Entrevistas

Osvaldo Amado, versatilidade e sucesso

É um dos mais conhecidos, premiados e respeitados enólogos portugueses. Tentar fazer sempre mais e melhor é o segredo do seu sucesso. Actualmente, chefia a direcção de Enologia da Dão Sul/Global Wines e ainda é consultor de outros produtores em várias regiões do país. São mais de 30 anos de carreira, tendo já produzido mais de 400 milhões de garrafas e colocado a sua assinatura em mais de 200 rótulos em países como Portugal, Brasil, Espanha, Itália e África do Sul.

Quando decidiu que queria ser enólogo?
Não tenho qualquer tradição familiar na área. A minha vinda de Angola para Portugal visava tirar o curso de piloto aviador, mas contingências financeiras obrigaram-me a mudar de rumo. Com o ingresso na Escola Agrária, fiz o Curso de Agente Técnico Agrário, a que se seguiu o Bacharelato em Ciências da Alimentação e Nutrição, os módulos de Viticultura e Analise Sensorial em Vinhos da Pós-Graduação em Enologia e uma especialização em Gestão Comercial e Marketing. O interesse pessoal era trabalhar na área da experimentação dos fitofármacos mas, como a grande oferta de estágios na região era na área dos vinhos, após terminar os estudos não resisti aos convites que apareceram. Assim iniciei o meu trajeto pelo fascinante mundo dos vinhos.

Quem foram para si os mestres na enologia?
António Dias Cardoso, por ser um dos revolucionários na era moderna na produção de vinhos em Portugal, associando a investigação à obtenção de novos estilos de vinhos.  Augusto Pereira por ser um dos mais entendidos em Química Enológica. E Domingos Moura, por ter sido um dos mais experimentados enólogos portugueses na produção de espumantes.

Qual é o vinho que provou e mais o impressionou na vida?
Anualmente provo imensos vinhos. De certo modo, consigo entender todos, desde os menos bons até aos excelentes. Vinhos que me marcaram de uma forma muito positiva e que retenho na memória foi um Bairrada de 1980 da Adega de Cantanhede. Regularmente também tenho bebido um Porto Tawny Poças de 1964 que me tem fascinado.

Que vinho mais gosta de fazer?  
Fazer vinho é sempre uma enorme satisfação para mim. Pela sua dificuldade de antevisão, de evolução, o que me obriga a momentos de concentração muito especiais, onde o meu ‘feeling’ tem de estar no seu melhor. Tenho um carinho especial pelos espumantes e pelas aguardentes velhas.

Que vinhos gostaria de fazer, que ainda não fez?
Faltam muitas regiões. Já fiz vinhos em Portugal, quase de norte a sul, e no estrangeiro, Espanha, África do Sul, Itália e Brasil. Como complemento desta diversidade de origens, gostava de viajar até à Austrália, mas principalmente gostava de fazer um vinho Madeira.

Que vinho gostava de beber que ainda não bebeu?
É uma missão quase impossível, gostava de ter tempo para degustar muitos, sendo que os vinhos efervescentes, os champanhes me fascinam muito. Mas nunca é um esforço quando o desafio é provar vinhos, independentemente do seu tipo e categoria.

Que vinho(s), e a que figura(s) pública(s) que admira gostava de oferecer?  
Gostaria de oferecer o Casa de Santar Dão Nobre Tinto ao António Guterres, ao Valentino Rossi, ao Fernando Alonso e ao Lewis Hamilton. Também gostaria de dar um Bairrada 2011 ao Caetano Veloso e ao Marcelo Rebelo de Sousa.

Vai parar a uma ilha deserta, que vinho levava no barco e conseguiu salvar do naufrágio?
Todos os Bairrada da colheita de 2011.

Qual é a sua / suas castas preferidas?
, Baga e Touriga Nacional são castas excepcionais, que em blend ou em monovarietal elaboram sempre vinhos de grande qualidade. A casta Arinto é a que mais admiro no mundo por ser transversal a produzir vinhos de diferentes categorias. É possível degustarmos excelentes vinhos brancos, vinhos de sobremesa e espumantes a partir da casta Arinto. O mesmo ocorre nas castas Baga e Touriga Nacional, acrescendo o facto de produzirem vinhos ímpares e, provavelmente, dos vinhos com maior longevidade do mundo.