Esporão, What Else?
Produzidos pelo Esporão desde os anos 90, os monocastas Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Aragonez reflectem a identidade das diferentes castas nas suas vinhas de origem, resultando de um trabalho de pormenor na vinha e na adega. As novas colheitas de monocastas já foram lançadas (na foto), ao mesmo tempo que os Private Collection branco e tinto. Vinhos que continuam a convencer.
Sandra Alves, a directora de enologia do Esporão, sabe bem que tem nas mãos a enorme responsabilidade do trabalho contínuo do legado de qualidade daquele que é um dos produtores de referência a nível nacional. Um papel que lhe cabe como uma luva, não fosse ela uma enorme profissional, que conhece como a palma das mãos aquela terra, aquelas vinhas e aquelas uvas, sempre evidenciadas através de vinhos que respeitam o mais possível a natureza. Os clássicos do Esporão continuam por isso a convencer, já que o seu historial nunca foi descurado, antes pelo contrário, os investimentos na vinha e na adega têm sido sempre uma constante, ao longo dos anos.
Os novos monocastas aguardaram alguns anos nas caves da Herdade do Esporão, revelando agora a sua plenitude «O tempo e a experiência acumulada trouxeram-nos conhecimento e confiança para apostarmos naquilo que acreditamos que os tornam únicos – o longo tempo de estágio e a sua capacidade de guarda. Estes vinhos prometem permanecer neste patamar de qualidade por muitos mais anos», afirma Sandra Alves.
O Esporão Alicante Bouschet 2015 é intenso mas amaciado pela idade, sem deixar no entanto de revelar exuberantes aromas balsâmicos, como é hábito nesta casta. A Alicante Bouschet é uma casta tintureira de origem francesa, encorpada, concentrada e com um enorme potencial de envelhecimento. E neste vinho, revela-se através de 3 origens distintas, num ano especialmente propicio ao bom desempenho desta variedade. A sub-região de Reguengos de Monsaraz contribuiu com a intensidade, textura e concentração e a sub-região de Portalegre promoveu a sua vitalidade. Colhidas manualmente, as uvas foram vinificadas em cubas de betão com controlo de temperatura, 30% do lote estagia em balseiros de carvalho francês de 5000L e os restantes 70% em barricas de 500L. A última etapa na sua vinificação foi o estágio de seis anos na cave.
Já o Esporão Esporão Touriga Nacional 2015 revela-se um vinho intenso, equilibrado e com boa capacidade de evolução. Com origem numa das vinhas mais antigas desta casta no Alentejo, a vinha do Badeco (com mais de 30 anos na Herdade do Esporão) as uvas foram colhidas manualmente, vinificadas em lagares de mármore, com pisa a pé, seguindo-se uma fermentação maloláctica em cubas de betão, com controlo de temperatura. No aroma frutado e intenso, com algumas notas de café e tosta da madeira onde estagiou, sobressai ainda no paladar uma enorme intensidade, equilíbrio e persistência.
O último vinho da coleção de monocastas, o Esporão Aragonez 2016 é um vinho com uma grande elegância aromática, concentrado e com uma excelente capacidade de evolução. Vinificado na Adega dos Lagares, com fermentação em lagares de mármore, com pisa a pé, seguiu-se uma fermentação maloláctica em cubas de betão, com controlo de temperatura. Este Aragonez é intenso, estruturado e reflecte, de forma autêntica, a identidade da casta na sua vinha de origem, o Canto do Zé Cruz, uma das mais antigas na Herdade do Esporão. Para reforçar o seu potencial de guarda, à semelhança dos outros monocastas, estagiou em balseiros de 5000L de carvalho francês, com cinco anos de envelhecimento em garrafa.
Nos Private Selection branco 2020 e tinto 2016, também aqui encontramos o mesmo porto seguro: vinhos clássicos de de qualidade que nunca desiludem, revelando sempre uma crescente qualidade. O branco nasce em 2001 com o intuito de desafiar o perfil clássico dos grandes vinhos do Alentejo. Para tal, foi utilizada a casta Semillon, fermentada e maturada em barricas novas de carvalho francês, com o intuito de optimizar o seu potencial. A maturidade da vinha (20 anos) aliada à selecção cuidadosa dos fornecedores de barricas tem vindo a reforçar o registo sólido, rico e complexo deste vinho. As uvas chegam à adega durante a manhã, quando a temperatura está mais baixa, e são colocadas na prensa pneumática. Os ciclos de prensagem são longos com pressões baixas, que permitem extracções cuidadas para um mosto rico. A decantação é mais curta do que o habitual, o que ajuda a manter a complexidade do meio. A fermentação acontece em barricas novas de 550 litros de carvalho francês, numa cave com temperatura controlada a 18ºC. Sobre as borras de fermentação, acompanhado por batonnage, para proporcionar a integração entre a madeira e o vinho aumentando a sua cremosidade e profundidade. Após enchimento, permaneceu 6 meses em garrafa, durante os quais teve uma maturação controlada que promoveu a complexidade característica deste vinho. No aroma revela polpa branca e notas citrinas, com notas discretas da tosta da barrica, e alguma especiaria. No paladar é elegante mas com boa presença e persistente.
Já o tinto, lançado pela primeira vez em 1987 com o nome Garrafeira, foi inicialmente, produzido a partir das melhores barricas de Esporão Reserva. Hoje, resulta da combinação de parcelas únicas dos territórios onde o produtor tem vinhas no Alentejo. Um vinho que demonstra a diversidade e riqueza do Esporão. Elaborado com Alicante Bouschet, Aragonez, Touriga Franca, cada parcela foi vinificada e estagiada em separado de acordo com o potencial do perfil de cada casta e respetiva origem.
O Aragonez iniciou a fermentação alcoólica em lagares de mármore com pisa a pé e terminou em cubas de betão onde também realizou a fermentação malolática. Estágio em balseiros de carvalho francês de 5000 litros. A Touriga Franca fermentou em lagares de mármore com pisa a pé e estagiou em barricas de 500 litros de carvalho francês, onde também fez a fermentação malolática seguida de estágio. Ambas as parcelas da casta Alicante Bouchet fermentaram separadamente em cubas de betão e realizaram a fermentação malolática em barricas novas de carvalho francês de 500 litros, onde permaneceram em estágio. Ficou 18 meses em barricas/balseiros seguido de 2 anos em garrafa. No aroma é complexo, revelando fruta preta madura, notas de caca e especiaria. No paladar tem textura sedosa, é denso e firme, com a estrutura do tanino a conferir intensidade e persistência.
Vinhos especiais, restaurante especial
Aprova destes vinhos decorreu numa sala ao lado do restaurante do Esporão, seguida de almoço no já famoso espaço chefiado por Carlos Teixeira. Além da estrela Michelin, o Guia Michelin Espanha e Portugal 2022 atribuiu ao Restaurante da Herdade do Esporão uma estrela Michelin Verde, um reconhecimento feito aos restaurantes com práticas sustentáveis. A estrela Michelin Verde destaca o trabalho do restaurante com fornecedores locais, as suas práticas de desperdício zero e a eliminação do plástico e outros materiais não recicláveis.
Além dos vinhos, que podem ser degustados no restaurante (ou comprados na loja de enoturismo do Esporão) o restaurante da Herdade do Esporão utiliza nos seus menus produtos de uma extensa área de horta, produção animal própria, bem como uma área de floresta protegida, de onde recolhem produtos silvestres. A compostagem, a redução na utilização de plásticos e papel e a cozinha direccionada para o desperdício zero, são outras das práticas e compromissos que o restaurante assume.
Com 14 anos, Carlos Teixeira, iniciou o seu percurso em cozinha entrando na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, durante o qual fez dois estágios. Após terminar o curso ingressou na Licenciatura de Produção Alimentar em Restauração na ESHTE, onde teve a oportunidade de estagiar com Henrique Mouro, no Restaurante Assinatura e, no último ano, no Hotel Claris (5 estrelas), em Barcelona. Terminada a Licenciatura, começou a trabalhar no Grémio Literário e posteriormente na Rota das Sedas, em Lisboa. Em 2014 mudou-se para Londres onde trabalhou durante um ano e estagiou no Clove Club (1 estrela Michelin). De volta a Portugal vem trabalhar para o Restaurante Herdade do Esporão, onde passou 2 anos como Sous-chef e em 2018 é convidado a assumir a liderança da cozinha. Em 2019 Carlos estagiou no Nolla na Finlândia, referência mundial em zero waste, e no ano seguinte estagiou no Blue Hill, restaurante farm to table em Stone Barns, reconhecido mundialmente pelas suas práticas eco-friendly e low-waste e com duas estrelas Michelin.