Vinhas em Terras de Lava
«Esta é uma viticultura das pedras e dos ventos». A frase é do enólogo Paulo Machado e define na perfeição o tipo de trabalho que se faz na vinha, em várias ilhas açorianas. Mas agora estamos no Pico, a ilha onde Paulo - juntamente com o enólogo António Maçanita e o economista Filipe Rocha - fundou em 2014 a Azores Wine Company, empresa que tem vindo a desenvolver um papel único no estudo de castas autóctones, na recuperação dos currais (muros de pedra vulcânica que servem para abrigar as cepas da água do mar e dos ventos marítimos), e no aumento da produção de vinhos de qualidade.
Antes do Oídio (uma das mais nefastas doenças da vinha que atacou fortemente as cepas em 1853), existiam na ilha cerca de 6000 hectares de vinha, um número que desceu consideravelmente ao longo das décadas. Em 2004, altura em que a paisagem da cultura da vinha da Ilha do Pico foi classificada pela UNESCO, contabilizavam-se apenas 120 hectares. No entanto, uma nova vaga de apoios comunitários e o ressurgimento do interesse na recuperação das vinhas começou a evidenciar-se de tal forma, que actualmente a área de vinha já chega aos 1000 hectares.
Paulo Machado pertence à quarta geração de uma família ligada à cultura da vinha e do vinho na ilha do Pico e por isso vê esta evolução com bons olhos. Após tirar o curso de Engenharia Agrícola na Universidade dos Açores e ter realizado uma Pós-Graduação em Enologia na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, no Porto, fundou em 2006 a empresa Insula Vinus, dedicada à comercialização dos seus vinhos. O encontro com António Maçanita (enólogo em diversos projectos nacionais) e Filipe Rocha (ex-Director da Escola de Formação Turística e Hoteleira dos Açores) aconteceu mais tarde, em diversos eventos vínicos, onde foram cimentando pontos de vista e uma forte amizade.
O inevitável acabaria por acontecer em 2014, com o nascimento da Azores Wine Company. Actualmente, contam com 33 hectares de vinha em São Mateus, 45 hectares na Baía das Canas (ambas arrendadas) e 52 hectares de vinha própria na zona do Poço Velho, na costa norte da ilha, próximo do Cais do Mourato, onde recentemente foi colocada a primeira pedra da nova adega da Azores Wine Company, que terá de estar pronta já para a vindima deste ano (até agora os vinhos foram vinificados na adega da Insula, a empresa de Paulo Machado).
Além da adega propriamente dita, o projecto desenhado pelo gabinete SAMI (dos arquitectos portugueses Miguel Vieira e Inês Vieira da Silva) em conjunto com a dupla de arquitectos ingleses Daniel Rosbottom & David Howard, inclui uma sala de provas, uma sala para eventos, um restaurante e cinco apartamentos (4 T0 e 1 T1). No entanto, quem quiser já visitar o Pico não precisa de esperar tanto tempo, já que a Insula tem já 4 apartamentos (2 T= e 2 T1) e uma sala de provas com cozinha construídos no meio das vinhas de São Mateus, da Azores Wine Company ,que já servem de apoio ao enoturismo da empresa. Com a construção dos novos apartamentos, a aposta será sempre num tipo de enoturismo ‘taylor made’, ou seja, feito à medida de cada cliente.