Torres: A dinastia do vinho

Em Espanha, Torres é nome de vinho. Uma família emblemática que na região de Penedès fez nascer um império e o estendeu a outros países. Vinhos que marcaram a história e continuam a surpreender paladares.
O apelido Torres está ligado ao vinho há mais de três séculos. Jaime Torres Vendrell, homem empreendedor e visionário, foi o fundador empresa. Filho de agricultores e nascido em 1839, numa aldeia de Olèrdola, em Barcelona, o jovem Torres queria descobrir o mundo e viver novas experiências. Por essa razão, com apenas 18 anos, embarcou num navio como ajudante de cozinha e emigrou para Cuba, onde começou como balconista de uma mercearia. Culto e informado, e atento a tudo o que o rodeava, Jaime lia regularmente o jornal e chegou à conclusão de que o petróleo era o negócio do futuro. Escreveu então para uma poderosa companhia petrolífera americana, que acreditou na sua capacidade empresarial, e mais tarde o nomeou representante dos seus negócios em Havana.
Rapidamente, Jaime tornou-se num poderoso homem de negócios, e ganhou muito dinheiro. No entanto, a riqueza não o fez esquecer as suas origens humildes, a família e o vinho. Regressa então a Espanha à sua terra natal, onde se junta ao pai e ao irmão para fundar, em 1870, a «Torres Y Compañia», e construir a primeira adega da empresa, em Vilafranca de Penedès.


Jaime e o seu irmão mais velho, Miguel Torres Vendrell, tinham uma simbiose perfeita. Já antes haviam trabalhado em parceria enquanto Jaime se encontrava em Cuba e juntos formavam uma dupla dinâmica. De personalidade tranquila e perseverante, Miguel era um apaixonado pela terra e tinha um grande conhecimento das técnicas de vitivinicultura, sendo ele o responsável pelas vinhas.
Os anos que se seguiram foram de trabalho árduo, com os vinhos Torres a ultrapassar fronteiras e a alcançar o sucesso desejado em outros países como Cuba, Argentina e Porto Rico. A dedicação, o esforço e o investimento da família neste projecto rapidamente foram recompensados em eventos nacionais e internacionais, como os salões de exposição de Filadélfia (1876); Paris (1878) e Barcelona (1888). Uma época de grande efervescência comercial e empresarial que os dois irmãos souberam aproveitar bem.
O espírito inquieto dos Torres passou às gerações seguintes, mais especificamente à terceira geração representada por Juan Torres Casals, o grande impulsionador da destilação de brandys nas Adegas Torres, a partir de 1928. Logo no ano a seguir, a bebida ganhou grande notoriedade com a obtenção de vários prémios na exposição Internacional de Barcelona. Além dos vinhos, a família Torres conquistava agora novos mercados e novos consumidores.

vinhos de topo da Torres

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Época Conturbada
A paixão pelo vinho continuou a passar de pais para filhos. Na quarta geração, e apesar de ter vivido uma época conturbada devido ao clima de guerra, Miguel Torres Carbó foi o grande impulsionador do negócio no século XX, mesmo depois da adega ter sido bombardeada em 1939, e de ter sido obrigado a recomeçar tudo de novo. Reuniu a sua boa disposição, simpatia e espírito de comerciante e ultrapassou as dificuldades, chegando ele próprio a visitar os melhores restaurantes e espaços comerciais da época – de garrafa em punho – para vender os seus produtos.
Apesar da crise, soube reconstruir com grande tenacidade o património familiar, incluindo ampliar as vinhas. Foi também ele quem apostou no processo de engarrafamento de vinhos, sendo nesta altura que começaram a surgir conhecidas marcas da empresa como o «Viña Sol»; «Gran Viña Sol»; «Sangre de Toro», «Coronas» e «Viña Esmeralda». Nos brandys, o empresário esforçou-se igualmente na criação de grandes marcas.
Uma Empresa Moderna
Ao longo das décadas a Torres ampliou seu negócio para outras regiões, estando hoje presente também na Ribera Del Duero, Rioja, Jumilla, Toro, Rueda e Priorato, produzindo uma variedade de castas autóctones, como Tempranillo, Monastrell, Garnacha e Cariñena e castas internacionais, como Syrah, Merlot, Sauvignon Blanc e Riesling. Os seus vinhos estão presentes em mais de 150 países.
Internacionalmente, a empresa também se expandiu. Os Torres detêm adegas no Chile (desde 1979) e na Califórnia (desde 1986). Na China, as exportações iniciaram em 1982, mas em 1997 foi estabelecida uma ‘joint-venture’ com a cooperativa de Shashen com o objectivo de melhorar a qualidade do vinho na China. Desde então, além de produzirem um vinho especial na cooperativa, os Torres continuam a exportar em grande quantidade para o mercado asiático os seus próprios vinhos oriundos de Espanha, da Califórnia e do Chile.


O edifício utiliza uma alta percentagem de energias renováveis.

estrangeira a estabelecer-se neste país.

Apesar
da sua dimensão, a empresa dos Torres continua hoje a ter um cariz familiar,
com tradições enraizadas, embora sempre atenta às constantes mudanças do
mercado e às novas tecnologias. Por essa razão, e pela qualidade a que desde
sempre habituou os consumidores, tornou-se numa empresa de referência em Espanha
e no mundo.
Miguel A. Torres, atualmente presidente emérito da empresa, dedicou grande parte da sua vida à liderança da companhia. Os seus irmãos Marimar, responsável pelo projeto Marimar Estate na Califórnia, e Juan Maria, que desempenhou funções na área das exportações antes de se retirar da gestão ativa, também estiveram ligados ao crescimento do grupo. Os seus filhos, Miguel Torres Maczassek, director geral do grupo desde 2022 e actual presidente, e Mireia Torres Maczassek, diretora da área de Inovação e Conhecimento, continuam a dar continuidade à tradição familiar com uma visão de futuro. Uma equipa unida, comprometida com a excelência e consciente da responsabilidade de liderar um império vinícola de renome mundial.

O Ambiente
Atualmente, o ambiente é uma das maiores preocupações da Torres. A empresa tem vindo, ao longo dos últimos anos, a implementar uma série de políticas ambientais, como a reutilização de águas pluviais, o recurso a energias renováveis (como painéis solares), a prática de agricultura biodinâmica em algumas das suas vinhas, e a utilização de garrafas de vidro mais leves, que contribuem para a redução da pegada de carbono.
Uma das grandes prioridades lançadas por Miguel A. Torres, ex-presidente do grupo, é a redução das emissões de CO₂, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global. Para este fim, o grupo aloca anualmente cerca de 12% do seu total de investimentos a iniciativas sustentáveis. E têm chamado a atenção para o facto de, em certos contextos, a produção orgânica poder implicar maiores emissões de CO₂, defendendo por isso uma abordagem equilibrada entre práticas ecológicas e eficiência energética.
Em 2008, a empresa lançou o programa Torres & Earth, com o objetivo de reduzir em 35% as suas emissões de CO₂ até 2020 – meta que foi atingida antecipadamente em 2019. Desde então, a Torres reforçou o seu compromisso ambiental com novas metas: reduzir as emissões em 60% até 2030 e em 90% até 2040, em linha com os objetivos do Acordo de Paris.
Outro projeto emblemático é o da recuperação de castas ancestrais que haviam sido esquecidas ou abandonadas. Estas variedades autóctones revelam grande resiliência às alterações climáticas e oferecem novas possibilidades para a criação de vinhos distintivos e adaptados aos desafios do futuro. A preocupação constante no conhecimento e na inovação, mostra bem como esta família empreendedora continua a mostrar a sua garra através de novos projectos e da consolidação da marca Torres.
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PROVA DE VINHOS
BRANCOS
Vinã Esmeralda 2018 – Catalunya
É um vinho popular mas muito correcto, elaborado com Moscatel e Gewurztraminer. Perfumado, frutado, sobressaindo fruta em calda, floral, suave no paladar. Um branco de rápido consumo, idealizado para atrair novos consumidores mais jovens.
Vinã Sol Original 2018 – Catalunya
Elaborado com as variedades Parellada e Garnacha Blanca, é citrino no aroma e no paladar. Vinho suave, pouco alcoólico, evidenciando fruta fresca. Um vinho de alta rotação mas muito bem feito e equilibrado.
Torres Fransola Sauvignon Blanc 2016 – Penedès
Um estilo de Sauvignon à Bordéus, mais sério, com notas vegetais e minerais, mais tenso e menos exuberante, com toques fumados. Para um tipo de comprador mais exigente. Amanteigado, salino e com boa acidez, é muito gastronómico, acompanha bem peixes de forno. Final de boca longo e seco. Estagiou seis meses em barricas novas de 300 e 500 litros.
TINTOS
Sangre de Toro Original 2017 – Catalunya
Elaborado com as variedades Granacha e Cariñena. Cor vermelha e densa. Vinho limpo, fresco, frutado, estrutura mediana, suave, um vinho pensado para ser fácil e correcto. Redondo, guloso, muito consensual.
Altos Ibéricos Crianza 2015 – Rioja
Um tinto 100% Tempranillo, elaborado com uvas provenientes de vinhas entre os 15 e os 25 anos. Cor vermelha viva, aroma frutado e tostado. O paladar é frutado, com notas de especiaria, taninos marcados, é fresco e moderno, com boa acidez e madeira bem integrada. Persistente. Um tinto já com alguma garram, com perfil de Novo Mundo.
LICOROSO
Floralis Moscatel Oro (não datado) – Penedès
Este vinho é elaborado com Moscatel de Alexandria, foi fortificado com brandy torres e estagiou em barricas que já guardaram brandy. Tem um aroma roma citrino – evidenciando-se a casca de laranja – notas de geleia de marmelo, figo seco, e algum floral. No paladar é doce, com um ligeiro toque iodado proveniente do brandy, e persistente q.b.
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