Taboadella é o novo projecto da família Amorim no Dão
Depois de ter transformado a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo uma referência na área dos vinhos e do enoturismo, no Douro, Luísa Amorim pretende fazer o mesmo na Taboadella, na região do Dão.
O tempo passa a correr. Foram mais de 20 anos no Douro, transformados num caso de sucesso que ainda continua, e era necessário um novo desafio para ‘abanar as águas’. Esse momento chegou há dois anos, com a aquisição da Taboadella, e a inauguração da adega e do enoturismo em Junho deste ano.
Situada num enclave montanhoso no centro norte de Portugal , a região do Dão é cercada por cinco serras e composta por planaltos de rochas essencialmente graníticas e terrenos com boa drenagem. Esta geoformologia única que origina diferentes micro-terroirs contribui para uma enorme diversidade de perfis a partir de castas brancas e tintas. Não é por isso de estranhar que Luísa Amorim, gestora dos projectos vínicos da família, tenha decidido investir na região. «Sempre achámos que o Dão tinha um enorme potencial. É uma região clássica de vinhos em Portugal e a primeira a ser demarcada para vinhos não licorosos, e foi aqui que encontrámos as condições que queríamos para avançar com o projecto. A Taboadella tem uma mancha de vinha única que permite produzir grandes vinhos, com uma tipicidade notável conseguindo manter este caráter ancestral do Dão que é o que realmente queremos, afirma Luísa Amorim.A adega oferece uma capacidade de vinificação para 290.000 litros por vindima
A adega de 2500 m2, perfeitamente enquadrada no planalto da floresta, foi projetada por Carlos Castanheira, uma referência na arquitetura nacional, e oferece uma capacidade de vinificação para 290.000 litros por vindima. A adega está preparada para trabalhar por gravidade e é composta por duas naves (vinificação e barricas) concebidas para manter um equilíbrio perfeito entre luz e sombra, permitindo apenas a entrada de luz natural necessária para criar o ambiente e a temperatura ideal. Com uma forte ligação à natureza os revestimentos em madeira e cortiça assumem uma posição relevante neste projeto, onde a vinha tradicional não é regada, num sistema bastante sustentável de dry farming, nas 25 parcelas de vinha em modo de produção integrada e uma densidade média de 3500 plantas por hectare.
O maciço montanhoso no Dão protege bem as encostas da Taboadella no Vale do Pereiro e do Sequeiro, localizada entre os 400 e os 530 metros de altitude. À semelhança de outros terroirs de grandes regiões vitivinícolas no Mundo, a Taboadella beneficia de uma enorme interação entre solo granítico do tipo porfiróide de fácil meteorização e a sua topografia com elementos grosseiros associados à inclinação das encostas que permitem uma drenagem e escoamento rápidos e em profundidade nos meses de julho, agosto e setembro, mesmo antes da vindima. E é por esta combinação perfeita entre as temperaturas elevadas no verão aliada à drenagem e frescura do solo granítico que resultou da alteração de dois tipos de granitos de idade paleozóica, permitem uma evolução de maturação mais lenta e homogénea, originando vinhos que evoluem de forma suave e equilibrada.
O coração da Taboadella encontra-se nas castas antigas e nas videiras-mãe: Jaen, Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Pinheira que toda a vida deram origem a novas estacas contribuindo para o encepamento original, provenientes de videiras muito resistentes e perfeitamente adaptadas ao lugar. Nos anos 1980 a vinha foi parcialmente replantada, introduzindo-se novas castas como a Tinta Roriz e o Encruzado, o Cerceal-Branco e o Bical. Hoje, a idade média das videiras é de 30 anos e é todo este património genético que deixa uma marca de grande elegância e um carácter próprio deste terroir único. A parte vitivinícola não podia estar melhor entregue à super equipa Jorge Alves e Rodrigo Costa (na Enologia) e Ana Mota (na viticultura).
Como que a complementar a paisagem vitivinícola da propriedade, prevalecem ainda vestígios de uma Villae Romana, junto à Ribeira das Fontainhas, na época uma propriedade de classe rural alta, constituída por casa, adega, celeiro e outras pequenas construções. Será na antiga casa senhorial, actualmente em recuperação, que, em 2021, Luísa prepara-se para abrir um pequeno e exclusivo hotel, com oito quartos e uma suite (esta última alugada em regime de exclusividade), com projecto de decoração de interiores assinado por Ana do Vale. «O Villae 1255 abre para o ano mas já temos a funcionar o nosso espaço de enoturismo. Aqui funcionava o antigo celeiro, também recuperado e com a assinatura da Ana do Vale, onde além de um espaço para provas temos uma loja onde se podem adquirir os vinhos da Taboadella e também algumas peças de decoração e produtos gastronómicos da região», revela Luísa.
Os vinhos da Taboadella
Os primeiros vinhos produzidos na Taboadella, foram já lançados para o mercado. Os Villae são vinhos mais leves, de castas tradicionais brancas e tintas da vinha da Taboadella, com taninos suaves, vinhos de lote sem madeira que evidenciam o caráter da Taboadella. Intensos, são delicadamente perfumados, mais leves, com taninos suaves e uma acidez refrescante.
seguidamente os Taboadella por castas: «Em regiões clássicas como Dão onde a casta tem elevado destaque, parecia-nos fundamental enaltecer as castas endémicas e decidimos por isso criar uma gama de 4 reservas monovarietais: Encruzado, Touriga Nacional, Alfrocheiro e Jaen», revelou a equipa de enologia. Por último «uma grande região merece grandes vinhos e eis que surgem os Grande Villae, vinhos de estrutura clássica rara, que atravessam o tempo, as gerações, a vida nesta comunidade de outros tempos», remata ainda a equipa.
FOTOS: João Ferrand