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Ode Feliz

A região Tejo está a tomar novos rumos com projectos que fazem a diferença. Um deles é a Ode Winery Farm & Living, em Chã de Ourique, comprada em 2022 pelo grupo australiano Immerso Collective, com foco no vinho, no luxo e na sustentabilidade.  

Quem anda nisto dos vinhos há alguns anos, recorda-se de uma propriedade nascida em 2005 na região Tejo chamada Vale D’Algares. Esse projecto, que parecia ter tudo para dar certo - com produção de vinhos de qualidade, organização e eventos, enoturismo e turismo equestre – acabou por ser um sonho que se desvaneceu, sem capacidade de gestão que segurasse bem as rédeas do desafio. O que acabou por acontecer em 2022, quando a actual propriedade, agora denominada Ode Winery Farm & Living, de 96 hectares (dos quais 22 de vinha), foi comprada pelo grupo Immerso Collective, com o intuito de investir em vinho e enoturismo, dando assim a merecida visibilidade à região e à sua cultura vitivinícola. Além da vinha, que segue uma linha regenerativa e sintrópica, existem ainda 40 hectares de montado e 15 de olival, além de floresta, uma horta com produtos cultivados em modo biológico, galinhas e ovelhas. Em 2026, a oferta ficará complementada com um resort de luxo e a implementação de glampings e villas, inseridos em plena natureza. Piscina e SPA também estão nos planos.

O grupo Immerso Colective foi criado por David Clarkin (com mais de trinta anos de experiência em investimento e desenvolvimento imobiliário de futuro nos mercados asiático e australiano) e Andrew Homan (advogado de formação com vasta experiência em diferentes indústrias, nomeadamente na gestão de fundos de investimento imobiliários). À dupla de empresários australianos juntou-se ainda a brasileira Ana Araújo (Chefe de Operações do Grupo), que se apaixonou pela região e trocou o Brasil por Portugal, sendo também uma das responsáveis pelo projecto. Portugal é, assim, o primeiro país europeu em que o grupo investe, através da aquisição desta adega.  

Datada de 1902 (e posteriormente recuperada e ampliada em 2000, na época de Vale d’Algares) a adega da Ode  é uma das maiores da região do Tejo, estando agora a produção de vinhos a cargo de Maria Vicente, enóloga que soma na sua experiência profissional mais de 20 vindimas.  Na adega, ao lado dos melhores equipamentos de processamento e armazenamento, e novas instalações de enoturismo, estão os tradicionais lagares, as talhas de barro e as barricas de carvalho. Pela propriedade estão distribuídos os 22 hectares de vinha que fornecem as uvas para o portfolio dos vinhos já disponíveis no mercado.


Os empresários Andrew Homan (à esq) e David Clarkin

A empresária brasileira Ana Araújo (à esq) e a enóloga Maria Vicente são as caras mais visíveis do projecto.
Dos 96 hectares da propriedade, 22 são de vinha
A Ode é uma das maiores adegas da região Tejo
Na adega, existem os melhores equipamentos de processamento e armazenamento (em cima). Na foto em baixo, a sala de provas.



O solo, rico em calcário, permite o cultivo de uma grande variedade de castas nacionais, desde a Arinto, Fernão Pires, Alvarinho, Touriga Nacional e Tinta Barroca; às internacionais como a Semillon, Viognier, Pinot Gris, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah. Os vinhos são produzidos segundo uma filosofia de «mínima Intervenção e máxima Atenção, fundamental para que possam criar vinhos elegantes e frutados, que respeitem as características únicas da uva e permitam apreciar não só o sabor, mas também o seu lugar de origem, ano após ano», explica Maria Vicente. Segundo nos diz ainda, a Ode Winery «segue os princípios orgânicos, sustentáveis e regenerativos para garantir solos saudáveis, matéria orgânica positiva e um ambiente livre de doenças, de forma a assegurar que a qualidade das futuras colheitas seja algo de que a região do Tejo se possa orgulhar». A certificação biológica oficial chegará em 2025.



Experiências Sensoriais

Neste momento, os apreciadores de vinho podem apreciar onze referências: os brancos Ode Semillon, Ode Viognier, Ode Fernão Pires, Ode Arinto, Ode Enóloga Arinto Fernão Pires; os tintos Ode Touriga Nacional, Ode Quarteto, Ode Lagares Touriga Nacional, Ode Amphora Alicante Bouschet, Ode Única Touriga Nacional, e o rosé Ode Rosé. Da lista de vinhos provados destacou-se nos brancos o Ode Viognier 2023, ‘unoaked’ (sem madeira), que se manteve em contacto com borras finas durante 5 meses após a fermentação, o que lhe deu um corpo e maior intensidade de muito interessantes. Com aroma de fruta branca e especiaria, é um vinho  com boa presença.

Já nos tintos, o foco foi para o Ode Touriga Nacional 2023 e o Ode Touriga Nacional Lagares 2022, dois vinhos da mesma casta mas de diferente perfil que fazem parte da prova de vinhos mais requisitada pelos enoturistas. O primeiro  foi elaborado com as melhores uvas de touriga maceradas a baixa temperatura antes de serem pisadas a pé em lagares tradicionais. Posteriormente o vinho ficou 3 meses no Ovoide (depósito poroso em forma de ovo - para permitir micro-oxigenação). 30% deste vinho envelheceu por 4 meses em barricas novas de  carvalho francês. No aroma e no paladar revela fruta preta intensa, notas de especiaria e longo final de boca. Tem por isso um perfil mais marcante. Já o Touriga Lagares, também feito com uvas seleccionadas, foram pisadas a pés em lagares tradicionais. O vinho foi posteriormente amadurecido em aço inoxidável e envelhecido em barricas de carvalho francês de 500l durante 12 meses. Com grande estrutura e aromas a frutos vermelhos especiados, tem boa acidez e finesse. Um Touriga Nacional na sua versão mais elegante.

Por último, o Ode Alicante Bouschet 100% 2022, também foi um tinto que mostrou a sua garra. Fermentou e envelheceu em ânforas de barro, uma  tradição que remonta a 6000 anos e se encontra bem viva nesta adega. No entanto, apesar de ser uma técnica milenar é aproveitada para fazer um estilo moderno de vinho que segue não só as tendêmcias mundiais como a variedade utilizada. Elegante mas expressivo, as melhores uvas de Alicante Bouschet fermentaram em ânforas durante 12 meses. Um vinho especial, de aroma frutado e vegetal, com notas balsâmicas, elaborado com o mínimo de intervenção possível e um dos ex-libris desta adega.




O investimento no Enoturismo

Para que o visitante fique a conhecer de forma aprofundada a historia da propriedade, a Ode Winery também pensou no enoturismo. A visita à adega permite recuar no tempo quando passamos pela antiga destilaria e laboratório de vinhos originais. Ao lado, o corredor de toneis de carvalho e cubas de inox inseridos na parte da produção. Já a adega subterrânea, cuidadosamente iluminada, surpreende pelo seu tamanho, a lembrar uma catedral, com diversas barricas de carvalho e uma sofisticada sala de degustação com capacidade para 16 pessoas.


Além da prova de vinhos, os vinhos da Ode também são servidos no restaurante

O restaurante da Ode Winery é de inspiração asiática
O menu está sempre em constante mudança




No restaurante promove-se o conceito farm-to-table e de partilha. O menu, em constante mudança, procura aliar a qualidade dos produtos do Ribatejo com o rigor e mestria da cozinha asiática, inspirada maioritariamente nas tascas japonesas. Esta decisão teve a ver com o facto de já existirem muitos restaurantes tradicionais na região – e por isso quiseram ser diferentes – mas também é devida à ligação de David Clarkin ao Vietname, onde conheceu o chef Kazuya Yokoyama, natural de Nagasaki. «Fomos o primeiro povo europeu a chegar ao Japão e temos uma herança culinária que permanece na cozinha japonesa, como a tempura», diz Maria Vicente. No entanto, há muito mais que isso, e os pratos do menu vão variando de estação para estação,  sempre harmonizados com os vinhos Ode.


Salão de eventos



Ao lado do restaurante situa-se ainda um enorme salão, desenhado para receber diferentes tipos de eventos, desde encontros profissionais a cerimónias e ocasiões especiais.