Artigos

Martim Cabral – Vida de ‘bon vivant’

Martim Cabral foi apanhado desprevenido. Não percebia nada de restaurantes nem de hotéis, mas foi dele que se lembraram para entrar no programa ‘Ir é o Melhor Remédio’, em parceria com uma colega, a jornalista Teresa Conceição. Foi assim que começou a descobrir alguns dos melhores prazeres da vida. Desde então, já não quer outra coisa.

Martim Cabral é uma cara bem conhecida dos écrans. Reconhecido jornalista português e ex-sub-director da SIC, fez um programa durante cinco anos que destacou o que de melhor há em Portugal na área de hotelaria, restaurantes e produtores de vinho.

Quem o vê na televisão a dissertar sobre estes lugares, tudo locais de topo, imaginará com certeza que o jornalista nasceu no meio de iguarias divinas que lhe aprimoraram o paladar. Mas não, antes pelo contrário. À conta do pai, que foi convidado para representar e gerir alguns negócios de empresários portugueses nos EUA, toda a família emigrou, e durante muitos anos Martim alimentou-se de hambúrgueres, salsichas e batatas fritas. Escapavam desta dieta pouco saudável os cozinhados da mãe e da Rosalina, uma empregada minhota que com eles emigrou, que fazia bons pratos de cozinha tradicional portuguesa. «Quem nasce naquilo habitua-se, e a verdade é que naquela altura eu não ligava nenhuma a comida. Não me importava nada de comer salsichas e hambúrgueres todos os dias... Entretanto mais tarde aprendi a gostar de outras coisas, mas confesso que ainda gosto de comer esse tipo de comida para matar saudades!» (risos).  

Só aos 16 anos, altura em que regressou a Portugal, se recorda «daquela comida de todos os dias, esparguete com croquetes ou com molho branco, bacalhau à Gomes de Sá, bacalhau com grão ou rolo de carne», este último, um dos seus favoritos. «Há também um prato que comi na casa de uma tia minha, no Alentejo, que nunca mais me esqueci: sangue de galinha frito. Ia ao lume e ficava parecido com um bife muito fininho, uma delícia!», remata. Já nos doces, era perdido por bolos de pastelaria, um ‘vício’ que com a idade foi deixando para trás e agora já nem lhe apetece. Quanto aos pratos que não gosta, não lhe deem mãozinha de vaca, orelhas de porco, pezinhos de coentrada ou tutano, entre outras coisas do mesmo género. «Não gosto nem nunca gostarei desse estilo de pratos! Aquilo é tudo muito viscoso, fica colado na boca, não consigo mesmo, arghh!» (risos).

Entretanto, já adulto, continuou a não prestar muita atenção à comida, já que enquanto jornalista da área internacional andava sempre a viajar entre Portugal e Inglaterra, país onde viveu, trabalhou e casou, e onde a comida também não era nada de especial. Curiosamente, o verdadeiro gosto pela comida e pelos vinhos surge com o programa ‘Ir é o Mehor Remédio». «Antes de casar, só investia em comida mais cuidada quando queria conquistar uma miúda e a levava a jantar a um restaurante mais caro» (risos). Foi a minha ida para o programa que me abriu os olhos, tanto ao nível da comida como dos vinhos. Antes, só bebia cerveja e outras bebidas. Agora larguei tudo e só bebo vinho!», explica.

A oportunidade de entrar no programa surgiu quando um dia Alcides Vieira – na época director de informação da SIC - entra-lhe no gabinete com a Teresa Conceição e faz-lhe a proposta. «Achei a ideia absurda, disse-lhe que não percebia nada dessas áreas. Mas ele lá acabou por me convencer quando me disse que eu ia só trabalhar para lugares de topo, super luxuosos!» (risos).  


BIOGRAFIA

Nasceu em Lisboa (1952) mas começou a viajar cedo. Dos 9 aos 16 anos viveu nos EUA, terminando o secundário já em Portugal. Mais tarde, estudou Economia na universidade mas interrompeu, devido ao 25 de Abril. Foi então estudar para Londres, onde entretanto lhe surgiu a oportunidade de trabalhar na BBC, ocupando vários cargos até 1992, altura em que Francisco Pinto Balsemão o convida a vir trabalhar para a SIC, como editor internacional. Passado um tempo, voltou a trabalhar na BBC mais 3 anos, mas foi na SIC que ficou de forma definitiva, tendo chegado a sub-director de informação do canal. Como repórter co-apresentou ainda, com Nuno Rogeiro, o programa ‘Sociedade das Nações’; e de 2010 a 2016, a rubrica ‘Ir é o Melhor Remédio’ com a jornalista Teresa Conceição,um programa onde dá a conhecer os melhores hotéis e restaurantes em Portugal. Após a sua saída da SIC, continua a ser um bom garfo e a surgir em rubricas pontuais de gastronomia nesta estação.