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Novas colheitas, enófilos felizes

São mais de duas décadas anos de trabalho árduo para construir uma marca que hoje é uma referência na região do Douro. Jorge Serôdio Borges e Sandra Tavares são a dupla de enólogos responsáveis pela Wine & Soul, um projecto direcionado a paladares mais exigentes. Recentemente, apresentaram as novas colheitas da sua gama de vinhos.

Quando em 2001 Sandra Tavares da Silva e Jorge Serôdio Borges compraram vinhas velhas no Douro, junto ao rio Pinhão, nos socalcos de Vale Mendiz, sabiam desde o início que tinha de ser um projecto baseado na produção de vinhos de grande qualidade. A ideia era conseguir expressar o carácter das vinhas e castas indígenas da região, procurando o equilíbrio dos seus elementos. A aposta foi ganha. Jorge e Sandra, parceiros na vida e na profissão, conseguiram não só produzir os desejados vinhos, mas também passar a mensagem de forma eficaz,  ao ponto de serem reconhecidos pela sua qualidade a nível nacional mas também internacional. Além disso, fora os prémios já alcançados pela dupla de enólogos, em Novembro de 2020, Jancis Robinson, conceituada jornalista e crítica de vinhos do jornal britânico Finantial Times, incluiu Sandra Tavares na lista das 24 enólogas que mais admira a nível mundial. Tudo a jogar a favor e dar foco ao sucesso do projecto.

Durante o lançamento das novas colheitas foram apresentados os vinhos Vinha do Altar e Guru  (ambos brancos, da colheita de 2021), o Pintas Character e o Pintas (tintos, da colheita de 2020) e os Portos Manoella Tawny 20 anos e Vintage 2020.


Começando pelos brancos, as uvas das castas Viosinho, Gouveio e Arinto do Vinha do Altar vieram do planalto de Fermentões, a 600 metros de altitude e exposição Norte, o que lhes confere maior frescura. Após a vindima, as uvas foram seleccionadas, desengaçadas e levemente prensadas. A fermentação fez-se depois a baixa temperatura e o estágio sobre as borras durante 6 meses. Resultou num branco de aroma citrino e mineral; com paladar seco, fresco e crocante, já com alguma presença. No entanto, é o seu ‘irmão mais velho’, o Guru, a dar cartas mais sólidas. De aroma floral, citrino e mineral, teve o mesmo tratamento que o ‘irmão mais novo’ mas a sua fermentação decorreu em barricas de carvalho Francês durante 4 semanas a baixas temperaturas, tendo estagiado nas mesmas barricas durante 8 meses com bâttonage. Elaborado com as castas Rabigato, Códega do Larinho, Viosinho e Gouveio é um branco encorpado, untuoso, sedutor. Muito longo na prova, com boa textura e excelente final de boca.

Nos tintos, o Character  2020 é elaborado com uvas de Vinhas velhas, onde existem cerca de 30 castas autóctones. As uvas devidamente seleccionadas e parcialmente desengaçadas, fermentaram em lagar com pisa a pé durante 10 dias. O estágio e fermentação maloláctica decorreu em barricas de carvalho francês durante 18 meses. No nariz revela fruta fresca e especiaria, e no paladar tem boa textura e concentração. Tal como acontece com os vinhos anteriores, também aqui existe um ‘irmão mais velho’. É o Pintas de 2020, que inclui na sua composição uvas de uma parcela única com 89 anos, com cerca de 40 castas autóctones do Douro. As uvas devidamente selecionadas e desengaçadas fermentaram em lagar com pisa a pé durante 10 dias. O estágio e fermentação maloláctica decorreu em barricas de carvalho francês durante 20 meses. Complexo, sofisticado e com uma estrutura de respeito, é um vinho muito rico que revela bem a genuinidade do Douro com as sua notas de frutos vermelhos, minerais e de especiaria. Na boca é concentrado e elegante com taninos perfeitos, fruta bem presente e final muito longo. Um vinho muito fino e de grande nível.  

Por último, os portos. «Temos vindo a crescer e queremos dar a mesma atenção aos Portos que damos aos vinhos de mesa. Vamos lançar em breve o colheita e, dentro do perfil, queremos que mantenha a identidade, profundidade, sabor e frescura que caracterizam estes portos pela sua ‘drinkability’, sobretudo no que diz respeito aos tawnies», explica Jorge Serôdio Borges. Mas enquanto não lançam o dito colheita, este tawny da Manoella datado de 20 anos já faz as honras da casa, produzido com mais de 30 castas indígenas provenientes de vinhas velhas e estagiado em cascos antigos de castanho português durante 20 anos. No aroma revela evidente fruto seco, associado a notas de mel e figos. Na boca é extremamente rico de sabores e com um final muito longo. «É uma novidade, engarrafámos uma pequena quantidade, à volta de 2.100 garrafas, o objectivo é ir vendendo e engarrafando», explica o enólogo. «A Quinta da Manoella sempre produziu tawnies com grande frescura e longevidade. Não é demasiado doce mas também não pode ser austero, tem de ter alguma expressão mas não excessivo, tem de ser elegante», completa Sandra Tavares da Silva.

Já no Pintas Porto Vintage 2020, as notas aromáticas remetem  para os frutos vermelhos, com notas frescas de amora, cassis e violetas a sobressair. Na boca predominam taninos tensos e definidos, excelente concentração e frescura, com fruta bem madura. Proveniente de uvas de vinhas velhas onde existem mais de 40 castas autóctones da região, foi uma bela forma de terminar esta prova de novas colheitas da reconhecida dupla de enólogos.