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Um jovem complexo

Já chegou às garrafeiras e restaurantes do país o novo Quinta de Ventozelo LOCI 2020, um tinto cheio de fruta mas com uma boa complexidade.  

O LOCI (plural de locus, lugar em latim) é um vinho que segue as tendências actuais, especialmente quando falamos de tintos, que hoje se querem menos marcados, menos intensos. Assim, os aromas do LOCI são discretos, embora se percebam notas frutadas e vegetais. Depois, é na prova que se revela, com a sua fruta envolvente, marcada na medida certa, complementada com boa acidez e madeira suave, bem integrada. Ou seja, um vinho que revela a sua personalidade sem por isso ter de agredir o paladar com a sua intensidade.  Um trabalho que resulta de um apurado estudo de cinco castas de oito diferentes vinhas da quinta de Ventozelo. Na sua composição reina a tinta amarela.

Não é de hoje que quem vos escreve aprecia vinhos com Tinta Amarela. Aliás, a Quinta de Ventozelo tem mostrado que sabe trabalhar muito bem esta casta, nomeadamente através de um vinho que gosto muito, o Quinta de Ventozelo tinta Amarela. Elaborado pelo enólogo José Manuel Sousa Soares, é subtil, discreto, de taninos macios, mas sem no entanto deixar de mostrar a sua garra e complexidade. É também assim este LOCI, com 50% de Tinta Amarela no lote, e por isso com um perfil da casta bem vincado. Proveniente de uma vinha com exposição Sudoeste e altitude média de 350m, foi uma das que melhor se comportou nas vinhas em 2020. As uvas foram as primeiras a amadurecer na vinha e revelaram muita frescura na boca e aromas finos e delicados.



No entanto, outras castas compõem o lote deste LOCI. A Tinta Roriz, proveniente das vinhas Dona Zefa e Galaico; a primeira com exposição Noroeste e altitude média de 250m, e a segunda com exposição Sul e altitude média de 350m, vieram contribuir para 20% do lote, com uvas mais frescas e outras mais maduras. Em 2020, a Tinta Roriz que por vezes se revela uma casta difícil, evoluiu muito bem na maturação dos taninos mantendo os aromas de framboesa e morango tão característicos. A contribuir para 10%, o Sousão, das vinhas Carvalha e Vale da Mina, ambas com exposição Noroeste e altitude média de 200m. Uma casta que também se comportou bem nas vinhas em 2020, mesmo nas parcelas mais precoces, aportando um reforço de cor. Tal como a Sousão, a Tinto Cão também faz parte de 10% do lote. Proveniente da vinha Colmeal, com exposição a Sudoeste e altitude média de 250m, é das castas presentes neste vinho a mais exótica, de cor azulada e pouco intensa, mas com enorme riqueza e de taninos sedosos. Por último, a Touriga Nacional, das vinhas Serra (com exposição Noroeste e altitude média de 250m) e Capela (com exposição Noroeste, altitude média de 150m) vindimadas e selecionadas na primeira semana, e também ela a compor 10% do lote, dando aroma, estrutura e boa acidez ao LOCI.  

Após vindima manual e escolha dos melhores cachos, passou pelo desengace total e escolha bago a bago por uma máquina de seleção ótica. A vinificação foi feita em lagar, com maceração pré-fermentativa e controlo de temperatura. O estágio foi de 12 meses em barricas de 300 e 500 litros de carvalho francês de segundo e terceiro ano, das tanoarias Baron, Radoux e Seguin Moreau. Por último, ainda estagiou 8 meses em garrafa.

Sobre a QUINTA DE VENTOZELO:

É uma das maiores e mais antigas quintas do Douro, com cerca de 400 hectares, dos quais 200 são de vinha. Situada na margem esquerda do rio, na freguesia de Ervedosa do Douro, Concelho de São João da Pesqueira, desenvolve-se num amplo anfiteatro desde a cota do rio até aos 600 metros de altitude, entrecortado pela Ribeira de Ervedosa e diversas linhas de água. Apresenta assim condições excepcionais de solo e de diversidade microclimática para uma viticultura de excelência, a par de outras produções como o azeite, a cortiça, o mel e as frutas, bem como a exploração do enoturismo e turismo cinegético.