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Há dias foi noticiada a nomeação de Bento Amaral para ‘Personalidade do Ano’, nos EUA, pela prestigiada revista de vinhos norte-americana Wine Enthusiast. Este prémio – que abrange 15 categorias - é atribuído a personalidades e empresas que contribuíram, de forma notável, para o mundo do vinho e de outras bebidas alcoólicas. Eu não sei de futurologia, mas para mim e para todos os portugueses que conhecem bem a sua personalidade e o seu trabalho, Bento Amaral já ganhou este ou outros títulos que lhe possam dar, independentemente das publicações ou organismos que os atribuem.
Para quem não trabalha no mundo dos vinhos ou não conheça a sua história, Bento Amaral é formado em Engenharia Alimentar e trabalha desde 1999 no Instituto do Vinho do Porto (IVDP), onde presentemente assume as funções de Director de Serviços Técnicos e de Certificação, função que acumula com o cargo de professor da Universidade Católica do Porto. Até aqui, tudo normal, não fosse o ‘pequeno pormenor’ de Bento ser uma pessoa que, além de exílio profissional, inteligente, metódico e com uma sensibilidade para a prova fora do comum, ser também alguém que supera os obstáculos da vida de uma forma notável, revelando uma força interior que nem todos conseguem alcançar. É esta força, aliada à sua maneira de ser e estar, que faz com que seja admirado por todos que o rodeiam.
Bento Amaral iniciou-se na prática da vela muito novo mas, aos 25 anos, um acidente na praia (foi projectado por uma onda e partiu a coluna) deixou-o tetraplégico. No entanto, isso não o demoveu de novos desafios. Começou a praticar vela adaptada, chegando a ganhar medalhas em competições e a sagrar-se campeão no campeonato do mundo realizado em San Felice Circo (Itália), assim como a representar Portugal nos Paraolimpicos.
Esta personalidade marcante também se revela na vida profissional. No IVDP foi Chefe da Câmara de Provadores do Vinho do Porto até 2013 e, a partir dessa data, foi nomeado Director de Serviços Técnicos e de Certificação, o departamento que certifica os vinhos do Douro e Porto, após análise e prova. A par destas funções, é ainda professor de Análise Sensorial nas pós-graduações de enologia na Universidade Católica do Porto e já escreveu um livro chamado ‘Sobreviver’, onde relata a sua experiência de vida.
Por todo o trabalho que já realizou no mundo do vinho, foi condecorado em 2009 pelo Presidente da República com a Ordem do Infante D. Henrique. Foi igualmente condecorado como ‘Chevalier dans l’Ordre du Mérite agricole’ em 2014 pelo Governo francês por ter prestado serviços de relevo no campo da prática da agricultura, nas indústrias ligadas à área agroalimentar, e nos serviços públicos, assim como por se ter empenhado no desenvolvimento das relações de cooperação com a França nessa área.
Na verdade, não precisamos de ficar assim ‘eufóricos’ só porque a Wine Entusiasth (só agora) se lembrou de o nomear. É que Bento Amaral já é um vencedor. Já ganhou o prémio, independentemente de o levar ou não para casa.