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Ousadia Engarrafada

A Casa da Passarella apresentou recentemente as suas novas colheitas e uma novidade, um vinho de Tinta Pinheira - também conhecida por Rufete – uma casta tinta que tradicionalmente encontramos em vinhos de Blend mas agora surge como monocasta.  

Conhecido pelas investigações que faz de castas antigas, e um enorme entusiasta da experimentação, o enólogo Paulo Nunes apresentou recentemente as novas colheitas da Casa da Passarella, que inclui um tinto diferenciador. Localizada em Lagarinhos, no sopé da Serra da Estrela, esta propriedade tem no seu portfolio uma variada gama de vinhos de grande sucesso, especialmente entre os enófilos mais conhecedores.  

Paulo Nunes chegou à Casa da Passarella como consultor, em 2008, convidado pelo administrador da família Santos Lima, proprietária original desta Casa erigida em 1892. Com a transição para o novo proprietário, a família Cabral, foi convidado para assumir por inteiro o projecto vitivinícola, tendo recebido carta branca para fazer o que quisesse em matéria de vinhos. Não é por isso de estranhar que tenha abraçado o projecto de tal forma que é hoje a cara mais visível do projecto. Desde que se encontra na Passarella, é comum vê-lo a caminhar pelas vinhas, ou a falar com os trabalhadores que nela labutam, ou com os mais antigos, assim como a fazer vinificações e outras experiências que acabam por resultar num trabalho original e diferenciador.

Paulo Nunes consegue sempre surpreender e, desta vez, das colheitas apresentadas, destaca-se este tinto de Tinta Pinheira, na medida em que foi preciso alguma ousadia para avançar com um monocasta, já que é geralmente uma variedade que se encontra em vinhos de lote. Também conhecida por Rufete, a Tinta Pinheira é uma casta produtiva, essencialmente cultivada nas regiões do Douro, do Dão e da Beira Interior, detentora de cachos e bagos de tamanho médio e sensível a algumas doenças como o oídio e o míldio. É, por isso, uma casta que dá alguns problemas, e raramente produz vinhos de grande complexidade, a não ser que atinja o tempo de maturação ideal, e aí sim, consegue produzir vinhos de qualidade encorpados, aromáticos e capazes de permanecer muitos anos em garrafa. É o caso deste Casa da Passarella Fugitivo Tinta Pinheira 2018, oriundo de solos graníticos e vinificado em lagar tradicional com engaço parcial e envelhecido durante seis meses em depósitos de cimento. De aroma a frutos vermelhos, e complementado com notas vegetais é um tinto bastante elegante, delicado, mas com estrutura marcada e boa frescura.



Apesar de quase sempre revelar novidades originais, Paulo Nunes deu a conhecer ainda outros vinhos que entretanto já foram lançados para o mercado. São eles os Casa da Passarella Oenólogo Encruzado branco 2020, o Casa da Passarella O Fugitivo Uva Cão tinto 2020;  e os brancos Villa Oliveira  Encruzado 2018 e  Villa Oliveira Vinha do Províncio 2019. Por último, ainda o tinto Villa Oliveira Vinha Centenária 2017. Tanto os brancos como os tintos, apesar de distintos no estilo e no perfil têm, no entanto, uma característica comum que os une: uma boa frescura e equilíbrio, o que valoriza ainda mais a mensagem passada por Paulo Nunes através dos seus vinhos.

Na Passarella todos os vinhos são especiais, sejam de maior ou menor complexidade ou originalidade. Como é o caso do vinho branco O Oenólogo Encruzado, que apesar de ser um dos mais ‘simples’ da gama tem, contudo, alguma complexidade concedida pela fermentação em barrica usada e battônage. Ou o tinto Fugitivo da casta Uva Cão que, tal como a casta Tinta Pinheira, era mais utilizada em vinhos de blend (a Uva Cão conferia ao blend maior acidez). O trabalho na vinha e as alterações climáticas vieram permitir ao enólogo Paulo Nunes vinificar esta casta a solo, resultando tão bem, que agora já vai na segunda edição. Vinhos de edição limitada que dão a conhecer o melhor que a Casa da Passarella pode dar. Ainda bem para nós.