Pensar a IA nos sectores do Vinho e do Turismo
O 49º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) aconteceu há semanas em Huelva, Andaluzia, e trouxe consigo uma discussão que apontou diretamente para o futuro e me fez pensar na sua adaptação ao mundo do vinho e do enoturismo.
Ir a estes congressos é sempre uma espécie de ‘kinder surpresa’. No início achamos que será apenas mais uma edição de discursos e debates previsíveis, mas a verdade é que, invariavelmente, há boas surpresas que elevam as nossas expectativas iniciais. Foi assim que, em três dias de intensas conversas, o turismo foi repensado e reorientado, desta vez com uma dose acentuada de inteligência artificial e inovação digital. Tema que, há poucos anos, parecia distantes deste setor. Mas agora, são uma urgência.
Entre as intervenções mais interessantes esteve Sérgio Ferreira, Partner da EY e uma personalidade de peso na área da tecnologia, que trouxe uma visão provocadora e abrangente sobre a inteligência artificial no turismo. No seu painel ‘IA – uma jornada para todas as empresas’, Ferreira iniciou a sua palestra com uma reflexão histórica, levando os presentes a uma viagem desde os primórdios da humanidade até o actual cenário tecnológico. De forma instigante, afirmou que as máquinas, hoje, já são capazes de falar, escrever, ler, raciocinar e produzir conteúdos, destacando que «isso é o pior que elas vão ser», dado que a IA está em constante evolução.
Durante a sessão, apresentou também três grandes tendências que estão a transformar o mercado: a Quantum AI, a IA encarnada (embodied AI) e as interfaces cérebro-máquina. Explicou que estamos a viver num mundo de organizações algorítmicas, onde a transição das interações humanas para experiências mediadas por algoritmos está a remodelar o comportamento humano e a forma como interagimos com a tecnologia. Nas suas palavras, «A IA somos todos nós», ou seja, a tecnologia foi construída a partir do conhecimento humano acumulado ao longo de milhares de anos.
O especialista destacou que, com o acesso global à IA, o verdadeiro desafio para as empresas é criar produtos e serviços que se destaquem, usando como exemplo a Amadeus, que emprega simulações para melhorar a eficiência operacional; e a Hilton, que desenvolve experiências de hospitalidade personalizadas através de um concierge digital. Delineou, ainda, cinco pilares essenciais para uma jornada de sucesso com IA: uma estratégia de IA sólida e ética, promoção de literacia e formação, identificação de casos de uso com valor agregado, e a criação de laboratórios para experimentação contínua.
Por último, mostrou um vídeo gerado pela IA HeyGen, no qual um avatar comunicava em várias línguas, exemplificando o potencial da tecnologia para conectar empresas com públicos globais. Ele concluiu, com uma visão otimista e humanista sobre o papel da IA, argumentando que, com o auxílio de agentes digitais que assumem tarefas rotineiras, os profissionais terão mais tempo para o que realmente importa, ou seja, as relações entre vendedor e cliente ou parceiro de negócios.
Estas ideias trazidas por Sérgio Ferreira destacam o quanto a IA pode ser uma verdadeira aliada não só para o Turismo, mas fazem-nos obrigatoriamente refletir sobre outras áreas, nomeadamente nos sectores que abraço, o vinho e o enoturismo. Com a IA, há uma oportunidade real de elevar a experiência do visitante, trazendo um nível de personalização nunca antes visto. Desde interfaces que compreendem preferências individuais, passando por robôs interativos que ajudam a transmitir a história de uma adega de forma inovadora, até sistemas que ajustam as ofertas ao perfil do visitante em tempo real. Ou seja, o uso estratégico da IA nos sectores do vinho e do enoturismo pode ser transformador, e por isso não podemos escapar esta oportunidade de nos destacarmos e respondermos às expectativas dos enoturistas contemporâneos.
Assim, um dos temas do próximo Encontro dos Profissionais de Enoturismo será a adaptação da IA ao sector. Vamos pensar juntos?