O vinho mais antigo do mundo tem 2000 anos
A Geórgia tem fama de ser o país detentor dos vestígios da produção de vinho mais antiga do mundo (8000 anos), mas a Universidade de Córdova, em Sevilha, encontrou o vinho mais antigo do mundo (2000 anos).
Segundo o jornal El País, que difundiu a notícia para o mundo, o líquido foi encontrado numa urna funerária de vidro durante uma escavação na antiga Bética romana, em Carmona, Sevilha. Esta descoberta, liderada pelo professor José Rafael Ruiz Arrebola, da Universidade de Córdoba, oferece insights inovadores sobre as práticas funerárias romanas e a preservação do vinho.
O túmulo, um mausoléu circular, situa-se ao longo da estrada que ligava Carmo a Hispalis (atual Sevilha) e pertencia a uma família rica onde se encontravam seis urnas com restos mortais. A que continha o vinho pertencia aos restos ósseos cremados de um homem dessa família.
A equipe de pesquisa desconfiou desde o início que o líquido encontrado poderia ser vinho, mas precisou de confirmar essa hipótese através de análises químicas rigorosas realizadas no Serviço Central de Apoio à Pesquisa (SCAI) da Universidade de Córdoba. A análise concentrou-se assim em vários fatores, incluindo níveis de pH, ausência de matéria orgânica, presença de sais minerais e compostos químicos específicos.
Análises comparativas com os vinhos modernos de Montilla-Moriles, Jerez e Sanlúcar forneceram as primeiras pistas. A identificação definitiva do vinho antigo dependia da detecção de polifenóis, biomarcadores presentes em todos os vinhos. Utilizando técnicas avançadas, a equipa identificou sete polifenóis específicos encontrados também em vinhos da região. A ausência de ácido siríngico, um polifenol encontrado nos vinhos tintos, indicava que o vinho antigo poderia ser branco ou estar relacionado com a degradação do vinho pela oxidação.
A descoberta deste vinho revela também o conhecimento dos rituais funerários do povo romano e esclarece muitos dos seus aspectos culturais e sociais. Enterrar ossos numa urna cheia de vinho era muito usual entre a elite da Roma Antiga. As mulheres eram geralmente proibidas de consumir vinho, por isso enquanto a urna do homem continha vinho, anéis de ouro e fragmentos de ossos, a urna da mulher – proibida de beber vinho na época – tinha joias de âmbar, um frasco de perfume com aroma de patchouli e restos de tecido de seda. Estas diferenças revelam rituais específicos de género e as normas sociais da época. A excepcional preservação do túmulo e do vinho deveu-se ao ambiente selado que evitou a contaminação, garantindo que o líquido permanecesse intacto durante milhares de anos.
A confirmação da origem do vinho também ajudou a compreender as tradições vitivinícolas da antiga província de Baetica, particularmente da região de Montilla-Moriles (Andaluzia), assim como o seu significado histórico, sugerindo um alto nível de conhecimento e habilidade entre os viticultores romanos.