Fladgate Partnership declara Vintages 2017
A emblemática empresa de vinho do Porto não teve dúvidas em declarar vintage em 2017. O ano reuniu as condições ideais para a sua produção.
Este ano, por diversos afazeres profissionais, acabei por não estar presente em provas de duas emblemáticas empresas de vinho do Porto que declararam 2017 ano Vintage. Uma delas - A The Fladgate Partnership - conseguiu arranjar uma segunda data, e lá fui eu provar os vintages das marcas Taylor’s, Fonseca, Croft e Krohn, acrescidas de dois engarrafamentos de vinhas velhas, e ainda por cima tendo o enólogo David Guimaraens presente para me contar histórias incríveis como, aliás, sempre faz.
Para quem não sabe, os vintages são a categoria mais alta do vinho do Porto, na família Ruby, por essa razão não saem sempre, apenas em anos em que as empresas produtoras consideram excepcionais. Estes, vão estar disponíveis muito em breve, sendo esta a sétima declaração que a The Fladgate Partnership faz este século, depois das dos anos 2000, 2003, 2007, 2009, 2011 e 2016. Segundo David, 2017 foi um grande ano. Reuniu as condições ideais, visto que foi incrivelmente seco, precoce no abrolhamento e adiantado pelo menos três semanas na vegetação, fazendo com que a vindima tenha começado mais cedo. Os baixos rendimentos da videira acabaram por resultar em mostos densos, com um equilíbrio notável. Segundo David, que andou a investigar nos antigos relatórios de vindima, a última vez que houve condições idênticas foi em 1945, ano de uvas maduras e películas bem espessas, que resultaram em vinhos lendários, estruturados, profundos e muito aromáticos.
Uma das partes mais interessantes da prova de vinhos do Porto é que cada casa trabalha geralmente com diferentes marcas e, cada uma delas, com diferentes estilos, daí ser muito interessante percebermos as suas características e diferenças. Mas, apesar das diferenças entre si, os vintages 2017 provados - Taylor’s, Taylor’s Vargellas Vinha Velha, Fonseca, Croft, Croft Quinta da Roêda Serikos e Krohn – têm algumas coisas em comum, que marcam uma qualidade linear: todas as uvas foram pisadas a pé, em lagares de granito; a variável de engaço manteve-se igual ao longo dos anos (100%) e a aguardente é sempre de excelente qualidade, neutra e proveniente de diversas origens na Europa.
Todos eles, de algum modo, sobressaíram. O perfil do Taylors é sem dúvida marcante, com o seu tanino seco, muito definido e equilibrado, mas o Taylors Vargellas Vinha Velha evidenciou-se muito mais, sendo um vintage raro elaborado a partir das vinhas mais antigas da Quinta de Vargellas. Um vinho que, até hoje, só foi lançado oito vezes e em quantidades muito limitadas. É um vinho denso e profundo retinto, encorpado e envolvente, com tudo no lugar. Um vinho que também é perfeito para colecionadores que gostam de adquirir estas raridades como investimento.
Também a Crof lançou o seu vintage, de estilo mais austero e herbáceo, e outro Croft , o primeiro a ser produzido com as uvas das vinhas velhas da Roêda, baptizado de Serikos, palavra grega que significa seda. Um vinho igualmente poderoso, exuberante na fruta e muito sedoso (daí o nome). Recorde-se, já agora, que a Roêda possui uma das vinhas mais extensas e bem preservadas de vinhas velhas do vale do douro, plantadas no início do século XIX.
Por último, os vintages das marcas Fonseca e Krohn. O primeiro é um vinho que se mastiga, marcado pelo terroir do Pinhão e pela Quinta do Panascal. Frutado, complexo, terroso, gordo, guloso e sedutor. Já o Krohn, elaborado com uvas da Quinta do Retiro Novo revela-se frutado mas também austero, evidenciando-se um ligeiro amargo de boca com especiaria. Esta é provavelmente a marca mais ‘esquecida’ da Fladgate Partnership, mas injustamente, pois em prova comporta-se quase sempre de forma muito equilibrada.