Nivelar por cima os vinhos do Dão
Rui Parente, proprietário da Quinta Dona Sancha, em Silgueiros, decidiu dedicar-se à produção de vinhos em 2018, um projecto que se destaca pela qualidade, e que já ganhou asas. Apresentou recentemente as novas colheitas e alargou a sua oferta a mais dois vinhos monovarietais e um Clarete.
Quinta Dona Sancha Cerceal-Branco 2020 e Quinta Dona Sancha Tinta Pinheira 2019 são as novidades da Quinta Dona Sancha, assim como o Vinha da Avarenta Clarete 2021, um blend produzido com castas da região. Estas foram as surpresas apresentadas num almoço onde também estiveram presentes as segundas edições dos vinhos do produtor: as colheitas de 2020 do Dona Sancha Tinto, Quinta Dona Sancha Encruzado, Vinha da Avarenta Branco e Tinto, e as colheitas de 2021 Dona Sancha Branco e Rosé (segmento base).
Rui Parente, o produtor, não disfarça o orgulho nos novos lançamentos, já que é o «culminar de um meticuloso período de trabalho e planeamento, a concretização de uma de tantas metas que temos desenhadas desde o berço deste projeto». Manter e preservar as particularidades da sub-Região de Silgueiros, aproveitando os recursos de forma sustentável, sem nunca descurar o peso do património histórico e natural, respeitando-o é o seu objectivo.
A sua história é igual à de tantos portugueses, já que pertence a uma família de produtores (os pais vendiam uva para grandes empresas). Mais tarde, quando veio para Lisboa, trabalhou nas Caves Velhas, mas acabou por regressar à terra Natal e, em 2011, fundou em Viseu aquela que é uma das garrafeiras de referência da região (com um portefolio com mais de 5000 referências disponíveis, entre vinhos e espirituosos). Não é por isso de estranhar que a ideia de produzir o seu próprio vinho lhe fosse indiferente. Sendo dinâmico e trabalhador, rapidamente passou da acção à prática mal encontrou a propriedade perfeita para concretizar o sonho.
Localizada em Silgueiros, a cerca de 12km de Viseu, a Quinta Dona Sancha tem 47 hectares de vinhas, e encontra-se rodeada de pinheiros, carvalhos, pomares de macieiras e limoeiros, e o rio Dão no seu estado mais puro a servir de moldura. O nome da quinta remete a Dona Sancha Gonçalves, figura emblemática na história de Silgueiros que, em 1186, durante o reinado de D. Sancho I, instituiu o padroado de Santa Maria de Silgueiros. Sendo uma grande proprietária da região, Dona Sancha dotou o lugar de Silgueiros com terras e vinhas para cultivo agrícola, impulsionando a fixação da população na região, assim como o desenvolvimento do território.
Paulo Nunes e Mafalda Perdigão (na foto de entrada, a ladear o produtor) são os enólogos responsáveis pela produção de vinhos, sendo que a identidade dos mesmos, segundo afirmam, «nasce da importância do estudo prévio daquilo que são os registos de plantas outrora predominantes nesta região e da aplicação de um modelo de viticultura que teve sucesso no seu tempo, transportando-o, à luz da ciência, aos dias de hoje».
Enquanto as novas colheitas dos vinhos já existentes se destacaram pela evidente consistência, o foco desta vez virou-se para as novidades. Começando pelo Quinta Dona Sancha Cerceal-Branco 2020, 50% do lote estagiou 6 meses em barricas de carvalho francês de 500 litros. O seu aroma é discreto, com notas de fruta branca madura e madeira bem integrada e no paladar revela-se complexo, com acidez bem presente, untuoso, final longo e persistente.
Da gama de reservas e com grande potencial gastronómico – aliás, como as restantes novidades - o Vinha da Avarenta Clarete 2021 é produzido com as castas Touriga Nacional, Jaen, Tinta Pinheira, Alfrocheiro e Baga. Revela aroma expressivo com notas de fruta vermelha. Na boca evidencia acidez bem presente e taninos finos.
Por último , o Quinta Dona Sancha Tinta Pinheira 2019, elaborado a partir de uma casta dominante na região há 5 décadas, e agora proveniente de vinhas reconvertidas pelos enólogos Paulo Nunes e Mafalda Perdigão. Resultou num vinho intenso, com aroma floral a violeta e paladar fresco, com acidez bem presente e taninos sedosos.