Crónica

Qual é o melhor vinho do mundo?

Quando começamos a gostar de vinho e procuramos mais informação sobre o tema, é natural que queiramos certezas absolutas para compreendê-lo melhor. Uma das perguntas que mais me fazem é: qual é o melhor vinho português; ou o melhor vinho do mundo? A resposta é simples: isso não existe. É um mito. Há muitos bons vinhos em Portugal e no mundo e, ao dizer isto, sei que estou literalmente a destruir as expectativas de quem busca o ‘grande segredo’ do vinho! Parece frustrante mas, na verdade, não é! Porque, ao procurar essa resposta, somos desafiados a aprender e a evoluir na nossa compreensão sobre o que realmente define um bom vinho.

É perfeitamente válido estudar e, acima de tudo, provar muitos vinhos. Só assim se domina a técnica de prova. E essa técnica é a chave para perceber o patamar de qualidade de um vinho, se alguma característica se sobrepõe às outras e, no final, se há harmonia.

Imaginemos que estamos a provar dois grandes vinhos de igual qualidade e pontuação. Duas pessoas podem preferir vinhos diferentes, simplesmente porque gostam de estilos diferentes. Quem pode dizer que o Barca Velha é melhor do que o Pêra Manca, ou que o Romanée-Conti é melhor do que o Petrus? Obviamente, são vinhos de altíssimo nível, mas os perfis são completamente difentes. São grandes vinhos, mas vêm de regiões e castas distintas, e a escolha do apreciador vai depender do estilo de vinho que mais aprecia.

E vou ainda mais longe: quem me diz que um produtor mais recente, com a mesma exigência de qualidade, não pode produzir um vinho tão bom como o Barca Velha ou o Pêra Manca, consideradas as grandes marcas clássicas de referência em Portugal ? Claro que pode! Existem hoje muitos vinhos com o mesmo nível de qualidade, embora não tenham a carga histórica e o marketing que acompanham estes grandes nomes. E o mesmo acontece fora de Portugal.

Por fim, algo interessante que me acontece frequentemente quando estou a avaliar vinhos em concursos nacionais ou internacionais (e aqui falo de vinhos que podem ou não ter diferentes níveis de qualidade): é que, por vezes, dou melhores pontuações a vinhos que não são, necessariamente, do meu gosto pessoal. Isso acontece quando o vinho, apesar de não ser o meu estilo preferido, apresenta características técnicas superiores que merecem ser reconhecidas.

Portanto, meus amigos, é isto: uma coisa é a prova técnica, outra coisa é a apreciação pessoal. Se um vinho tem uma pontuação alta, significa apenas que um especialista avaliou as suas características de forma rigorosa. Gostemos mais ou menos, aquele vinho é tecnicamente bom. Mas, no final, tudo se resume ao gosto de cada um, a um vinho que nos saiba bem.