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Happy Birthday Falua!

São três décadas de história, com uma forte ligação ao Tejo e um foco direccionado à famosa Vinha do Convento e à sustentabilidade. Antonina Barbosa, CEO da Falua, apresentou vinhos emblemáticos e reforçou a aposta em inovação, qualidade e diferenciação para enfrentar os desafios do futuro.

A Falua, que se afirmou como um dos produtores de qualidade do sector vitivinícola português, comemorou recentemente os seus 30 anos de história num evento em Almeirim, local onde foi fundada em 1994, e que representa o coração da marca. A diretora e enóloga Antonina Barbosa conduziu o evento, onde os convidados puderam conhecer o passado da empresa, mas também os passos que se pretendem dar no futuro do projeto que, segundo afirma, «renasceu em 2017 com a compra da empresa pelo grupo Roullier».

Para a Falua, «o Tejo e Almeirim têm uma importância muito especial», destacou Antonina. «Temos investido fortemente, especialmente na Vinha do Convento, uma vinha única de calhau rolado. Esta especificidade dá aos nossos vinhos uma identidade muito própria, que queremos manter e reforçar». De facto, trata-se de uma vinha rara. Implantada em chão de calhau rolado, é o testemunho vivo de que por ali passou o rio Tejo há mais de 400 mil anos. Estudos realizados na vinha revelam que este calhau é o principal elemento até quatro metros de profundidade, continuando depois até aos 12 metros a coexistir com o solo de Charneca (arenoso). Uma vinha mais comum de encontrar em França, por exemplo, na região do Vallée du Rhône, em Châteauneuf-du-Pape. Este tipo de solo, chamado de ‘galets roulés’, são nada mais do que pedras grandes e arredondadas (Seixos) que ajudam a reter o calor durante o dia e a libertá-lo à noite, favorecendo a maturação das uvas. Esse efeito térmico contribui para uma maior concentração de açúcares, maior acidez das uvas e complexidade nos vinhos. Por outro lado, estes solos de calhau rolado contribuem também para um bom sistema de drenagem, o que é bom para as plantas. Nesta vinha da Falua, plantada em 1996 e com 45 hectares, as castas são, na sua maioria, Arinto, Chardonnay e Fernão Pires, às quais se juntam as tintas Touriga Nacional, Castelão, Aragonês, Cabernet Sauvignon e Trincadeira Preta.

Além desta vinha especial, a Falua tem adquirido nos últimos anos mais área de vinha (80 hectares) e ampliado as suas instalações, assim como investido a longo prazo na área da  viticultura e do desenvolvimento sustentável. Antonina Barbosa afirmou ainda que o objetivo da Falua no futuro é diferenciar-se, focando-se em vinhos com carácter e qualidade consistente. «O futuro faz-se todos os dias, e nós queremos construí-lo com diferenciação e qualidade. Acreditamos que os consumidores procuram cada vez mais autenticidade e vinhos com identidade». E adiantou ainda: «A sustentabilidade e as alterações climáticas são desafios centrais e a Falua está a adaptar as suas práticas de viticultura para responder a essas exigências, estando prevista a exploração de parcelas, a produção de mais edições limitadas e uma abordagem orientada para a mínima intervenção, onde os vinhos falam por si, mostrando o trabalho feito na vinha».

Vinha do Convento

Entre os vinhos apresentados durante o evento, destacou-se o lançamento do Conde de Vimioso Edição Comemorativa 30 anos, um tinto de 2005, com 17 anos de estágio, numa edição limitada de 1877 garrafas Magnum, que revela a filosofia da Falua de continuar a produzir vinhos complexos e longevos. «2005 foi um ano espetacular, marcado pela decisão de combinar todas as castas da vinha do Convento (Touriga Nacional, Castelão, Aragonês, Cabernet Sauvignon e Trincadeira Preta) para fazer este vinho, que teve vindima manual com seleção das melhores uvas ainda na vinha», revela Antonina Barbosa, adiantando ainda que as uvas foram resfriadas depois na adega a 5ºC antes de passarem pelo desengace total. Após a primeira fermentação com uma maceração longa e a maloláctica, em inox, os melhores lotes foram transferidos para barricas novas de diferentes tanoarias e tostas, onde estagiaram por dois anos. No final, as melhores barricas de cada casta foram escolhidas para compor o vinho final. Este trabalho na adega deu origem a um vinho encorpado, com notas minerais e de fruta preta, mas também de tabaco e especiaria (muito próprias da casta Cabernet Sauvignon), e da madeira onde estagiou. No paladar é complexo, fresco e elegante, com final longo e persistente.

Recorde-se que o grupo Roullier tem internacionalmente um volume de negócios consolidado de 3 mil milhões de euros. As suas actividades são muito diversificadas, e passam pelas áreas da nutrição dos solos, plantas, animais e agroalimentar. Com 109 unidades industriais espalhadas pelo mundo, o grupo aposta na inovação e melhoria contínua para progredir.

O interesse na Falua surgiu com a ideia de criar uma porta de entrada para o mercado global de vinhos. Hoje, a empresa possui um portfólio sólido e tem-se expandido. Além da propriedade em Almeirim, onde tudo começou, investiu também na região dos Vinhos Verdes em 2020, com a compra da Quinta do Hospital e, mais recentemente, (2023) adquiriu a Quinta de São José, no Douro. Estes investimentos revelam o interesse em terroirs diferenciados que produzem vinhos de qualidade capazes de consolidar a presença da empresa em mercados estratégicos, como Inglaterra, Polónia, Brasil, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul.