto nos brancos aprecia blends sem olhar a castas, nos tintos escolhe preferencialmente aqueles que têm Trincadeira, Castelão e Aragonês/Tinta Roriz, algumas das castas mais apreciadas. O gosto pelos vinhos é, aliás, partilhado por toda a família «Em casa dos meus pais, quando a família se junta, gostamos de fazer provas de vinhos. O meu irmão, que é mais entendido sobre o assunto, compra vinhos de várias qualidades e preços e depois à mesa damos a nossa opinião. Mesmo o meu pai, que apesar de ter tido sempre uma alimentação vigiada nunca deixou de beber o seu copo de vinho».
Quando vai às compras leva para casa vinhos de várias regiões, porque gosta de descobrir novos sabores. Mesmo quando viaja para fora de Portugal: «há muitos anos, tinha eu vinte e poucos anos, já eu nas minhas viagens ia descobrindo alguns vinhos. Recordo-me especialmente de uma viagem que fiz ao sul da Alemanha e que adorei. Havia esplanadas fantásticas com vinho a copo, ainda nem se falava disso por cá e lá já era algo muito comum lá fora e eu fartei-me de os beber». E bebe-os com sabedoria: «Escolho o copo de acordo com o vinho e tenho noção de que as temperaturas fazem toda a diferença».
BIOGRAFIA
Nasceu em 2 de Julho de 1961, em Alcácer do Sal. Concluiu o Curso de Formação de Actores em 1983 na Comuna Teatro de Pesquisa, e iniciou-se nesse ano com o espectáculo ‘O Físico Prodigioso’. Entre 1987/89 integrou o Grupo de Acção Teatral A Barraca e estreou ‘O Baile’. Trabalhou com encenadores como António Feio, António Montês, Helder Costa José Carretas, Adriano Luz, Fernando Gomes, Águeda de Sena, Paulo Matos, Rui Paulo e Mário Fedele. Em 2008, a convite do Instituto Camões, estreou no St John’s College Auditorium, Universidade de Oxford em Inglaterra, ‘Fernando Mil Pessoas’, ‘Uma Musa e... ‘ um espectáculo da efeméride do nascimento do poeta, com encenação de Mário Fedele, a partir de uma colagem de textos de Fernando Pessoa. Em 2013 encenou juntamente com Ilda Roquete, ‘Serões de Mar’ e, em 2014, encenou ‘Celebração’. Participou em algumas séries de televisão como ‘Médico de Família’, ‘Os Batanetes’, e novelas como: ‘Morangos com Açúcar’, ‘Mar de Paixão’, ‘Laços de Sangue’, ‘Os Nossos Dias’ e, actualmente, participa na novela ‘Vidas Opostas’. Fez também dobragens em filmes de animação da Warner, Pixar e Disney. Dirigiu e promoveu, entre 2007 e 2010, o Projecto Cegonha, em Alcácer do Sal, de acção social, cultural e educacional, no qual se realizaram diversas formações e espectáculos. Participou ainda em Juro, de Luís Lourenço, no Casino Estoril, encenou ‘Reservado’, que se encontra ainda em digressão. Encontra-se igualmente a desenvolver um projecto e apresentação de espectáculo em Castro Verde, em parceria com a Associação Fora da Gaveta.

