Henrique Garcia – Perdido por tintos
Apesar de se ter retirado dos écrans em 2018, Henrique Garcia é uma das caras nacionais mais conhecidas. Jornalista incontornável da rádio e da televisão, foi rosto das notícias da RTP e, mais recentemente, da TVI. É um grande apreciador de comida tradicional portuguesa e de tintos que lhe encham as medidas. No entanto, não recusa outros estilos e gosta de embarcar em novas experiências.
Nem todos nascem numa família onde se cozinha bem, mas Henrique Garcia teve essa sorte. A mãe, de Lisboa mas com costela transmontana, fazia cozinha portuguesa como ninguém. Da sua mesa fazia parte a sopa de feijão encarnado, a dobrada com feijão branco, as favas guisadas, o grão cozido com bacalhau, as iscas, a mioleira com ovos mexidos e muitos mais pratos de fazer crescer água na boca. No peixe, as suas preferências iam para o peixe espada, o pargo no forno, o salmonete, as lulas recheadas e o marisco. Até nos pratos de caça era um felizardo já que, sendo o pai caçador, trazia para casa perdizes, rôlas e passarinhos. E, claro, não faltava também à mesa «a maravilhosa bôla transmontana, embebida pela gordura das carnes e enchidos, que lhe dão aquele sabor especial». Comia o que lhe punham à frente, mas as sopas (fora a de feijão encarnado) era um suplício comê-las. «Nunca gostei de sopas, detesto nabos, couves, legumes verdes, essas coisas», confessa. No entanto, não passa sem tomate, alho e cebola. E o azeite. «Chegava a bebê-lo num copo».
Coisa que também não faltava às refeições era o vinho. Havia branco, mas na maioria das vezes era o tinto que marcava presença e, talvez por isso, ainda seja o estilo que prefere. Começou a saboreá-lo quando era ainda adolescente, pelos quinze anos, mas foi gradualmente evoluindo no paladar, principalmente quando começou a trabalhar como jornalista e a sair para jantar fora com os colegas e amigos. «Bebia com regularidade, por isso foi um processo gradual. Gosto mais de tintos, é verdade, mas vou começando a apreciar cada vez mais vinhos brancos. Já passei também uma fase de rosés e, claro, vinho do Porto. Já bebi mais, actualmente nem por isso. Mas sempre que tenho oportunidade e companhia bebo». Curiosa é também a sua preferência pelo verde tinto, nem sempre consensual entre os consumidores. «Gosto muito, acompanhado de gastronomia regional, claro».
Apesar de apreciar vinhos de várias regiões, sente-se mais atraído pelo Douro, Alentejo e Bairrada. Mesmo assim, tem vindo a descobrir outras regiões que o têm surpreendido. «O nosso país é muito rico, tem uma diversidade incrível e, além disso, o nível de qualidade aumentou muito. Hoje faz-se bom vinho em todo lado, até mesmo no Algarve, por exemplo». Por essa mesma razão, fica confundido quando vê a oferta nas superfícies comerciais: «São milhares de vinhos. Ainda por cima, detesto supermercados, estão sempre a mudar os produtos nas prateleiras, incluindo o vinho» (risos). Remata: «Mais depressa compro um vinho através da sugestão de um amigo, do que alguma coisa que me impinjam em supermercados ou mesmo em garrafeiras».
Em casa tem as garrafas de vinho guardadas numa cave onde a temperatura é húmida e constante. Dá também atenção aos copos e às temperaturas. E acha piada a alguns apetrechos do vinho. No entanto, não é fanático. «Para mim o vinho é, acima de tudo, prazer. Gosto muito de chegar a casa e ir bebendo um vinho antes do jantar, para descontrair. Depois, o gozo de um vinho depende muito de vários factores. Das circunstâncias, do ambiente que nos rodeia, do nosso estado de alma, da companhia, do que estamos a comer… ».
BIOGRAFIA
Nascido em Lisboa em Fevereiro de 1948, Henrique Garcia frequentou o Liceu Camões, a Faculdade de Ciências e o Instituto Superior Técnico (IST). Participou em cursos de fotografia, cinema e de teatro. Em 1974 ingressou na Emissora Nacional e desligou-se da Engenharia Mecânica. Passou pela Antena 1 e Rádio Comercial, onde coordenou programas como ‘O ovo de Colmbo’ e a ‘Maçã de Adão’. Em 1979, juntou à rádio, a televisão e passou a fazer parte da redacção da RTP 2. Em 1986, foi um dos fundadores de uma emissora privada, a Rádio Geste, de Lisboa (96.6 FM). A experiência durou sete anos. Em finais de Setembro de 2000, abandonou a RTP e foi trabalhar para a TVI, de onde saiu em 2018.