Para a frente é o caminho

A equipa Soalheiro organizou recentemente uma prova especial que mostra a consistência do trabalho que já foi feito, mas também algumas novidades que mostram o caminho que estão a traçar numa perspectiva de evolução.
O clássico aguça o engenho. É com estas palavras que os irmãos António Luís e Maria João Cerdeira iniciaram uma prova que veio mostrar o que têm feito na sua quinta, que desde há muitos anos é uma referência na região dos vinhos Verdes. Em 1974, foi o pai, João António Cerdeira, quem plantou a primeira parcela de vinha contínua da casta Alvarinho em Melgaço. Uns anos depois, em 1982, transformou a sua paixão pela vinha e pelo vinho numa pequena produção familiar independente. Tirou o carro da garagem da família e transformou-a numa adega que viria a produzir a primeira marca de Alvarinho em Melgaço. O pioneirismo de João António marcou a história da família que, desde então, está ligada à produção de Alvarinho neste território.
Hoje, são os seus filhos, António Luís e Maria João Cerdeira, juntamente com a sua mãe, Maria Palmira Cerdeira, que continuam o projeto familiar. António Luís, formado em Enologia, investiga a casta Alvarinho desde o início da sua carreira. Já Maria João, veterinária de profissão, assume a responsabilidade pela viticultura e introduziu com sucesso o modo de produção biológico nas práticas agrícolas na propriedade. O Soalheiro alarga-se hoje também ao enoturismo e à produção de Infusões biológicas.

O projeto cresceu e é agora o reflexo de uma equipa que trabalha com um clube de viticultores que envolve mais de 150 famílias, e tem a visão clara de ‘continuar sem sair do lugar’, garantindo o desenvolvimento sustentável do território de origem, Monção e Melgaço. «Queremos continuar no lugar, contribuir para o crescimento da economia local, da sustentabilidade, de uma viticultura e produção de vinho responsáveis. Queremos continuar a criar valor com produtos diferentes. Há uma evolução que não passa só pela elegância dos vinhos, passa também pela precisão com que os vinhos são trabalhados», afirma António Luís Cerdeira.
Foi por isso com muito entusiasmo que nesta prova se foram partilhando as histórias, processos, parcerias e origem dos vinhos apresentados: a nova colheita de Soalheiro e três novidades. O Soalheiro Alvarinho é o ‘Clássico’, o primeiro vinho a ser feito pela família em 1982. Desde então, mantem um perfil aromático e fresco, um sabor intenso e um excelente potencial de evolução em garrafa. Agora, na colheita de 2022, continua a ser uma das marcas de referência a nível nacional. Nas novidades surgem agora vinhos como o Soalheiro Mosto Flor 2021, O Soalheiro Pé Franco 2020 e o soalheiro Revirado 2020, todos eles de edição limitada.
Mosto Flor é um vinho feito a partir de mosto obtido sem prensagem (também conhecido como lágrima). Este mosto, resultado da pressão normal que existe entre as uvas quando são introduzidas na prensa, é separado, decantado e fermenta em tanques de aço inoxidável. No nariz é intenso e direto, sem muita largura de aroma, mas muito preciso, o que mostra bem uma das dimensões do Alvarinho quando não há contacto com as cascas das uvas. Na boca é fresco e muito afiado.
Já o nome Soalheiro Pé Franco significa que o vinho foi produzido a partir de videiras sem enxertia, plantadas há 10 anos em solos com um caráter mais arenoso. As uvas foram desengaçadas e fermentadas em contacto com as películas, durante cerca de 2 semanas. Após este período, foram prensadas e, já sem as películas, o vinho permaneceu em barrica onde terminou a fermentação e estagiou. Ao longo do processo de evolução, a barrica é movimentada de forma a permitir uma batônnage total, o que lhe vai conferir mais estrutura e complexidade. No aroma, é floral e intenso, diferente do habitual num vinho com a casta Alvarinho. Na boca é persistente, devido ao contacto com as películas durante a fermentação, o que lhe confere mais corpo e uma ligeira adstringência.


Por último, o Soalheiro revirado, um Alvarinho que nasce nas encostas das montanhas. Aqui, as borras finas de decantação de Alvarinho de altitude são selecionadas e colocadas numa barrica spin onde fermentam. A turbidez acentuada do mosto origina a fermentação de aromas mais fechados, por isso a equipa revira as borras com muita frequência (daí o nome ‘Revirado). A barrica spin permite efetuar uma batônnage total, conseguindo misturar por completo as borras e mantê-las em constante contacto com o vinho, para que a redução das borras finas durante a fermentação seja atenuada e nasça um vinho bastante delicado e mineral. No nariz tem um aroma fechado, a lembrar fósforo queimado, mostrando o perfil de um Alvarinho com alguma redução. Na boca, tem um perfil marcadamente mineral e salino, e uma complexidade singular amplificada pelo estágio em barricas de carvalho.
Durante a prova revelaram-se ainda outras novidades, que ainda não se sabe se serão lançadas no mercado, mas que mostram o trabalho que está a ser feito no sentido de uma contínua evolução e adaptação às tendências actuais. «Muitas coisas mudaram ao longo destes 40 anos, mas o nosso espírito criativo, curioso e exigente continuará sempre alimentar a nossa atitude, a sustentar a qualidade e consistência do que aqui criamos e a inspirar o projecto Soalheiro a valorizar o território», diz Luís Cerdeira. «A busca constante de conhecimento e de vinhos que exprimam a riqueza que o território nos oferece, permanecerá e é com esse conhecimento e engenho que os clássicos se fortalecem e se tornam intemporais», remata.

