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O Magnetismo de Ventozelo

Desde que a Quinta de Ventozelo pertence ao grupo GranVinhos que a intenção não foi apenas investir na produção vitivinícola, mas sim transformar a propriedade num símbolo das enormes potencialidades da região do Douro. Uma meta alcançada já que, actualmente, é um dos projectos de Enoturismo mais bem trabalhados, revelando, para nosso orgulho, o enorme potencial que Portugal tem nesta matéria.  

Numa época em que o Enoturismo anda na boca de toda a gente, e todas as regiões nacionais – umas mais que outras - apresentam projectos de referência, nunca antes fez tanto sentido investir neste sector. Mas, para ser um negócio rentável, tem de ter qualidade, e ser cada vez mais organizado e profissionalizado, mantendo sempre genuína a arte de bem receber. É isso que acontece em Ventozelo.

Não é de hoje que o Grupo GranVinhos faz investimentos na área de Enoturismo. Em 2012 lançou o espaço Porto Cruz, que no meio das caves de Vila Nova de Gaia se destaca por ser um edifício sem barricas, onde existe um conceito artístico e estético muito presente, complementado com a digitalização do espaço que permite experiências sensoriais muito didácticas. No topo, existe ainda um restaurante e um rooftop com uma das melhores vistas para o rio e para a cidade do Porto. Mais tarde, em 2018, foi a vez de inaugurar a Gran Cruz House, um prédio histórico na Ribeira do Porto que foi totalmente remodelado, com quartos acolhedores e um restaurante que se destaca pelos sabores tradicionais. Finalmente, em 2020, a Quinta de Ventozelo foi renovada. Uma propriedade histórica e emblemática que, quinze dias após a sua abertura, teve de encerrar portas devido à pandemia, e assim esteve durante uns tempos, voltando a abrir portas em Junho do mesmo ano. Durante o período de pandemia, mesmo apesar da rigidez das regras impostas, o hotel teve muita procura por parte dos enoturistas, atraídos pela possibilidade de estarem em espaços rurais mais arejados onde o vírus era menos temido. E, obviamente, pela beleza, pelo conforto do local e também da hospitalidade genuína.

Localizada no coração do Alto Douro Vinhateiro, no concelho de São João da Pesqueira, entre o Pinhão e Ervedosa do Douro, Ventozelo é uma das maiores e mais antigas quintas da região, com uma área de 400 hectares, 200 dos quais de vinha. Além da vinha e da adega, a propriedade destaca-se ainda pelo seu bonito hotel, com quartos (29, no total) distribuídos por vários núcleos, um restaurante, um centro interpretativo, um jardim de aromas, percursos pedestres, atividades de turismo de natureza e cinegéticas e, claro, visitas guiadas e provas de vinho.  

O cenário é magnetizante. A quinta distribui-se por um largo anfiteatro, desde o rio Douro até à cota de 600 metros de altitude, sendo atravessada por diversas ribeiras e linhas de água rodeadas por galerias ripícolas, com paisagens diversas e enorme riqueza natural, e também de solos, exposições solares e microclimas.

Ventozelo é uma das mais antigas quintas da região do Douro
Centro Interpretativo de Ventozelo


Consolidar a oferta

Ventozelo integra-se num projeto global de viragem estratégica do GrupoVinhos. «Desde o início que a intenção não foi apenas investir na produção vitícola, mas sim transformar a quinta num símbolo do enorme potencial da região do Douro. Valorizar e afirmar a excelência das suas vinhas e vinhos, mas também de outras produções agrícolas, como o azeite, mas também a sua paisagem, a história, e a gastronomia», afirma Jorge Dias, CEO do Grupo GranVinhos.

O projecto do hotel, que teve o investimento de sete milhões de euros, teve o propósito de concretizar um objetivo muito simples: «o de permitir a visita e a permanência na quinta, acrescentar o conforto indispensável ao bem-estar, reusar os seus edifícios, e continuar a história», explica Carlos Santelmo, arquiteto duriense que assina o projeto de reconversão desta quinta agrícola tradicional num enoturismo que se quer muito ligado à Natureza e ao mundo rural, em torno dos valores associados ao Alto Douro Vinhateiro Património Mundial. Potenciar as qualidades ancestrais, aproveitar o conjunto das edificações que existiam na quinta e não construir nada de raiz, e acrescentar-lhes contemporaneidade, sem perturbar a paisagem, foi o grande desafio lançado ao arquitecto. Tendo como materiais pré-existentes o xisto, as alvenarias, os telhados, e os rebocos antigos, optou-se por um equilíbrio entre a pedra à vista e a pedra caiada ou reboco caiado. Introduziu-se a madeira pintada em paramentos exteriores. Os telhados reabilitaram-se. Refizeram-se os caixilhos de madeira pintada. Nas ampliações, como é o caso do Núcleo Museológico, aparecem  materiais como a chapa pintada e o aço corten, que afirmam a diferença. No interior, enfatizou-se a estrutura de madeira como imagem caracterizadora. Esta simplicidade arquitetónica estende-se aos interiores e à decoração (a cargo de Cristina Caiano e do gabinete NBY Concept and Project), sempre com o objetivo de que os hóspedes não sintam que estão a ser recebidos num hotel, mas numa verdadeira casa de quinta, autêntica e acolhedora, onde não falta uma boa lareira, um livro, uma manta e, é claro, um copo de um bom vinho.

Ventozelo quer ser mais que um hotel, é uma casa de quinta, autêntica e acolhedora, onde não falta uma boa lareira, um livro, e claro, um bom vinho.
Recantos acolhedores em Ventozelo



Um dos ex-libris da quinta é também o seu restaurante e wine bar. Aberto a hóspedes e ao público em geral, a Cantina do Ventozelo, que ocupa precisamente o local onde antigamente eram servidas as refeições dos trabalhadores, é outra das atracções, ao explorar a autenticidade da cozinha regional do Douro e Trás-os-Montes. Um projecto iniciado com o Chef Miguel Casto e Silva e continuado agora pelo chef João Carneiro. Na cozinha, sobressaem os produtos cultivados e produzidos em Ventozelo (beterraba, feijão verde, couves, ervilhas, acelga, tomate coração-de-boi, figos, marmelos, azeite...), alguma caça e outras carnes compradas a fornecedores de proximidade (produtos DOP, como é o caso da Carne Maronesa, por exemplo), e até mesmo produtos trocados quando há excedentes entre vizinhos. «Os pratos pretendem recuperar as tradições das quintas do Douro, é uma cozinha de conforto», diz João Carneiro.

Os almoços, muito informais, recriam o que era habitualmente servido na lavoura: pratos de forno como a costela Maronesa ou cachaço Bisaro ou pratos de tacho como feijoada, rancho, arroz de legumes, milhos e legumes guisados. Como complemento, uma sopa, saladas, uma seleção de queijos, enchidos, presunto e até a tradicional bola, sendo que aos fins-de-semana os almoços são mais reforçados, com bacalhau e carnes assadas, nunca faltando o cabrito de domingo. Ao jantar pretende-se um ambiente mais requintado e as refeições convidam a estender conversas e tertúlias. Aqui a proposta passa por uma entrada empratada, que poderá ser uma truta fumada, um escabeche de peixe ou perdiz, seguido de peixe do rio, bacalhau ou um naco de vitela, seguido de queijo e doce. Tudo naturalmente harmonizado com vinhos do Douro e do Porto da Quinta de Ventozelo.

Cantina de Ventozelo



No meio de tanta diversidade, conhecer o Centro Interpretativo é um prazer redobrado, já que pretende dar a conhecer a região duriense (o seu património natural, material e imaterial) através de uma verdadeira experiência sensorial de descoberta de Ventozelo. «Procurou-se um discurso expositivo que combinasse o lúdico com o conhecimento e com o rigor científico. Por exemplo, os retratos dos proprietários da Quinta no século XVIII são expostos mostrando o cuidado que houve no seu estudo e restauro. Depois, temos experiências tão simples como andar, a subir e descer dentro do percurso da exposição, de modo a ter a percepção dos declives de que é feita a quinta, e toda a região do Douro», explica Natalia Fauvrelle, museóloga responsável pelo Centro Interpretativo.  «Segue-se o mais tradicional desafio de apreensão de aromas e um espaço onde o visitante se pode sentar e contemplar o céu e Ventozelo ao longo de um dia. A ideia é despertar a vontade de ficar aqui e contemplar este céu e o silêncio. Também há um espaço onde se pode ouvir Ventozelo: o silêncio e os seus sons característicos», remata.

O passeio continua pelo núcleo principal da Quinta, com visita à capela dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, aos lagares e adega, alambique, hortas biológicas, pomares e jardim das aromáticas (onde também é possível fazer uma prova do Gin de Ventozelo). Uma visita com áudio-guias que inclui ainda a interpretação da paisagem vitícola e uma prova de dois vinhos do Porto e um vinho do Douro. Segue-se a possibilidade de participar em atividades agrícolas (como a vindima ou a apanha da azeitona) e também de usufruir da diversidade de paisagens e da riqueza dos habitats naturais existentes através de sete percursos pedestres (alguns deles de acesso exclusivo a hóspedes) com diferentes níveis de dificuldade.

Com tantas opções de actividades, pernoitar em Ventozelo é uma verdadeira aventura e um prazer. «Desde que entrei para o grupo já foram investidos mais de 100 milhões de euros em muitos projectos. Ventozelo é o mais recente e estamos muito orgulhosos do trabalho realizado. O futuro passa agora pela consolidação da oferta», remata Jorge Dias.