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Um vinho que é obra

A Quinta D. Matilde apresentou recentemente a sua nova colheita de Quinta D. Matilde Reserva Branco e uma novidade, o Quinta D. Matilde Vinha do Pinto, um tinto que se destaca, proveniente de cepas com mais de 90 anos que fermenta e envelhece apenas em inox.  

Fazer vinhos de vinhas velhas já não é novidade, mas criar um tinto destes sem ir à madeira já não é tão comum. O Dona Matilde Vinha do Pinto é, assim, um tinto diferente que traduz a genuinidade dos vinhos do Douro oriundo de vinhas velhas, com uma profundidade impressionante.  A expressão máxima da vinha mais antiga da Quinta Dona Matilde, com mais de 90 anos (da primeira geração de vinhas pós-filoxéricas) e um vinho quase sem intervenção enológica, cuja prova nos remete para o terroir da quinta, uma das mais antigas da Região Demarcada do Douro. Este vinho, bem como o Reserva branco 2019 que foi apresentado durante um almoço organizado pelo produtor, são o resultado do trabalho minucioso e de detalhe que a equipa de enologia e viticultura, lideradas por João Pissarra e José Carlos Oliveira, respetivamente, tem vindo a desenvolver em busca do conhecimento da quinta parcela a parcela, tirando o máximo do potencial de cada uma das suas vinhas velhas. 

Mais do que velha, a Vinha do Pinto é histórica. Afinal, tratam-se de cepas da primeira geração de vinhas pós-filoxera, a doença que dizimou o Douro no final do século XIX, cuidadas, ano após ano, pelos sucessivos herdeiros, do bisavô aos bisnetos, e ainda capazes de dar origem a um vinho surpreendente. «Estas grandes vinhas do passado têm um carácter próprio, marcado e exclusivo. Encontro nelas um grande conhecimento empírico da viticultura da altura, que nos permite agora uma intervenção personalizada, mais expressiva, espontânea e natural. É isto que as torna irrepetíveis, o mesmo acontecendo com os vinhos», testemunha o viticólogo da Quinta Dona Matilde, José Carlos Oliveira. «Revitalizar o património vitícola é isto. É cuidar do legado e dar-lhe vida através de vinhos que são a expressão máxima do lugar», comenta Filipe Barros, o herdeiro da quarta geração responsável pela direção de marketing da quinta, explicando que «havia vontade de criar alguns vinhos diferentes» e que «falassem das vinhas velhas da Dona Matilde». O Vinha do Pinto é o segundo de uma série iniciada em 2019 com o lançamento do Dona Matilde Vinha dos Calços Largos tinto 2017, já esgotado no produtor.

Esta é também uma forma de dignificar a quinta, apresentando vinhos de coleção «em anos em que as vinhas velhas manifestam todo o seu esplendor», acrescenta o enólogo João Pissarra. «Motiva-nos um experimentalismo que visa explorar as qualidades intrínsecas da quinta, tradicionalmente dedicada à produção de Vinho do Porto. Queremos perceber o efeito do tempo e da mistura de castas nos vinhos e o seu contributo para a produção de tintos e brancos de grande qualidade», conclui.

Da esq para a dirt, o enólogo João Pissarra, os produtores Manuel Ângelo e Filipe Barros, e o viticultor José Carlos Oliveira. Fotos de Luísa Ferreira


Neste sentido, o Dona Matilde Vinha do Pinto 2019 é um vinho com pouca intervenção em adega e sem estágio em barrica de madeira, uma opção que assegura a exuberância de aromas, mantendo, a par, a elegância e complexidade características dos vinhos Dona Matilde. Produzido com cerca de 30 castas tradicionais do Douro, a apanha das uvas foi feita à mão em caixas de 25 Kg, seguindo-se a pré-seleção dos cachos à entrada da adega. A fermentação e envelhecimento decorreu durante 18 meses em cuba de inox. De cor carregada, tem um aroma intenso de fruta preta e notas minerais, complementado com um paladar profundo, complexo, fresco, elegante e muito equilibrado, com final de boca persistente. Foram produzidas apenas 2800 garrafas numeradas que estarão à venda pelo PVP de 50€.



Nova edição de D. Matilde Reserva branco 2019

À novidade de outono, junta-se ainda a nova edição do Dona Matilde Reserva branco 2019, criado a partir das vinhas de castas brancas da quinta, plantadas há 25 anos com o objetivo de produzir vinhos brancos DOC Douro de elevada qualidade. Nestas vinhas predominam o Arinto e o Viosinho, tendo também Gouveio e Rabigato. As castas foram plantadas em separado, mas, na linha de valorização do património vínico da quinta, este Reserva branco é um field blend que resulta de uma seleção de uvas nas próprias parcelas. A vinificação deste vinho começou por uma prensagem suave das uvas seguida de fermentação e estágio de seis meses em barricas de 300 litros. No aroma tem fruta branca e tropical e notas de madeira, mantendo no paladar um perfil frutado. Complxo, untuoso e envolvente, com uma acidez refrescante. Será vendido pelo PVP de 24€.

Durante a apresentação também foi provado o Dona Matilde Reserva Branco
Quinta D. Matilde, Douro.


Recorde-se que a Quinta D. Matilde pertence à família de Manuel Ângelo Barros desde 1927. Está entre as mais antigas propriedades da região do Douro, integrando a primeira demarcação ordenada pelo Marquês de Pombal em 1756. Toda a vinha da quinta – um total de 28 hectares – tem letra A, a mais alta classificação das vinhas para a produção de Vinho do Porto.

Para além de vinhas velhas com idades entre 80 e 90 anos e outras mais recentes, plantadas há mais de 25 anos, a Quinta Dona Matilde possui olival, horta, pomar e uma ampla área ocupada por terrenos incultos, de vegetação natural, na qual se incluem os chamados mortórios. No total, a propriedade tem 93 hectares.

Integrada no grupo Barros, o qual foi vendido em 2006, a Quinta Dona Matilde acabou por regressar a uma parte da família, alguns meses depois da venda, quando Manuel Ângelo Barros, neto do fundador, decidiu adquiri-la, mantendo a ligação ao Douro.