Paz, Sossego e bom vinho
A Quinta do Saião encontra-se junto à aldeia do Pocinho, num belo anfiteatro natural sobre o rio Douro. Além de refúgio familiar da família Van Zeller, a propriedade é também um lugar de vinha, vinho e de hospitalidade.
Até o final do século XVIII, o Cachão da Valeira, um estreito desfiladeiro dominado por uma enorme cascata, impedia a expansão das actividades económicas na região do Douro Superior. Por essa razão, a região a montante deste desfiladeiro não via interesse em cultivar vinhas, visto que o escoamento da produção encontrava barreiras quase insuperáveis. No entanto, no final de 1790, esforços para desobstruir o Cachão da Valeira permitiram as primeiras travessias. Este marco gerou um interesse renovado pela região do Douro Superior mas, mesmo assim, atravessar esses rápidos era uma tarefa arriscada, reservada apenas aos corajosos e audaciosos. Décadas passadas, e já com o problema de navegação resolvido, o Douro revela o seu valor através da produção de grandes vinhos.
É exactamente no Douro Superior, junto à aldeia do Pocinho, que se situa a Quinta do Saião, desde 2012 nas mãos da família Van Zeller, um nome bem conhecido por terras durienses, também eles produtores de vinho do Douro e Porto.
Saião é uma palavra portuguesa que se refere a uma planta medicinal, também conhecida como folha-da-fortuna ou orelha-de-onça, cujo nome científico é Kalanchoe pinnata. Esta planta é nativa de Madagascar, mas foi amplamente disseminada em muitas regiões tropicais ao redor do mundo. No entanto, Saião também pode referir-se a um antigo guerreiro ou soldado. Nesse contexto, o termo pode estar relacionado com uma vestimenta militar específica, uma espécie de armadura ou manto que era usada por esses guerreiros. Não se sabe se terá sido por existir essa planta na propriedade, ou se por lá passou algum guerreiro, mas a verdade é que desde a sua fundação, a propriedade se chama assim. E o se sabe de certeza, é que nos 150 hectares da quinta, a atividade vitivinícola sempre foi muito importante. Por último, nas zonas de maior relevo da quinta, predomina ainda uma floresta de carrascos (Quercus coccifera), giestas e azinheiras, entre outras espécies vegetais, entre as quais a cornalheira, sobreira, oliveira e zimbro. A vinha ocupa hoje 10 hectares.
Os caminhos existentes conferem à paisagem um caráter único: bem desenhados e consolidados ao longo da topografia mais favorável, acentuam o movimento natural do terreno, envolvendo-nos num jogo de curvas e contra-curvas que nos oferecem e tiram o rio. O agroturismo / enoturismo, quartos a partir de ruínas da quinta recuperadas e perfeitamente fundidas na paisagem, complementam o negócio do vinho.
Segundo Fernando Vanzeller, o projeto turístico da Quinta do Saião tem caraterísticas ímpares na região do Douro Superior. «O pequeno castro do Saião resultou da restauração de ruínas existentes na quinta respeitando a arquitetura e métodos construtivos da região. É constituído por dez quartos, duas salas para refeições destinadas aos hóspedes, um centro de visitas com sala de provas e uma adega tradicional com lagares onde são produzidos alguns dos nossos Vinhos do Porto e Douro biológicos» explica Fernando, que juntamente com o irmão e sócio, o enólogo Álvaro Van Zeller, gere a quinta. «Os quartos e suites foram distribuídos pelos cinco edifícios que já existiam e baptizados com os nomes que reportam às funções que originalmente tinham: A casa principal, o lagar de azeite, a casa das ovelhas, a casa do forno e a casa da eira», remata.
O jardim e a piscina, desenhados para tirar proveito da melhor luz e enquadramento da propriedade dão a oportunidade ao visitante de estar em família num lugar isolado, silencioso e confortável. «Trata-se de um tipo de Enoturismo Premium, de luxo, onde todos os detalhes contam. Cada visitante é único, e por isso vamos ao encontro daquilo que cada um quer». As provas de vinho exclusivas, os trilhos pedestres, os passeios, as idas à vinha são alguns dos momentos que marcam a memória de quem por ali passa.
A profundidade do Douro Superior
A família Van Zeller tem-se destacado na história da região, na produção de vinhos do Douro e Porto. Mais recentemente, em 1996, fundaram a empresa Barão de Vilar a partir de um pequeno stock de vinho comprado pelo pai, Fernando Luis Van Zeller, entregue posteriormente aos seus filhos, Fernando e Álvaro Van Zeller. Em 2012, com a aquisição da Quinta do Saião, decidiram avançar com um novo desafio vínico iniciado com a produção de um tinto muito especial, o Quinta do Castro do Saião, da colheita de 2020. Para tal, Álvaro Vanzeller conta com o apoio do colega e amigo de longa data, o enólogo Manuel Vieira, mas também da enóloga Mafalda Machado, que também abrilhanta a equipa. «O perfil do vinho foi uma ideia partilhada entre os três e, no final, foi o Álvaro a fechar ‘a ordem de trabalhos. É sempre bom ter três cabeças a pensar e, no final, uma delas para desempatar, se for o caso», revela Manuel Vieira.
O ano vitivinícola de 2019 - 2020 registou variações assinaláveis em termos de temperatura e precipitação, sendo categorizado como uma época quente e seca. A chuva da Primavera contribuiu para o crescimento robusto das vinhas até uma fase avançada, e Julho sobressaiu como o mês mais quente desde 1931, apresentando-se extremamente seco, o que levou nos finais de Agosto a uma desidratação dos cachos e consequente redução da produção. «A vindima ocorreu mais cedo do que o habitual, mas os mostos vindimados revelaram uma boa qualidade, com teores elevados de açúcar, acidez adequada e uma rica presença de compostos fenólicos», afirma Álvaro Vanzeller.
Colhidas manualmente no início de Setembro, as uvas seguiram para a adega, onde depois foram arrefecidas. Seguiu-se a maceração pelicular em lagar, durante 24 horas, antes de serem movidas para uma cuba, onde a maceração a frio prosseguiu por mais três dias, antecedendo a inoculação. A fermentação, a temperatura controlada, durou 9 dias. Por último, estagiou 24 meses em barricas de carvalho francês novas e o restante em cubas de inox antes de ser engarrafado. «As barricas são de grão fino e tosta média» revela Mafalda Machado. «Apesar das barricas serem novas, a madeira quase não se sente, está muito bem integrada», revela Mafalda Machado. O vinho resultou em 5300 garrafas.
Elaborado com as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Francisca, Sousão e Alicante Bouschet, provenientes de diferentes vinhas da Quinta do Saião, com diferentes exposições e idades, é um tinto que marca a sua presença com uma enorme elegância. No aroma revela notas minerais, de fruta preta e algum balsâmico. Na boca é estruturado, robusto mas sem os taninos a agredir o paladar. Muito fresco, com um longo e profundo final de boca. Um tinto de respeito.