Paulo Laureano parceiro da Parras Wines
Esta é, sem dúvida, uma nova etapa na vida do enólogo Paulo Laureano mas também da Parras. Alia-se assim a produção de vinhos de referência a uma empresa mais conhecida por produzir vinhos consistentes mas de grande volume, que aumenta agora o seu portfolio de vinhos premium. Ficam ambos a ganhar.
Quem se recorda dos saudosos anos 90 - foi nesta década que comecei a estudar sobre vinho e acompanhei toda uma geração de enólogos que revolucionou os vinhos portugueses - sabe que Paulo Laureano foi um dos que mais comunicou o seu trabalho com as castas portuguesas. Ele, que esteve na Austrália, onde esteve a aprofundar os seus conhecimentos, mas sem nunca perder o foco da genuinidade das nossas castas. Já regressado a terras lusas, continuou a dar aulas na universidade de Évora e trabalhou como consultor em inúmeras adegas portuguesas. Em 1998, acabou por criar a sua empresa familiar, a Paulo Laureano Vinus. Muitas vindimas volvidas, Paulo Laureano tornou-se num dos mais reconhecidos enólogos portugueses, agora aliado ao Grupo Parras, um dos principais players nacionais na produção de vinhos. Preservar tanto quanto possível as castas portuguesas, em particular as da região do Alentejo, como a Tinta Grossa, e potenciar as características únicas deste terroir, continuam a ser os principais objetivos de Paulo Laureano.
De forma a marcar esta nova etapa, a Parras apostou no rebranding total dos vinhos com o objetivo de aumentar a presença e visibilidade no mercado português, e foram tomadas outras decisões estratégicas com o mesmo fim. Assim, o nome Paulo Laureano Vinus passa a Paulo Laureano Wines. Os rótulos são novos, mais estilizados. O trabalho das castas iniciada por Paulo Laureano mantem-se mas a estrutura empresarial, agora mais abrangente, vai possibilitar um maior crescimento do trabalho já desenvolvido.
Os vinhos da Paulo Laureano Wines são produzidos no Monte Novo da Lisboa, em plena Vidigueira, numa propriedade com 110 hectares de vinha. Como sempre defendeu Paulo Laureano, esta região «revela um Alentejo diferente». É o Alentejo da Vidigueira, com uma formação geológica das mais antigas do país, pequenas encostas e um o solo de xisto negro, muito duro, que oferece aos vinhos uma mineralidade muito acentuada e uma grande frescura. As amplitudes térmicas acentuadas, onde de dia os termómetros chegam aos 45º e à noite não ultrapassam os 12º, também ajudam, porque as maturações são mais lentas. Tudo isto resulta em vinhos com maior concentração, mais cor e melhor acidez, essencial ao equilíbrio dos vinhos. «Nós fazemos vinhos com castas portuguesas porque são as melhores do mundo? Não, definitivamente não. Também não são as piores, são diferentes. E têm uma coisa muito interessante: estão ligadas aos terroirs, têm uma adaptação de séculos, estão ligadas às tradições regionais, à gastronomia e a tudo o que tem a ver com cada uma das regiões. E isso é aquilo que mais nos distingue em termos de vinhos em Portugal», afirma Paulo Laureano.
As referências agora lançadas, o Paulo Laureano Colheita (tinto), os Nosso Terroir (branco e tinto), um Vinho de Talha (tinto) e Três Monocastas– Verdelho, Alfrocheiro e Tinta Grossa (branco e tintos, respectivamente), só são lançadas em anos em que a qualidade o permite, e estarão disponíveis agora, entre os meses de Dezembro e Janeiro.
O Paulo Laureano Colheita Tinto 2020 é elaborado a partir de Aragonês, Trincadeira e Alicante Bouschet. Este colheita apresenta notas de fruta madura, mas está bem marcado com as notas vegetais, de especiaria e menta dadas pela Trincadeira. É o vinho mais acessível da gama (ronda os 6€), é macio, equilibrado e elegante. «Acredito que a Trincadeira será uma das castas do futuro devido às condições climatéricas», defende o enólogo.
O Paulo Laureano, Nosso Terroir Branco e tinto 2021 (anteriormente denominados de Paulo Laureano vinhas Velhas) vêm subir um pouco mais a fasquia de qualidade e de preço (rondam os €10,25). Antão Vaz, Arinto e Fernão Pires são o ponto de partida para o branco onde são evidentes as notas de fruta tropical e flores maduras. Mineralidade, elegância, frescura e final longo é uma expressão clara do terroir da Vidigueira. Já no tinto são as castas Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet que dão cartas, e onde estão bem presentes notas de ameixas maduras, especiaria, menta café verde e tosta. É um vinho estruturado, fresco com taninos longos e aveludados.
Entrando agora pelos vinhos mais sérios, o Paulo Laureano Verdelho branco 2019 (cerca de €20,35) é obtido a partir de vinhas velhas provenientes da Ilha da Madeira, plantadas nos solos da Vidigueira. Após a fermentação das uvas, estagia sob borra fina para garantir a sua untuosidade. «Estamos perante um vinho salino, mineral com alguma fruta tropical», revela Paulo Laureano. É um vinho fresco, profundo e elegante.
Outro vinho curioso é o Paulo Laureano Vinho de Talha Tinto 2018 (€31,76) feito a partir de uma mistura de castas tintas, de vinhas velhas da Vidigueira, vinificadas segundo técnicas seculares em talhas de barro. «Estagia 24 meses em barricas velhas de 600 litros para o tornar mais elegante, sem perder a identidade. O estágio longo em garrafa garante o seu balanço e harmonia», garante o enólogo.
Já no Paulo Laureano Alfrocheiro Tinto 2018 estamos perante um vinho de aroma a frutos do bosque maduros, com ligeira especiaria. Na boca tem boa acidez, é elegante e estruturado, com final persistente. «Após fermentação maloláctica em barricas de carvalho francês, matura nas mesmas barricas 12 meses e estagia em garrafa 24 meses», diz Paulo Laureano. E remata: «A Alfrocheiro está presente há mais de 100 anos na Vidigueira, mas é mais comum ouvir falar dela na região do Dão. É uma casta de maturação curta, e o aroma que conseguimos neste vinho, de frutos do bosque, de mirtilos, é raro no Alentejo, porque tem um clima mais quente, mas o facto é que conseguimos este aroma mais fresco e elegante».
Destaca-se por último, um grande vinho, e um dos que mais aprecio, o Paulo Laureano Tinta Grossa Tinto 2017. Depois do desengace total sem esmagamento, fermenta em inox a 25º. Posteriormente a maturação faz-se em barricas de carvalho francês usado (18 meses) e estágio em garrafa durante dois anos. De cor granada e aroma a madeiras exóticas, frutos silvestres maduros e especiaria. É um vinho macio, acidez evidente e muita elegância. Final de boca longo e marcante. «A casta é extraordinária, muito interessante, tem um conjunto exótico de aroma e sabor. É uma variedade muito antiga na Vidigueira, que entretanto terá sofrido mutações. Era muito utilizada para o vinho de talha e o povo chamava-a de ‘Tinta da Nossa’. Em breve vai ser plantada uma nova vinha, porque tem um enorme potencial, mas este vinho é elaborado a partir de vinhas velhas que têm entre os 790 e os 80 anos», remata.
Sobre a Parras Wines: Oriundo de uma família com ligações aos vinhos, Luís Vieira é o CEO do grupo Parras. A empresa é detentora da Quinta do Gradil, no Cadaval, uma propriedade com 200 hectares dos quais 120 são vinha. Neste momento o Parras Wines tem vinhos de seis regiões vitivinícolas portuguesas.