Paulo Laureano abre loja de vinhos em Lisboa
O reconhecido enólogo, defensor das castas portuguesas, abre a primeira loja de vinhos em Lisboa, inserida num novo restaurante de petiscos. A coisa promete.
Na verdade, não é bem uma loja. Ou, pelo menos, não é uma loja ‘normal’, do género garrafeira. É um restaurante onde os vinhos são o complemento. Vinhos de várias regiões nacionais, exclusivos do restaurante e elaborados pelo enólogo, que harmonizam com os petiscos servidos à mesa mas também podem ser levados para casa.
Tudo começou através da boa amizade entre Paulo Laureano e o advogado Nuno David Costa Noronha, ambos apreciadores de boa comida, bom vinho e de boas conversas. Assim nasceu o ‘Impecável’, um restaurante com abertura prevista para final de Fevereiro, mas que só abriu agora devido à pandemia do Coronavirus. «Passado o ‘susto’, e tendo noção das regras de higiene agora impostas, estamos finalmente a seguir adiante», revela confiante Nuno David. «Abrir esta loja numa época como esta é uma verdadeira aventura, mas acreditamos que esta fase má vai passar. Este conceito vai ao encontro da reunião entre amigos que gostam de apreciar bons vinhos e gastronomia», completa Paulo Laureano.
Situado numa casa amarela em frente ao Palácio de Queluz, o ‘Impecável’ serve petiscos nacionais elaborados pela equipa de cozinha residente, mas também pretende convidar chefes de cozinha de vez em quando, organizando semanas gastronómicas. Nos vinhos, vai ser a mesma coisa. «O restaurante serve os meus vinhos em exclusivo mas queremos pontualmente ter vinhos de outros produtores que, tal como eu, respeitem as castas portuguesas», afirma Paulo Laureano.
Com adega estabelecida na Vidigueira, Paulo Laureano é, no entanto, um enólogo viajado que gosta de explorar outras paragens: «Portugal é um país riquíssimo, com vinhos espantosos. Tenho procurado ir buscar a algumas regiões o melhor de cada uma delas. Vinhos frescos, com carácter e longevidade», afirma o enólogo.
Viagens com Vinho
Aproveitando a inauguração do espaço, Paulo Laureano apresentou ainda novas colheitas e algumas novidades. O Casa das Infantas by Paulo Laureano Escolha branco 2018 foi o primeiro de uma série de brancos gastronómicos. Este é proveniente da região dos vinhos verdes, obtido a partir da casta Loureiro, produzido na propriedade de Diogo Villas Boas, em Guimarães. As uvas foram colhidas dos 7 hectares de vinhas, numa encosta virada a sul, dispostas em largos patamares e num solo de origem granítica. No aroma é floral, citrino, salino, com boa estrutura de boca e excelente acidez.
A viagem seguiu para as ilhas, com o branco Paulo Laureano IG Açores 2018. Há mais de 20 anos que Paulo Laureano faz consultoria para a empresa Curral de Atlantis, no Pico, e foi neste produtor que o enólogo fez o seu primeiro vinho. Este branco tem como base a Arinto dos Açores complementado com Verdelho. Fermentou em inox, estagiou sobre uma borra fina de levedura e, após o engarrafamento, permaneceu na adega 12 meses antes do seu lançamento. Salinidade, mineralidade, fruta tropical. Um branco de grande carácter, muito elegante, equilibrado e com uma acidez vibrante.
De regresso ao Continente, foi a vez de provar o Paulo Laureano DOC Bucelas 2017, região de Lisboa, produzido a partir das vinhas de António Paneiro Pinto, de quem o enólogo é consultor há vários anos. Os vales de Bucelas protegem as vinhas dos ventos do mar, e os seus solos derivados de margas e calcários duros marcam a personalidade das suas duas castas brancas mais importantes, a Arinto e a Esgana Cão (Cercial). Estagiou em inox e ai foi deixado com uma borra fina de levedura durante um ano, sem bâtonnage. O seu aroma é mineral, com notas de polpa branca. Seco, longo e com excelente acidez.
Paulo Laureano Genus Generationes Maria Teresa Laureano Verdelho 2018 foi o vinho seguinte. É um branco elaborado a partir da casta verdelho, de plantas trazidas da Madeira e enxertadas na Vidigueira, dedicado à filha do enólogo. Fermentado apenas em inox, é salino, citrino e mineral. Fresco e elegante.
Outro branco complementa esta série. A casta Antão Vaz, ex-libris da Vidigueira, deu origem ao Paulo Laureano Vinhas Velhas Private Selection branco 2018, produzido a partir das melhores uvas de vinhas velhas implantadas em solos com xisto negro e clima quente com alguma forte amplitude térmica, o que permite uma boa concentração das uvas. Fermentou e estagiou em barricas de carvalho francês durante 6 meses. No aroma é tropical, citrino, mineral. Na boca revela boa frescura, estrutura e é envolvente.
Vinhos em par e um de sobremesa
Quando o Norwegian Sea Food Council desafiou Paulo Laureano a desenhar um vinho para acompanhar pratos de Bacalhau, o enólogo acabou por desenhar dois. O primeiro é um branco (Paulo Laureano Bacalhau Escolha DOC Vidigueira 2018) e o segundo, um tinto (Paulo Laureano Bacalhau Escolha DOC Vidigueira Tinto 2015). O branco é elaborado com Antão Vaz da Vidigueira, fermentado e estagiado em barricas de carvalho francês, muito tropical e com notas minerais. Na boca é macio, muito fresco e untuoso. Já o tinto resulta de uma selecção de uvas de elevada concentração das castas Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet e Tinta Grossa. De aroma frutado, vegetal, notas de especiaria e cacau, é um tinto de excelente frescura, elegância e prolongado. São vinhos que não integram o portfolio de forma permanente, estando apenas disponíveis entre a Páscoa e o Natal, as duas épocas marcantes de consumo do bacalhau.
Outros dois vinhos apresentados em par foram o Inventum branco 2018 e o Inventum tinto 2015. Inventum é a palavra em latim para descoberta. A Vidigueira é uma terra de descobridores, com o Almirante Vasco da Gama à cabeça. Esta linha de vinhos, desenhada em exclusivo para a distribuidora Garcias Gourmet, quer levar as castas mais emblemáticas da Vidigueira à descoberta de novos consumidores, esperando que também esses consumidores as descubram e percebam a diferença que a Vidigueira imprime na personalidade dos vinhos. No branco, a casta Antão Vaz fermentou em barricas novas e usadas, tendo estagiado nestas últimas. O aroma é de fruta tropical mais densa, citrinos e alguma fruta branca. Macio, fresco.
A versão em tinto, é elaborada com Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet e Tinta Grossa. Esta última casta é exclusiva da região da Vidigueira e foi levada quase à extinção, mas Paulo Laureano Vinus resgatou-a e, inclusivamente, produz um varietal com a mesma. Depois de ter fermentado, o vinho estagiou em barricas de 12 meses e ficou em garrafa, procurando o equilíbrio e a harmonia. Tem fruta preta no aroma, especiaria, menta, chocolate e notas tostadas. É fresco, denso, equilibrado.
Por último, foi ainda provado um vinho de sobremesa, uma surpresa insular que só irá para o mercado no final do ano. É um licoroso do Pico da casta verdelho, uma pérola rara que deu origem a apenas 400 garrafas. Joias destas não se provam todos os dias.