Drouhin – Vinhos apaixonantes
Joseph Drouhin foi o fundador de uma reconhecida empresa de vinhos na Borgonha que já vai na quarta geração.
Nascido em Yonne Department, junto à vila de Chablis (Borgonha), Joseph Drouhin partiu da sua terra natal até Beaune, a ‘capital’ da Borgonha, em busca de bons negócios. Ousado e empreendedor, ali fundou, em 1880, com apenas 22 anos, uma pequena companhia que comprava e vendia uvas, mas também produzia vinhos.
Apesar da terrível crise no sector do vinho, provocada pela epidemia da filoxera que se alastrou pelas vinhas de toda a Europa, Joseph nunca deixou de acreditar num futuro risonho. Um dos seus maiores desejos era o de fornecer aos seus clientes vinhos de qualidade. E conseguiu, ultrapassando as dificuldades, investindo novamente em vinhas e erguendo-se ainda mais forte no mundo dos negócios.
Entretanto, a Revolução Industrial veio alterar o panorama social e melhorar o nível de vida das populações. Novas e melhores estradas foram construídas, facilitando as relações comerciais, incluindo as das companhias de navegação. Através destas facilidades, o negócio da distribuição tornava-se, de dia para dia, cada vez mais aliciante e bem organizado, fazendo também com que os consumidores se tornassem mais exigentes.
O nascimento de uma marca
Maurice Drouhin, filho de Joseph, herdou do pai a energia, o dinamismo e a paixão pelos vinhos. A partir de 1918, altura em que tomou as rédeas da empresa familiar, foi adquirindo algumas vinhas nos arredores de Beaune, iniciando a tão desejada produção de vinhos de qualidade (Premier e Grand Crus).
A Côte de Beaune foi a primeira propriedade a ser comprada. Esta parcela de terra foi plantada com a casta tinta Pinot Noir e algumas castas brancas que eram adicionadas aos vinhos tintos, como era costume na época. Em 1925, a situação alterou-se, começando as uvas brancas a serem vinificadas separadamente, dando origem a vinhos de fino aroma e paladar. Para provar os vinhos, eram chamadas a Côte de Beaune várias personalidades, entre as quais Eugène Cornuchet, director do famoso restaurante Maxim’s, em Paris. Sendo um grande amigo do proprietário e, percebendo que se tratava de um produto de qualidade superior, Cornuchet conseguiu, na época, a venda exclusiva dos vinhos dos vinhos da Côte de Beaune no luxuoso espaço de restauração.
Rapidamente, os néctares da família Drouin ganharam fama. Após a Segunda Guerra Mundial, que também afectou significativamente o comércio de vinhos, Maurice lutou pelo tempo perdido e viajou pelo mundo, principalmente pelos Estados Unidos, onde desenvolveu importantes canais de distribuição que contribuíram para o crescimento da empresa.
Uma das pessoas mais ligadas a Maurice era o sobrinho Robert, que o acompanhava em diversas ocasiões profissionais. Além de provar vinhos desde os catorze anos, fazia longos passeios pela vinha com o tio e gostava de conversar sobre vinho, ávido de aprender cada vez mais. Assim, em 1957, a responsabilidade de gerir a empresa passou para Robert.
Desejoso de melhorar ainda mais a qualidade dos vinhos produzidos pela empresa familiar, adquiriu ainda mais vinhas nas melhores denominações de origem da Borgonha, entre as quais Musigny, Griotte-Chambertin, Chambertin-Clos de Bèze, Bonnes Mares e Grands Echézeaux. E, antes do INAO (Institut Nacional des Appellations d’Origine) alargar as denominações de origem, comprou uma vinha de 38 hectares nos arredores de Chablis, uma aquisição insólita, na medida em que a maioria de produtores na Borgonha é detentor de minúsculas propriedades. No entanto, mais tarde, os vinhos produzidos naquelas vinhas mostraram ter grande qualidade. Já nos anos 70, adoptou novos métodos de trabalho biológicos na vinha, através da utilização de menor quantidade de fertilizantes e tratamentos químicos. Contratou, também, para os quadros da empresa, uma mulher, a enóloga Laurence Jobard, um facto também pouco comum para a época. Os seus conhecimentos profundos de enologia e a sua sensibilidade para os vinhos surpreenderam o empresário que, juntamente com a enóloga fundou o primeiro laboratório de enologia numa adega.
Nos finais da década de 80, outro desafio foi proposto à família Drouhin. A aquisição de vinhas nos Estados Unidos, no Oregon (sul de Portland), uma região dominada pela casta Cabernet Sauvignon mas onde Robert previu que a casta Pinot Noir produziria excelentes vinhos. O projecto revelou-se um sucesso: desde o primeira colheita (1988), o Domaine Drouhin Oregon alcançou uma excelente reputação.
Uma herança a preservar
Robert transmitiu aos seus filhos – Philippe (encarregado da viticultura) Vèronique (enóloga), Laurent (embaixador da marca nos Estados Unidos, em Nova York, onde actualmente reside) e Fréderic (actual director da empresa) - o conhecimento profundo dos terroirs, a sensibilidade para provar vinhos e um exigente conceito de qualidade. Nascidos entre os anos 1961 e 1968, todos partilham a paixão pela vinha e pelo vinho, trabalhando com grande entusiasmo nas suas respectivas áreas, na empresa fundada pelo bisavô.
Esta união familiar, tão pouco comum, ajudou a definir melhor a filosofia da empresa: o respeito pelo terroir e pelo ambiente. Assim como a aposta nas novas tecnologias, de forma a obter um melhor controlo de qualidade, e uma estratégia comercial dinâmica que alimenta o contínuo crescimento da empresa.
Numa época em que o ambiente é um dos temas mais badalados no mundo, a Joseph Drouhin orgulha-se de ser uma das empresas que mais investe nesta área. Assim, a sua viticultura segue uma abordagem orgânica e biodinâmica; dando respostas naturais a problemas naturais. O respeito pelos solos passa por arar a terra a cavalo, utilizar compostos naturais e deixar a vegetação crescer entre as vinhas. Passa também pelo investimento em viveiros próprios, de forma a assegurar a herança genética das videiras assim como um maior e mais eficaz controle de qualidade.
Na vinha, são utilizados predadores naturais em detrimento de produtos químicos. As plantas são densamente plantadas, de forma a deixá-las arraigar o mais profundamente possível, como acontece com as videiras mais velhas. Desta forma, as uvas são mais receptivas às mensagens transmitidas por cada tipo de solo. Deliberadamente, são favorecidos baixos rendimentos na videira para que os bagos de uva ganhem maior força, dando origem a vinhos estruturados, cheios de personalidade. Finalmente a vindima, a ápoca alta do ano, altura em que as uvas são apanhadas e colocadas em pequenas caixas perfuradas para proteger e preservar a integridade da fruta.
Todas estas medidas são hoje parte da rotina da empresa, que não só está atenta ao ambiente, como às tendências e inovações do mundo do vinho.
Vinhas e adega
Com seus 78 hectares, a Joseph Drouhin é uma das maiores propriedades da região. Possui vinhas em toda a Borgonha: Chablis (40 hectares), Côte de Nuits e Côte de Beaune, (38 hectares) e Côte Chalonnaise (3 hectares). A empresa produz maioritariamente vinhos Premier e Grand Cru, plantados com as duas principais castas da Borgonha, Chardonnay e Pinot Noir.
A Pinot Noir é a grande uva tinta da Borgonha, delicada e também complicada, pois não é uma casta facilmente adaptável. Prefere climas frios, onde produz vinhos finos e elegantes, de taninos aveludados de média e longa guarda. Já a Chardonnay, a rainha dos brancos, adapta-se muito bem em diversas regiões do mundo. Dá origem a vinhos sedosos e amanteigados, com excelente complexidade e acidez, ganhando muito com o estágio em barrica.
Para algumas aldeias ou denominações regionais, a empresa também compra uvas a outros proprietários, parceiros de longa data, que partilham a mesma filosofia de excelência. Neste caso, nem todas as uvas são de agricultura orgânica e biodinâmica.
A adega antiga (existe uma mais recente fora da cidade, a cerca de três quilómetros) é hoje a sede da empresa e também o local de visitas de enoturistas. Um local emblemático que transborda de cultura e histórias para contar.
As suas caves subterrâneas atravessam a cidade de Beaune e foram pertença dos Duques da Borgonha. Entretanto adquiridas pela família Drouhin, em boa parte delas foram construídos muros em alguns compartimentos para esconder o vinho dos soldados alemães. Nessa mesma época, Maurice Drouhin - filho do fundador, Joseph Drouhin - foi perseguido pela Guestapo devido às suas ligações à resistência francesa. Valeu-lhe ter escapado por uma porta escondida nas adegas. Para lá dessa porta, Maurice fugiu pelos túneis subterrâneos até o Hospices de Beaune, o icónico hospital da cidade - onde os mais pobres e desvalidos eram tratados gratuitamente - localizado a alguns quarteirões de distância. Foi ali que as freiras do hospital esconderam Maurice por alguns meses até que os aliados libertaram Beaune, em Setembro de 1944.
Após a guerra, Maurice ofereceu aos Hospices de Beaune alguns hectares de vinha como agradecimento. Actualmente, a família Drouhin prolonga esse agradecimento, ao comprar grande parte do vinho elaborado pelos Hospices de Beaune no mundialmente famoso leilão anual realizado no terceiro final de semana de Novembro, em Beaune.
PROVA DE VINHOS
A distribuidora destes vinhos em Portugal é a Portfolio. A prova de vinhos foi realizada directamente na antiga adega da Joseph Drouhin, em Beaune. Nem todos os vinhos poderão estar disponíveis no nosso país. Os preços (PVP) foram retirados na net em diversos sites, traduzindo a média de preço a que os vinhos são vendidos mundialmente.
BRANCOS
Drouhin Vandon-Chablis Premier Cru – Mont de Milieu 2015
Vinho suave mas consistente. Aroma a flores brancas, maçã, mineralidade, notas suaves de madeira. Medianamente estruturado, boa acidez e untuosidade, madeira bem integrada.
PVP: 34€
Joseph Drouhin Chassagne-Montrachet 2016
Floral e citrino no aroma, com notas de madeira bem integradas tanto no aroma como no paladar. Estagiou um ano em barricas novas e usadas. Um branco clássico da borgonha de boa intensidade e estrutura, redondo, envolvente, amanteigado.
PVP: 71€
Joseph Drouhin Chassagne-Montrachet Embazées Premier Cru 2016
Elaborado com uvas da maior e mais complexa parcela de montrachet, é um branco de boa intensidade aromática, floral, citrino, fruto seco e especiaria. Madeira bem integrada no aroma e no paladar. No paladar, um Chardonnay de excelência, cremoso, elegante, fresco, envolvente.
PVP: 104€
Joseph Drouhin Corton-Charlemagne Grand Cru 2011
Em relação aos anteriores sente-se maior intensidade das notas de madeira. Um branco complexo, untuoso, já com ligeiro aroma terciário de fruto seco e feno, mas ainda fruta a evidenciar-se no conjunto, ameixa madura, maçã assada, manteiga. Na boca é volumoso, envolvente, untuoso, complexo, com excelente acidez e mineralidade.
PVP: 180€
TINTOS
Joseph Drouhin Beaune-Grèves Premier Cru 2014
No aroma fruta vermelha, mineralidade, especiaria, cogumelos. Redondo e muito equilibrado no paladar, estrutura mediana, redondo e com boa acidez. Muito elegante e equilibrado. Termina persistente.
PVP: 70€
Joseph Drouhin Chambolle-Musigny Premier Cru 2011
Aroma intenso e complexo a lembrar violetas, cereja preta, terra molhada, folha de tabaco, resina, ligeira nota de couro. No paldara é sedoso, medianamente encorpado, com taninos redondos e elegantes. Final de boca com notas de especiaria.
PVP: 88€
Joseph Drouhin Echezeaux Grand Cru 2002
Frutos vermelhos, balsâmico, folha de chá, terra molhada e cogumelos no aroma, especiaria, notas de madeira. No paladar rico e complexo, envolvente, com fruta volumosa complementada por uma excelente acidez. Um vinho marcante, com madeira bem integrada, termina persistente e com notas de especiaria muito elegantes.
PVP: 235€
Joseph Drouhin Beaune Clos de Mouche 1993
É um premier cru complexo, clássico, saboroso, com uma frescura impressionante. O tinto revela aromas terciários de fruto seco, mas ainda se evidencia alguma fruta fresca e notas florais, minerais e balsâmicas. Um tinto ainda com muito para dar. Na boca complexidade e madeira bem integrada. Um tinto elegante que impressiona.
PVP: 335€
Joseph Drouhin Chambertain 1988
Este vinho foi apresentado sem rótulo, uma surpresa do produtor que decidiu colocá-lo à prova para confirmar uma vez mais a grande capacidade de envelhecimento da casta Pinot Noir, assim como a sua grande qualidade. Este vinho já não se produz e por isso não se vende. Revelou-se um grande vinho, complexo, pleno de aromas terciários de fruto seco, flores secas, folha de tabaco, cogumelo e balsâmico. Na boca revelou grande presença, complementado por uma grande acidez e elegância. Uma experiência provar estes vinhos velhos da Borgonha.