O Ano Novo e pessoas que me fazem falta

Serve este artigo para vos desejar um excelente ano e dizer que em 2023 espero mais paz, novas conquistas, mais tempo para estar com a família e amigos, e ainda a descoberta de bons vinhos, claro. Mas também serve para relembrar pessoas que cá não estão e que já me fazem muita falta.
Este ano foram-se embora três pessoas que me diziam muito. Todos eles mais velhos, mestres nas suas áreas e grandes amigos. No meio desta vida estúpida que faz o tempo correr demasiado depressa e nos leva as pessoas de quem gostamos, não consegui homenageá-los como queria. Fica aqui, agora, o testemunho.
Quando comecei no mundo dos vinhos, o Rui Moura Alves, reconhecido enólogo bairradino, foi uma das pessoas mais generosas e que melhor me recebeu quando ainda era uma jovem jornalista a estudar e a escrever sobre a matéria. Estava então no jornal Expresso quando lhe fiz a primeira entrevista e foi amizade à primeira vista. Amável, amigo do seu amigo, despojado de vaidades, recebeu-me de braços abertos dando-me os seus conhecimentos sobre vinhos, aguardentes; e também sobre vinagres, que produzia nas traseiras de sua casa. Um dia surpreendeu-me com recortes dos artigos que eu fazia no jornal, e que colecionava com prazer. Dizia ele que aprendia com a juventude. Haverá forma mais generosa de lidar com jovens, dando-lhes força, conhecimento e confiança para continuar? Logo eu, que percorria um caminho num mundo de homens, muitas vezes olhada de lado ou com desconfiança. Ali tive um aliado e um amigo que jamais esquecerei.

Aliada e amiga era também a Maria de Lourdes Modesto, rainha da gastronomia em Portugal e uma mulher fora do seu tempo. Culta e interessada pelo mundo que a rodeava, singrou sempre com elegância e classe numa época em que as carreiras profissionais ainda pertenciam aos homens. Foi aliada na conversa, na sabedoria, força e confiança que transmitia com enorme generosidade; aliada no humor inteligente e nas brincadeiras, e até nas modas e nas piadas ‘picantes’, sempre contadas com ar maroto. Era uma delícia privar com a Maria de Lourdes, e ser beneficiária do seu olhar cúmplice e conhecedor. A comida sempre combinou com o vinho, já se sabe, e eu também tive a sorte de 'combinarmos' as duas.

Por último, o meu querido amigo húngaro József Kosárka, que conheci há muitos anos num concurso internacional de sommeliers em Monte Carlo. Éramos poucos jornalistas entre centenas de sommeliers e, desde o primeiro momento, a conversa fluiu como se já nos conhecêssemos há muitos anos. Desde então, não nos largámos. Culto, informado, foi embaixador húngaro em diversos países, fluente em várias línguas, e mais tarde jornalista e presidente da Associação dos Jornalistas de Vinho da Hungria. Encontrámo-nos muitas vezes em concursos e várias vezes combinámos, na Hungria ou em Portugal, encontrar-nos para conversar, trocar conhecimentos e participar em concursos. Muito do que sei sobre os vinhos do seu país, a ele o devo. Tão bom ter cruzado com amigos assim.

Não foi só este ano que passou depressa. De repente olhamos para trás e vemos que os anos passaram também depressa demais, e só nos resta aproveitar ao máximo o que o futuro nos reserva, aproveitando todos os momentos que temos disponíveis para estarmos junto de quem gostamos. É isso mesmo o mais importante. Estarmos junto de quem gostamos, cheios de saúde, amor e amizade. BOM ANO A TODOS!

