Rui Moura Alves, o senhor vinagre
O título assenta-lhe como uma luva. Não por ser azedo – antes pelo contrário, é um doce de pessoa – mas porque é o homem que melhor faz vinagres em Portugal.
Falar da história vitivinícola da Bairrada sem falar de Rui Moura Alves é impossível. Haverá poucos homens que conheçam tão bem a região como ele. Natural de Sangalhos, começou a trabalhar muito cedo no mundo dos vinhos. Tinha então 14 anos quando se iniciou nas antigas Caves Império e, aos 17, já era o responsável pelas vindimas da empresa. Uma aprendizagem precoce, consolidada ao longo dos anos, que lhe serviu à futura profissão de enólogo.
Ficou 25 anos nas Caves Império, mas também prestou consultoria a outros produtores, sendo o responsável por reputados vinhos, entre os quais Sidónio de Sousa e Quinta das Bágeiras. Pelos seus vinhos, já recebeu diversos prémios e distinções. A par das consultorias assume ainda a direcção enológica do laboratório SoAnálise, e também produz vinagres.
É num armazém contíguo ao laboratório e à sua casa, que Rui Moura Alves desenvolve a actividade de vinagreiro, uma área onde trabalha com igual paixão à do vinho. O espaço tem armazenadas várias barricas de carvalho onde ao longo dos anos o vinho se vai transformando em vinagre. Para que isso aconteça, tem de haver arejamento natural e oscilações de temperatura, elevada no Verão e baixa no Inverno. E assim se vai dando a transformação, ao longo de dez anos, sendo que cada ano, segundo o enólogo, corresponde a um grau de acidez (o vinagre vai transformando o álcool em ácido acético).
Quando começou a fazer vinagre, recorda-se, foram muitos os que o criticaram, afinal, um enólogo supostamente tem é de fazer vinho. A teimosia e a paixão pelo vinagre valeu-lhe a fama que tem hoje. Uma garrafa de Vinagre Moura Alves, seja ‘normal’ ou ‘reserva’ valem mais do que muitas garrafas de vinho. É um produto natural, exclusivo, feito com toda a dedicação por Moura Alves que já é considerado o homem que mais sabe de vinagres no país.
Segundo Moura Alves, o segredo para se fazer bom vinagre não tem a ver com castas mas sim com a qualidade dos vinhos (brancos e tintos) que são colocados na mãe de vinagre , uma membrana gelatinosa e aveludada que se forma inicialmente por cima do vinho e que contém as bactérias necessárias ao processo de transformação do álcool em vinho. No final, e segundo a lei, o produto não pode ultrapassar os dois graus de álcool. Presentes em alguns dos melhores restaurantes do país e em lojas de produtos gourmet de referência, os vinagres Moura Alves já são hoje imprescindíveis à boa mesa, algo que o enólogo se pode orgulhar.
Além dos vinhos e vinagres, Rui Moura Alves tem ainda a paixão das
aguardentes. Por isso, faz questão de mostrar a sua colecção de mais de 750
garrafas, iniciada em 1972, todas elas registadas e catalogadas. Um trabalho de
paciência, feito com esmero e dedicação. Aliás, como tudo o que faz.