Sabores Tradicionais destacados no Enoturismo da Adega de Borba
São 270 viticultores, 2.260 hectares de vinha, e muitas toneladas de uva a produzir vinho através de uma das cooperativas mais reconhecidas do país. Mais recentemente, a adega também tem vindo a investir na área do enoturismo.
O movimento cooperativo de vinho em Portugal ganhou um impulso significativo em meados do século XX, principalmente após a revolução de 25 de Abril de 1974, tendo desempenhado um papel importante na produção e na economia vitivinícola nacional. Na época, as cooperativas surgiram como uma resposta às dificuldades enfrentadas nas zonas rurais pelos pequenos produtores de vinho, onde as condições socio-económicas não lhes permitiam muitas vezes competir no mercado global.
Com o estabelecimento da democracia e a subsequente reforma agrária, muitas terras foram redistribuídas e os pequenos agricultores foram encorajados a unir-se em cooperativas para fortalecer sua posição no mercado. Esta união permitiu juntar recursos e conhecimentos, melhorar a qualidade e a competitividade dos vinhos e obter acesso a mercados mais amplos. Além disso, as cooperativas desempenharam um papel importante na preservação das tradições vitivinícolas locais e, mais recentemente, na promoção do Enoturismo em Portugal.
Fundada em 1955, a Adega de Borba não fugiu à regra, tendo-se afirmado como uma das melhores cooperativas do país, produtora de vinho de qualidade, desde os vinhos de entrada aos vinhos premium. «A Cooperativa Agrícola de Borba tem sido uma força motriz na modernização da viticultura e enologia na região, investindo em tecnologia de ponta e práticas sustentáveis de produção. Além disso, desempenha um papel ativo na promoção dos vinhos de Borba tanto no mercado nacional quanto internacional, contribuindo assim para a crescente reputação dos vinhos do Alentejo», afirma o Responsável de Enologia da adega, Óscar Gato.
Borba é a segunda maior sub-região vitivinícola do Alentejo, ligando várias vilas e cidades como Estremoz, Terrugem, Orada, Vila Viçosa, Rio de Moinhos e Alandroal. Todas elas se distinguem pelos seus solos, que inclui grandes depósitos de mármore que influenciaram em grande escala a viticultura e o caráter dos vinhos. As manchas alargadas de xisto vermelho, distribuídas heterogeneamente por terras pobres e austeras, marcam também a tipologia alternativa de Borba. De salientar ainda o seu microclima especial, que assegura índices de pluviosidade levemente superiores à média, bem como níveis de insolação ligeiramente inferiores, proporcionando vinhos equilibrados. A história da adega e dos seus vinhos é muito rica e pode ser conhecida de perto através das visitas que os apreciadores de vinho fazem à adega.
O Investimento no Enoturismo
À conta do aumento da qualidade dos seus vinhos, a adega de Borba aproveitou o reconhecimento público para investir em actividades de enoturismo e assim poder receber condignamente os seus visitantes. Assim, além da visita à adega (que pode incluir as duas adegas da cooperativa, a antiga e a mais recente) com prova de vinhos, a adega tem uma sala grande para eventos e um auditório, mais virado para encontros empresariais, acções de formação ou cursos de prova. Junto à adega mais antiga, há ainda uma grande loja de vinhos onde, tanto a comunidade local como quem vem de fora, pode comprar vinho e outros produtos da adega.
Para complementar a oferta, a Adega de Borba decidiu ainda abrir um restaurante de comida tradicional. «O restaurante era um antigo armazém onde se guardavam paletes e caixas de vinho, tinha por isso muito espaço que decidimos aproveitar», explica Óscar Gato. E continua: «O espaço foi inaugurado em Fevereiro de 2019, e é explorado pelos antigos donos do ‘restaurante Espiga’, um restaurante muito conhecido aqui em Borba. Aqui são servidos muitos pratos tradicionais do Alentejo, a comida é muito saborosa e servem apenas os vinhos, as aguardentes e os licores da cooperativa de Borba. Não há sequer cerveja!», graceja o enólogo. Azeites e vinagres da cooperativa também marcam presença à mesa para temperar a comida.
Isaura e Joaquim Espiga, são marido e mulher, ela na cozinha e ele a servir na sala, onde se podem sentar 85 pessoas, o que faz deste o maior restaurante da zona. Os dois filhos servem às mesas e, quando é preciso, os sobrinhos também ajudam. É um negócio familiar bem oleado que, além do restaurante, também faz serviço de catering, sempre que há pedidos.
Nas entradas brilham os petiscos para partilhar, como a tábua de enchidos mista, a farinheira e a morcela assadas ou os ovos com farinheira, ou com espargos e cogumelos, entre outros. Já nos pratos da casa não podiam faltar as migas ou o ensopado de borrego à alentejana, ou o arroz de pato no forno, algumas das especialidades. Quem quiser, pode também optar por pratos mais ‘comuns’ como o bacalhau na telha, o naco de vitela grelhado ou os secretos de porco preto, que também não fica mal servido. No final, aconselha-se a Sericaia, com ou sem ameixa de Elvas, o arroz doce ou as farófias, todas elas de chorar por mais. Tudo isto, regado a bons vinhos de Borba, claro!