Uma carreira dedicada ao vinho
Quarenta anos depois de começar a trabalhar na indústria do vinho, Pedro Silva Reis bem pode orgulhar-se de ter sabido responder à altura do desafio: Ergueu a Real Companhia Velha, empresa na época quase falida, tornando-a num caso de sucesso que hoje factura anualmente 28 milhões de euros. Um negócio familiar ligado àquela que é uma das mais históricas e emblemáticas empresas produtoras de vinho em Portugal, fundada a 10 de setembro de 1756 por Alvará Régio de D. José I, Rei de Portugal, pelo então Primeiro-Ministro, Sebastião José de Carvalho e Mello, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal.
Ter iniciado uma carreira no mundo do vinho foi um percurso natural para o empresário Pedro Silva Reis, afinal, já desde o tempo do avô a família produzia vinho. O seu pai, aliás, foi uma referência na área, e isso terá certamente tornado a sua responsabilidade ainda maior. Agora, olhando para trás, já com 60 anos, vê com agrado a evolução positiva da Real Companhia Velha (RCV). Passou dos grandes volumes de vinho do Porto para vinhos de maior qualidade, ao mesmo tempo que foi recuperando quintas e replantando vinhas, inovando também ao avançar para a produção de vinhos de mesa com as melhores castas provenientes das propriedades da RCV. Investiu em boas equipas, da viticultura à enologia, e agora incentiva as novas gerações, filhos e sobrinhos, orientando-os no melhor caminho para continuarem o legado familiar. «O tempo passou muito depressa. Entrei na empresa em 1982 onde aprendi as várias áreas do negócio, e muita coisa se passou entretanto. Hoje, olhando para o nosso portfolio de marcas sinto que honrámos as tradições mas também conseguimos inovar», afirma o empresário. «O Quinta de Cidrô Chardonnay foi o primeiro grande sucesso comercial da Real Companhia Velha e a afirmação da Fine Wine Division (empresa criada por Silva Reis para os vinhos de mesa da RCV). Relembre-se que a colheita de 1997 ganhou logo prémios, a medalha de ouro no International Wine Challenge e o troféu Civart na Vinexpo, em Bordéus. No entanto, há vinhos que o marcaram «pelo interesse das variedades e os seus resultados finais, como os Real Companhia Velha Séries das castas Bastardo e Samarrinho», confessa. Ou o Quinta dos Aciprestes, o tinto mais básico da empresa mas com o qual tem «uma ligação emocional», acrescenta ainda.
Recordações que lhe vêm à memória num discurso emocionado que recorda ainda outros marcos históricos da empresa como a criação de novas áreas de negócios (importação de bebidas espirituosas e distribuição) em 1986; a recruta do célebre enólogo californiano Jerry Luper (conhecido pelo seu envolvimento na produção do famoso Chateau Montalena Chardonnay 1973, em Napa Valley, o vinho que destronou alguns dos melhores vinhos franceses no famoso ‘julgamento de Paris’ com o claro objectivo de produzir vinhos de alta qualidade); e, claro, uma das datas mais marcantes, o ano de 1997, data em que assumiu a liderança da RCV. Nesse mesmo ano, Pedro Silva Reis inicia profundo processo de reestruturação da empresa, com particular ênfase na viticultura. Sob a sua batuta, foi retomada a pisa a pé em lagares de granito, prática interrompida em 1968 com a introdução dos primeiros autovinificadores; e criado o primeiro vinho tinto de quinta, com origem na Quinta do Aciprestes.
Entre tantos momentos que marcaram a história mais recente da empresa, destaca-se 2002, ano memorável em que sucedeu a seu pai como presidente da empresa, iniciou um importante estudo de castas quase extintas e retomou a produção do ‘Grandjó Late Harvest’, uma tradição iniciada em 1905 e interrompida nos anos 60. E o ano de 2006, marcado pela celebração dos 250 anos da Real Companhia Velha, assinalados com um vinho especial, um Porto Jubileu, numa edição limitada, e o lançamento de um notável livro sobre a história da Companhia. Numa lógica comemorativa, seguiram-se ainda edições de Vinhos do Porto raros e muito antigos por ocasião dos 260 e 265 anos: o ‘Carvalhas Mémories Very Old Tawny’ e a ‘Coleção de Very Very Old Tawny (1900, 1908 e 1927)’.
Até hoje, numa lógica de decisões e actividades que procuram sempre contribuir para o crescimento e sucesso da empresa, Pedro Silva Reis acredita que «as novas gerações vão fazer um bom trabalho». Ainda bem para os apreciadores de vinho.