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O Lema é Descomplicar!

O designer Richard Brendon convidou Jancis Robinson para idealizar uma coleção de copos mas a crítica de vinhos sugeriu fazer apenas um copo único para todos os tipos de vinhos. A dupla esteve recentemente em Lisboa a apresentar o resultado desse trabalho.

Jancis Robinson, uma das mais respeitadas jornalistas, escritoras e críticas de vinho do mundo, foi desafiada por Richard Brendon para sair da sua zona de conforto e idealizar uma coleção de copos. Ao longo dos anos, o designer acumulou experiência a trabalhar com sopradores de vidro na Boémia e tem desenhado coleções de vários objectos em vidro que desafiam a estética tradicional, além de criar utensílios de mesa de luxo para alguns dos mais icónicos retalhistas e hotéis do mundo. Mesmo conhecendo o seu trabalho, Jancis tentou desviar-se do convite e sugeriu a Richard procurar alguns dos mais importantes fabricantes de copos de vinho do mundo para trabalhar a ideia. Mas a tentativa foi em vão: «Brendon foi muito insistente e conseguiu convencer-me. Gostei muito da abordagem, do profissionalismo e da qualidade da sua equipa, por isso acabei por aceitar e achar divertido fazer este trabalho», afirma Jancis que, apesar de ter aceite o desafio, fez-lhe também uma contra-proposta:  fazer não uma colecção mas apenas um copo de vinho, com um tamanho e formato únicos!

Assim, com base nos primeiros esboços e sugestões de Jancis, Brendon desenhou logo vários protótipos que serviram de base ao trabalho: «Sei que a maioria dos fabricantes de copos de vinho oferece dezenas de modelos diferentes, com formatos e tamanhos variados para todos os estilos de vinho, de acordo com sua cor, força, efervescência e, muitas vezes, proveniência… mas eu sou muito pragmática, por isso acredito sinceramente que apenas um copo para todos os vinhos é muito mais prático», desabafa. Esta é, aliás, a principal vantagem que aponta quando questionada sobre a diferença que o seu copo poderá ter no meio de tantas boas marcas de copos de vinho existentes no mercado. Esta e outra vantagem que ainda aponta, recorrendo ao seu humor britânico: «Além do formato, há também a questão da arrumação. Quem é que hoje tem espaço em casa para guardar tantos copos?», graceja.



Ainda sobre o formato, Jancis afirma que já não faz sentido os copos de branco serem menores que os de tinto, pois hoje «também há brancos aromáticos e encorpados a pedir copos maiores». E ainda aponta outros exemplos de vinhos mais específicos, como o Champanhe ou o Xerez, servidos cada vez mais em copos «de tamanho comum», de forma a que os seus aromas e sabores sejam melhor percebidos.  

Ao longo dos meses de trabalho que se seguiram, Jancis relembra o profissionalismo e sentido estético de Brendon: «Ele pensou em detalhes que eu, como consumidora, nunca tinha pensado, como a necessidade de soprar meticulosamente a haste como parte do vidro, em vez de montá-la separadamente, como é o caso dos copos feitos à máquina. E no corpo do copo, ele foi alinhando vários ângulos e curvaturas, que me pareciam excepcionalmente detalhados, mas agora vejo que todos os seus refinamentos resultaram num formato que realmente é muito  mais agradável de observar e manusear». Richard devolve-lhe os elogios dizendo que «foi um prazer trabalhar com Jancis», pois as suas «observações e conselhos resultaram num trabalho mais preciso».

O tamanho do copo não é grande nem pequeno (está entre o copo de branco e o de tinto), permitindo rodar o vinho energicamente sem verter, e uma largura que vai afunilando para que o nariz capte bem os aromas. O seu formato é clássico, arredondado. Tem, também, uma haste alta que permite agarrá-lo sem alterar a temperatura do vinho no interior do copo. O vidro é fino, assim como a borda, de forma a permitir o contacto do vinho com os lábios o mais próximo possível; mas também tem grossura suficiente para impedir que se quebre na máquina de lavar loiça.



A complementar o copo de vinho, Jancis Robinson e Richard Brendon aventuraram-se ainda a desenhar dois decanters, um para vinhos novos, mais largo, e outro mais estreito para vinhos velhos, visto que os vinhos velhos não precisam de um espaço tão largo para respirar e apenas se pretende separar o sedimento do líquido. O projecto ficou concluído com uma garrafa e um copo de água, com um design igualmente bonito, sendo que o copo de água é bojudo, largo, fino e sem haste.

Em Portugal o lançamento foi promovido pela Herdade do Rocim, responsável pela distribuição e comercialização dos copos, podendo os apreciadores de vinho encontrar também esta coleção à venda nas melhores garrafeiras do país.