Leitura obrigatória
O Códice de Sabores Português destaca o papel fundamental que teve Maria Emília Cancella de Abreu, mentora da cozinha portuguesa e pioneira da revista Banquete, e dá a conhecer a primeira grande recolha do receituário gastronómico português.
Numa época em que nascem chefes de cozinha como cogumelos, este é um livro que deve ser leitura obrigatória para perceber um pouco mais sobre a história da gastronomia portuguesa e as personalidades marcantes da época. Neste caso, o foco direcciona-se a Maria Emília Cancella de Abreu, figura incontornável da cultura gastronómica portuguesa e um dos seus fundamentais alicerces, além de fundadora da revista Banquete, que divulgou e promoveu a história da alimentação em Portugal, numa época histórica decisiva, os anos 60 e o Estado Novo.
Numa época em que identidade da cozinha portuguesa foi relegada para segundo plano, Maria Emília Cancella de Abreu não só relançou o nacionalismo aplicado à nossa gastronomia como desempenhou um papel decisivo e político na sua reabilitação. A si se deve ainda o desenho do nosso primeiro eclético códice de sabores.
Do vasto curriculum de Maria Emília Cancella de Abreu consta ainda o facto de ter sido ainda Vice-Presidente da Federação Internacional da Imprensa Gastronómica e Vinícola; e de ter organizado em Portugal por duas vezes o Congresso Internacional de Escritores e Jornalistas Gastronómicos; além de ter sido membro de diversas confrarias e júri de diversos concursos gastronómicos e vínicos. Publicou ainda diversas reportagens nos mais importantes jornais e revistas da sua época, e foi distinguida ‘Personalidade do Ano’ pela Organização Francesa Personalité de l’Anné. Esta obra é, assim, uma merecida homenagem a uma figura emblemática da nossa gastronomia. Ao mesmo tempo, dá a conhecer um retrato político, social e económico de Portugal numa fase de grandes mudanças no turismo, hotelaria e restauração, curiosamente um fenómeno tão similar aos dias de hoje.
Editado pela PrimeBooks e escrito pela jornalista Fátima Iken, este livro encontra-se dividido em vários capítulos que focam bem a realidade da época. Fora o papel que a revista e Maria
Emília tiveram na sua época, o livro aborda questões como a hotelaria e os chefes de cozinha, o papel que a revista teve no sector do turismo ou a defesa do produto DOC. No final, são apresentadas mais de 200 receitas, entre as quais sopas e açordas; Peixes, moluscos e mariscos; Bacalhau; Arroz; Leguminosas e legumes; Carne e Aves; Caça; Salgados; Doces e ainda uma parte dedicada à cozinha das Ex-colónias.
Este livro torna-se ainda mais interessante quando sabemos que quem o escreveu é uma jornalista respeitada, habituada às lides gastronómicas e à investigação necessária na elaboração de um livro que já se está a tornar uma referência. Fátima Iken é jornalista especializada em enogastronomia e dedica-se em paralelo a estudar a identidade e a história do património alimentar português. Foi directora do jornal ‘Comércio do Porto’, colaboradora das revistas ‘Visão Viagens’, ‘Notícias Magazine’, ‘Jornal Expresso’, ‘Cuisine et Vins’, ‘Wine Essência do Vinho’ e, actualmente, da ‘Revista de Vinhos’, na qual escreve sobre gastronomia, produtos autóctones artesanais portugueses, tradições e paisagens alimentares. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, Mestre em História da Alimentação e a um passo do doutoramento em 'Patrimónios Alimentares: Culturas e Identidades', é ainda autora de agendas culturais, guias e artigos sobre vinhos e viagens gastronómicas.