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Peixe (e vinhos) à vista!

Ocean to Table (Oceano para a Mesa, em português) é o nome do novo restaurante de cozinha de autor, em Belém, onde os apreciadores de boa gastronomia e vinho descobrem novos sabores do mar e da adega.

Nada como um peixinho na grelha e um vinho branco a acompanhar, é verdade, mas em Portugal há muito mais que isso. A nossa riqueza gastronómica, aliada à quantidade e variedade de peixes existente à disposição dos portugueses, levou Sérgio Frade, proprietário do Guelra, juntamente com seu irmão, Pedro Frade, e Alessandra Haiat (diretores de operações) à abertura de um novo espaço, em Belém, onde o foco é o peixe e os vinhos que a sua família produz na Vidigueira.

Os irmãos, que já são proprietários do restaurante O Frade, não muito longe dali, no início da Calçada da Ajuda, e ainda de outro espaço no Mercado Time Out, sentiam desde há algum tempo a necessidade de ir mais além numa zona altamente turística mas onde não existem restaurantes de autor que pudessem mostrar a qualidade da nossa riqueza marítima. Assim, um antigo restaurante tradicional da zona foi comprado e renovado para dar lugar ao Guelra, um espaço inaugurado em Setembro de 2023 que assume o estilo de cozinha de autor, de forma criativa e contemporânea, através de um menu diferenciador e exclusivo com peixe e marisco. Aqui chegam os produtos mais frescos, mas o ingrediente secreto, segundo Sérgio Frade, é mesmo «o espírito de equipa, a dedicação, paixão e trabalho árduo que está na criação e confeção de cada prato».

No balcão (em cima) e na esplanada do Guelra servem-se petiscos mais descontraídos. No andar de cima do restaurante (na foto em baixo) são servidos pratos mais complexos.
No restaurante são servidos os vinhos de talha da família



Ao entrar no Guelra, a decoração remete imediatamente para o universo marítimo. As cores azul e branco predominam, e o balcão de sete lugares, que convida logo a sentar, lembra também a mística dos barcos de cruzeiro. Na cozinha está o chefe, Manuel Barreto (na foto de entrada), e tem a seu lado Diogo Machado, chefe de sala e responsável pela carta de vinhos - que em conjunto trabalharam para criar os melhores pairings para uma experiência gastronómica, quer ao balcão, quer na esplanada ou no andar de cima, mas sempre com produtos de alta qualidade. «A ideia passa por servimos no andar de baixo e na esplanada pratos mais descontraídos, e na sala de cima termos uma abordagem mais ampla, focada em pratos mais sofisticados de peixe e marisco», revela Sérgio Frade.

Quanto aos vinhos, a carta revela uma escolha pensada não em quantidade mas em qualidade, estando o foco nos vinhos de talha produzidos na família Frade, no Alentejo, mas também em vinhos do Douro (no pódio com o maior número de vinhos e com o Alentejo em segundo lugar), seguido pelo Dão, Lisboa e Açores. Há, ainda, vinhos fortificados e champanhes, e vinhos estrangeiros de Espanha, França, Alemanha, África do sul, Nova Zelândia, entre outros, alguns deles de amigos que o proprietário tem pelo mundo, como, por exemplo, os vinhos Bethléem, da Borgonha, do produtor Arnaud Boué. Os cocktais e mocktails, mais descontraídos, assim como a cerveja, também fazem parte das opções bebíveis.

Mas voltando ao menu, tanto a carta de petiscos como os pratos principais revelam o trabalho da equipa de cozinha de forma saborosa e consistente, que passa por sabores nacionais, mas também internacionais, para lhe dar um toque de exotismo e originalidade. Ao balcão, brilhou o petisco de Bacalhau (brandade, sames e língua de bacalhau) e a tostada de camarão (tortilhas de camarão, romesco e ponzu). Lá em cima, na sala, surgiu o Tártaro de Atum (com wasabi, alho negro, maçã e aipo), o Maguro Sando (atum rabilho, sriracha e coleslaw), o Puntinillas (Choco, tinta de choco e lima) entre outros pratos que fazem brilhar os nossos peixes. Peixes e outros produtos como a moreia, a cavala ou o imperador fazem parte do menu, que também tem uma opção de pratos sazonais e disponíveis ao dia, divididos em três opções com nomes engraçados (o que vem à rede é peixe; pela guelra; e do oceano para a mesa) que o empregado de mesa sugere consoante a disponibilidade dos fornecedores. «trabalhamos especialmente com dois fornecedores mas temos outros com quem também contamos para nos trazerem os produtos mais frescos. E estas opções têm muito a ver com a oferta de peixe e marisco do dia», explica o chefe, Manuel Barreto. Nas sobremesas, deliciaram o paladar a tarte de queijo basco com amendoim e o arroz doce, que surge numa textura bem diferente .

O Bacalhau (em cima) e a Tostada de atum (em baixo) são petiscos de eleição no Guelra
Uma cozinha focada nos peixes e mariscos
No andar de cima servem-se pratos mais complexos
Pratos para partilhar
Os sabores tradicionais estão presentes mas também internacionais

Sérgio Frade (em baixo) com o vinho de talha Guelra, produzido na Vidigueira pela sua família especialmente para o restaurante.



Sendo produtores de vinho de talha, Sérgio não deixa a oportunidade de destacar o vinho produzido pela família desde o tempo do avô, na Vidigueira. «Vinhos de talha do nosso Alentejo, resultado de um processo 100% natural que, após uma longa fermentação de dois a três meses, estagiam seis meses noutras talhas de barro, e mais três anos em garrafa», revela. São eles os brancos Guelra, Talha 1856 e Castas Antigas; e o tinto 1X1, que fazem parte do portfolio familiar. «Para acompanhar alguns pratos desta refeição escolhemos o Guelra branco, um vinho de talha feito especialmente para o restaurante, elaborado com as castas tradicionais Antão Vaz, Arinto, Larião, Manteúdo, Perrum e Síria. É um vinho com boa frescura, onde notamos q.b. a rusticidade dos vinhos de talha, mas com um perfil ao mesmo tempo muito elegante», remata Sérgio.