Valgrupo Investe no Desafiante Sector do Vinho
Já tem séculos de história mas em 2017 a Quinta da Atela foi adquirida pelos administradores da Valgrupo, holding de peso do setor da agropecuária, que decidiram também investir no sector do vinho. Conquistar o mercado com produtos de qualidade é o mote.
A história da Quinta da Atela, em Alpiarça, remonta ao século XIV (1346) e composta por várias fases. Na altura conhecida por Quinta da Goucha e Atela, foi seu proprietário D. Afonso Telo de Menezes, Conde de Ourém e de Barcelos, genro de D. Nuno Álvares Pereira. Mais tarde, a propriedade foi doada a uma ordem religiosa, o Convento da Graça de Santarém dos Agostinhos Calçados. Já no séc. XX, a quinta foi comprada por Isidoro Maria de Oliveira, fundador das Salsichas Izidoro. Após o 25 de Abril de 1974, foi ocupada durante uma década, período após o qual foi restituída aos antigos donos, embora com uma parte significativa em posse da cooperativa agrícola.
Tempos atribulados deixados para trás, principalmente desde 2017, data em que a quinta foi adquirida pelo casal de empresários Anabela Tereso e Fernando Vicente (na foto de entrada), administradores da Valgrupo, holding de peso do setor da agropecuária. Com uma identidade totalmente renovada, impulsionada por Anabela, a quinta viu recuperados todos os seus edifícios e espaços, incluindo a casa-mãe, e reformulada toda a sua gama de vinhos.
Longe vão os tempos em que Anabela se dedicava à pintura de cerâmica e o marido herdou dos avós uma pequena suinicultura. Naquela altura, acabou por largar a profissão para apoiar o marido no negócio. Enquanto ela ficava nas instalações a tomar conta dos porcos, ele viajava para comprar novas ninhadas. Ao longo dos anos, com o aumento da produção, o negócio foi crescendo com a aquisição de outras empresas do setor através de oportunidades de negócio que foram surgindo de forma a controlar todo o processo de produção de carne. Hoje, o grupo é composto por 32 empresas, produz mais de 1,6 milhões de suínos, 750 mil perus e quatro mil bovinos por ano, sendo hoje o segundo maior produtor agro-pecuário nacional.
Actualmente, Anabela Tereso, que juntamente com o marido Fernando gere o Valgrupo, conta ainda com os dois filhos (Davide e André Vicente) na gestão do negócio familiar. A Quinta da Atela acabou por ser mais uma sugestão do marido, que a desafiou para esta nova área de negócio: «Ele disse-me, tens de ir para lá ajudar-me a tomar conta daquilo. Hoje, estou orgulhosa de dirigir esta propriedade, que é uma área de negócio nova para nós, mas que conta com uma equipa altamente experiente. Eu já gostava de vinho, tinha o meu gosto pessoal, mas tive de aprender tudo deste sector desde que comprámos esta quinta e levei tudo muito a sério» afirma Anabela Tereso. «A nossa ideia é posicionar-nos entre os vinhos premium e os topo de gama, e já temos vinhos muito interessantes mas estamos ainda à procura do nosso factor diferenciador. É um caminho que estamos a percorrer», remata.
Situada na margem sul do rio Tejo, a propriedade totaliza 600 hectares, 150 dos quais de vinha2«. Aqui, encontram-se castas como as brancas Fernão Pires (a uva branca rainha da região vitivinícola do Tejo), Chardonnay, Sauvignon Blanc, Gewürztraminer, Arinto, Moscatel Graúdo, Alvarinho, or Viosinho; e as tintas Castelão (a tinta mais identitária da região), Pinot Noir, Trincadeira Preta, Alicante Bouschet, Merlot, Caladoc, Aragonez, Syrah, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Marselan ou Petit Verdot.
Na quinta existe, ainda, uma parcela muito especial de nome Carvalhita, uma vinha velha de Castelão — de um clone bem antigo da casta — com mais de 75 anos de idade. Outro dos ex-líbris associados ao projeto é também o Paul da Gouxa, estando 75% desta reserva Natural sob a alçada da Quinta da Atela e onde se podem avistar diversos animais selvagens.
Uma Gama Variada
O portfolio de vinhos é composto actualmente por 18 referências entre as quais se destacam os vinhos premium monovarietais Casa da Atela. A prova, organizada para mostrar o trabalho que tem sido desenvolvido desde a aquisição da quinta, destacou alguns vinhos, entre eles uma novidade – o branco Casa da Atela Sauvignon Blanc (2023) - e o tinto Casa da Atela Vinhas Velhas de Castelão (2021), que é um dos ex-libris da propriedade. A complementar, evidenciou-se ainda o Casa da Atela Anabela Grande Reserva (2019), um blend tinto que António Ventura, o enólogo consultor da Quinta da Atela, idealizou em homenagem à proprietária.
Elaborado com uvas de duas vinhas (uma plantada em 1999 e outra em 2018, instaladas em solos arenosos, pobres e bem drenados), o Casa da Atela Sauvignon Blanc veio complementar o portfolio, não só porque é uma casta comercialmente muito apetecível e já fazia falta n gama de vinhos, mas também porque os resultados foram interessantes. As uvas fermentaram em cubas de inox durante quatro meses, com bâtonage semanal, de forma a extrair estrutura e a genuinidade da casta. De aroma citrino e vegetal, com algumas notas vegetais e minerais, tem uma estrutura presente no paladar, untuosidade e uma acidez viva. «É a primeira vez que estamos a lançar este vinho e creio que fará sucesso pelo perfil que tem. Produzimos apenas 2000 garrafas mas, dependendo do resultado, poderemos vir a engarrafar um pouco mais», revela Mariana Lopes, responsável de Comunicação da Quinta da Atela.
Já o Castelão, provenientes da vinha velha (75 anos) instalada em solos pobres de charneca, fermentou em pequenos lagares de inox após pré-macerar a frio por 24 horas, com estágio em 12 meses em barricas de carvalho francês, 50% novas e as restantes de segunda utilização, para não marcar demasiadamente o perfil do vinho. Resultou, assim, num vinho com aroma a frutos vermelhos, algumas notas balsâmicas e tostadas. A boca é intensa e tem bom volume, mas tem um perfil mais elegante, apresentando taninos maduros e sedosos, com boa acidez e profundidade. «O que se quis aqui foi extrair a pureza da casta. Há muitos castelões na região, mas com este perfil mais leve e elegante é raro, apesar da sua complexidade», comenta ainda Mariana Lopes.
Por último, o Anabela Grande Reserva, um vinho de topo que, segundo Anabela, foi uma surpresa de António Ventura. «Um dia chegou cá e disse-me para provar um vinho que tinha andado a pensar para mim pela dedicação ao projecto. Gostei muito e por isso acabou por ficar com o meu nome», revela a produtora. Produzido com as castas Petit Verdot, Merlot e Syrah em iguais proporções, fermentou em pequenos lagares de inox, com estágio de 12 meses em depósitos de betão e 16 meses em barricas de carvalho francês, 70% novas e o restante usadas. Com aromas de fruta preta e vermelha, notas balsâmicas e da madeira onde estagiou, é um tinto de paladar complexo, fresco, elegante, volumoso e de final persistente.
Porque o vinho foi levado a sério em todas as suas vertentes, a família Vicente investiu também na componente do enoturismo, que complementa a oferta através de provas de vinho e outras actividades relacionadas, organização de eventos e estadias.