
O regresso das rolhas de cortiça
Não há nada que substitua o som do ‘POC’ de uma rolha a sair de uma garrafa de vinho. Após um longo período de quebra de mercado, a cortiça voltou a ser o vedante preferido dos produtores de vinho. E dos consumidores.
É uma realidade. A cortiça é um dos materiais nobres de Portugal, sendo as rolhas o seu mais famoso produto, o mais produzido e o mais exportado. No entanto, entre 2000 e 2009, período em que surgiram outros tipos de vedantes alternativos - na maioria cápsulas de rosca e rolhas de plástico - a cortiça foi banida do seu trono, através de uma quebra acentuada na sua utilização. Hoje, com a confiança do mercado reconquistada à custa de um gigantesco investimento em investigação, desenvolvimento tecnológico e sensibilização por parte do sector corticeiro, a rolha de cortiça cresce a um ritmo superior ao do mercado do vinho.
Os números não mentem: Em 2018, o sector da cortiça bateu o seu record de exportações com 1.067,6 milhões de euros, o que representa um crescimento de 8% face ao ano anterior. Um momento histórico para Portugal. Por outro lado, a APCOR - Associação Portuguesa de Cortiça – estima que mais de 12 mil milhões de garrafas de vinho por ano são vedadas com rolhas cortiça, preferidas por mais de 70% dos produtores mundiais, em detrimento da screw cap (cápsula de rosca) e da rolha sintética de plástico, que vedam 4 mil milhões de garrafas e 2 mil milhões, respectivamente. Actualmente, está provado que o plástico origina alguns problemas, entre eles a oxidação do vinho, dificuldade em repor o vedante na garrafa, adulteração de aromas, ou o facto de ser prejudicial ao ambiente, daí a sua procura ter decaído bastante nos últimos anos. Quanto à screwcap, e após um período de glória, a procura abrandou bruscamente apesar de lhe ser considerada a vantagem de ter uma fácil abertura.
A cortiça está, por isso, em grande.
No entanto, apesar do cenário promissor e de ter ganho a batalha, ainda falta vencer
a guerra. Para a cortiça ultrapassar barreiras, é necessário continuar a
investir em investigação, tecnologia, novos produtos e acabar de vez com o Tricloroanisol
(TCA). Este é um composto químico que se aloja na casca dos sobreiros e que,
através das rolhas, pode contaminar o vinho. Mesmo não sendo prejudicial à
saúde humana, o TCA transmite ao vinho um aroma e sabor a mofo muito
desagradável, o que não permite a apreciação das suas reais características.

Muitas empresas estão empenhadas na
resolução deste problema como a DIAM, que fabrica rolhas e foi pioneira a apresentar
soluções para o problema. Já a Amorim, a
maior corticeira nacional, não só tem investido em medidas preventivas e
curativas, como já erradicou o problema, tal como a Diam, nas rolhas de
aglomerado de cortiça através do NDtech, uma tecnologia de análise
individualizada que controla a qualidade e ‘saúde’ das rolhas. E mais. Até 2020,
a Amorim promete ainda a resolução total nas rolhas de cortiça natural, mais
difíceis de tratar do que o aglomerado. Vencida a guerra, a cortiça terá ainda
mais força. E não é para menos. As características naturais da rolha da cortiça
são incomparáveis. É leve (uma rolha contém cerca de 90% de ar ou gás
semelhante), flexível, elástica e compressível, garantindo uma perfeita
adaptação ao gargalo da garrafa. É igualmente impermeável, resistente à
humidade e, consequentemente, à oxidação. Amiga do ambiente, é reutilizável e
reciclável. Por último, a sua utilização contribui para a percepção que o
consumidor tem de vinhos de qualidade. Haverá melhores argumentos para querer continuar
a ouvir som da rolha a sair de uma garrafa de vinho?
NÚMEROS E CURIOSIDADES:
- Em média, mais de 90% dos consumidores no mundo prefere a cortiça e associa-a vinho de qualidade e elegância
- Portugal tem 736.775 hectares de floresta de sobro, a maior do mundo (34%)
- Portugal é o maior produtor do mundo, com 100.000 toneladas de cortiça/ano (49,6%)
- O sector da cortiça bateu o record de exportações em 2018, com 1.067,6 milhões de euros, o que representa um crescimento de 8% face ao ano anterior. Um momento histórico para o sector e para Portugal
- O número de rolhas de cortiça produzidas anualmente em todo o mundo daria para completar 15 voltas ao perímetro da Terra.
- O maior e mais velho sobreiro do mundo chama-se Assobiador e encontra-se plantado em Águas de Moura, no Alentejo. O seu nome é inspirado nos sons das aves canoras que pousam na sua ramagem. Plantado em 1783, este sobreiro tem mais de 14 metros de altura e 4,15 metros de perímetro do tronco.
- Em 2011, a Assembleia da República declarou o sobreiro Árvore Nacional de Portugal.
- Portugal foi pioneiro na legislação ambiental de proteção ao montado, sendo atualmente o principal legislador nesta matéria.

