Crónica

Uma obra há muito esperada

O Centro de Estudos Vitivinícolas (CEV) do Dão, em Nelas, prepara-se para uma nova etapa com um investimento de um milhão de euros, que promete devolver dignidade e funcionalidade a este marco da viticultura nacional. A requalificação, confirmada pelo ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, e prevista para estar concluída em 2026, é recebida com entusiasmo, não só por restaurar um edifício, mas por revitalizar um espaço onde foram produzidos vinhos de excelência, que marcaram gerações e apaixonados pela viticultura.

Não posso deixar de recordar com carinho o trabalho de Alberto Vilhena, que entre 1958 e 1988 dirigiu o Centro, produzindo vinhos que me deram grandes alegrias e prazer. Alguns dos momentos mais marcantes da minha vida profissional como especialista de vinhos foram passados neste Centro, onde provei Grandes Brancos (só para citar alguns que se destacaram, 1964, 1974, 1992, 2010) e Grandes Tintos (1971, 1987, 1996, 2005) do Dão – verdadeiros tesouros enológicos, que são o testemunho de um património de qualidade que merece ser preservado e estudado.

A importância deste Centro de Estudos transcende as garrafas e representa também a dedicação e o esforço de profissionais como o da Engenheira Agrónoma Vanda Pedroso, que há décadas desenvolve e manteve um trabalho meritório, continuando o legado de investigação e inovação que Alberto Vilhena iniciou. A requalificação é por isso um tributo ao empenho desta equipa, que, ao longo das décadas, fez do Centro um tesouro inestimável para a região.

Durante a visita, o ministro José Manuel Fernandes sublinhou a importância de iniciar as obras com urgência, pois o tempo pode aumentar os custos e as dificuldades logísticas. Isabel Damasceno, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, relembrou que o projeto original de 2022, inicialmente avaliado em 850 mil euros, precisou de uma revisão para atender às necessidades atuais. A promessa agora é que o CEV esteja renovado em 2026, coincidindo com o 80.º aniversário deste centro de investigação.

Com três técnicos a trabalhar uma área de 10 hectares e com 91 castas de vinho plantadas, o CEV continua a desempenhar um papel crucial na valorização do vinho do Dão e no estudo das suas especificidades, cada vez mais relevantes face às alterações climáticas e aos novos desafios fitossanitários. Fernandes destacou ainda o impacto económico da fileira vitivinícola, que gera um superávit anual de 720 milhões de euros, mas também reforçou a importância da sinergia nacional e europeia, sugerindo o aproveitamento de programas como o Horizonte Europa, que financia projetos de investigação de grande escala.

Esta requalificação é um sinal positivo para a região e para o país, onde a preservação do património vitivinícola assume uma importância crescente. Para quem, como eu, viveu experiências inesquecíveis em Nelas e aprecia o trabalho de décadas de dedicação, ver o Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão renascer é uma alegria imensa, pois é algo que já deveria ter sido feito há muito mas, como diz o ditado, mais vale tarde que nunca! Que venha 2026 e que este espaço continue a inspirar futuras gerações de enólogos, investigadores e apreciadores de vinho.

Memórias de uma prova histórica