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Mulheres ao poder

Há projectos de garra a dar cartas na Madeira, na produção de vinho generoso e de mesa liderados por mãos femininas que prometem surpreender apreciadores de paladar exigente.  

Quem conhece a Cooperativa Agrícola do Funchal (CAF), fundada em 1951, sabe que ali pode encontrar de tudo um pouco, desde fertilizantes até máquinas para agricultura. No entanto, faltava ainda desenvolver a área da vitivinicultura, uma das principais actividades da ilha, um investimento que acabou por acontecer em 2012, com a realização da primeira vindima e a produção de um primeiro vinho fortificado, elaborado numa adega arrendada. Em 2013, já em instalações próprias, a CAF começou a gerir directamente as vinhas dos seus fornecedores, de forma a obter uvas de melhor qualidade. É assim que, ainda nesse ano, surge a Madeira Vintners, com a primeira colheita oficial a ser lançada três anos depois.

Além de ser a mais recente empresa de vinhos Madeira, a Madeira vintners destaca-se também por ser constituída por uma equipa exclusivamente feminina.  Desde o acompanhamento dos viticultores, ao aconselhamento técnico, ao processo de controlo e selecção, produção e comercialização, todo o trabalho é realizado mulheres. A enóloga, Regina Pereira, entrou no projecto em 2015 e revela bem o orgulho que sente nesta equipa «onde todas se entregam de corpo e alma e nenhum pormenor é esquecido». Segundo nos explica ainda, outra característica diferenciadora destes vinhos, é serem menos alcoólicos (têm 17 graus ) em relação aos de outras empresas de vinho Madeira (sempre acima dos 19º graus), «procurando assim dar a conhecer vinhos de maior elegância e frescura». A aventura ainda mal começou e os primeiros vinhos já foram premiados em concursos internacionais, em Espanha e França. Regina Pereira é madeirense mas tirou o curso de engenharia agrícola em Évora, tendo trabalhado no continente com o enólogo Paulo Laureano em diversos projectos, e no Funchal, na Madeira Wine Company, e na Adega de São Vicente. Para ela, este já é um projecto de sucesso, mas ainda com muito para mostrar.

Diana Silva, criadora dos vinhos Ilha

Quem também está a dar nas vistas é Diana Silva, uma jovem produtora de vinhos de 33 anos (a mais nova da ilha) formada em turismo mas com experiência profissional no sector vitivinícola adquirida ao lado de produtores como a José Maria da Fonseca, Rui Reboredo Madeira, Paulo Laureano Vinus ou Madeira Wine Company.  Sem tradições familiares nessa área, mas sendo uma apaixonada por vinhos, decidiu investir tudo o que tinha neste projecto. Para isso, fez parcerias com viticultores de São Vicente, uma freguesia a norte da ilha onde as uvas têm excelentes condições para se desenvolver, e passou a gerir essas vinhas no intuito de comprar matéria prima de alta qualidade. A aposta é na Tinta Negra, uma casta desdenhada no passado por ser muito utilizada na produção de vinhos da Madeira de base, mas que hoje está a dar cartas, já que tem um grande potencial e é muito versátil. Além disso, Diana tem a originalidade de produzir vinhos de mesa, algo inédito na ilha, já que os restantes produtores deste estilo de vinhos adoptaram algumas das mais conhecidas castas francesas e portuguesas. Assim nasceram os vinhos da marca ilha: um tinto de tinta negra, um rosé e um ‘blanc de noirs’ (um branco de tinta), vinhos salinos, frescos e distintos.

Para Diana, este é o seu projecto de vida, «são vinhos de paixão, de nicho, que não se preocupam com regras de mercado». Vinhos de produção limitada (são produzidas entre 3500 a 4000 garrafas de cada vinho) que já estão a marcar presença em garrafeiras e restaurantes selecionados e a surpreender pela diferença.