Vinhas Velhas, um legado a manter
O vinho ‘Primeiras Vinhas’ nasceu da primeira vinha de Alvarinho plantada pela família Cerdeira na década de 70, em Melgaço, numa parcela chamada Soalheiro, o que originou o nome da marca. Cinco décadas passadas, estas vinhas representam a vontade do produtor de continuar a inovar a partir do território de sempre.
Plantada em 1974, foi a primeira vinha contínua de Alvarinho em Melgaço e a que deu origem a este vinho icónico produzido pela primeira vez em 2006. Esta primeira colheita ditou o estilo complexo, de enorme frescura e elegância, que por diversas vezes o fez ser eleito como o melhor vinho branco em Portugal pelas revistas da especialidade, e também o primeiro vinho da região dos Vinhos Verdes a alcançar a maior distinção ‘Best in Show’, no prestigiado concurso mundial Decanter World Wine Awards.
A nova colheita de 2022 do Soalheiro Primeiras Vinhas mantém o mesmo estilo de sempre, embora actualmente recorra a uvas de vinhas vizinhas, também elas de vinhas velhas, espalhadas pelo território de Monção e Melgaço, cuidadas e / ou pertencentes a famílias que fazem parte do Clube de Viticultores do Soalheiro. A produção de vinho a partir de vinhas velhas é, ao mesmo tempo, um exercício de conservação destas plantas raras, e um momento de encontro entre viticultores, que se unem e se encontram nos mesmos dia para fazer a vindima manual. «O Primeiras Vinhas, além de um ícone do Soalheiro, é também um motor para a preservação das vinhas velhas no nosso território», afirma António Luís Cerdeira, o produtor e responsável de enologia da Quinta de Soalheiro.
No aroma, o vinho é frutado e mineral, de paladar complexo, com uma acidez diferenciada e marcante. Segundo revela o produtor, a vinha Soalheiro onde este vinho nasceu é hoje uma base de estudo e aprendizagem, que cimentou parcerias com universidades e polos de inovação para prolongar o tempo de vida das vinhas mais antigas. «O desafio é enorme, mas acreditamos no perfil diferenciador e singular destas vinhas», revela António Luís Cerdeira que, através do Clube de Viticultores, tem catalogado as vinhas da região. «Ao longo dos últimos anos, têm sido sinalizadas as vinhas com mais de 30 anos, o que permite valorizá-las com vindimas específicas, obtendo mostos que continuam a surpreender. A identificação de perfis distintos e especiais, que demonstrem a elasticidade e singularidade do Alvarinho nesta região, é uma poderosa forma de valorizar Monção e Melgaço», remata ainda o produtor.
Recorde-se que em 1974, João António Cerdeira e a família decidiram inovar e plantaram a primeira parcela de vinha contínua da casta Alvarinho em Melgaço. Uns anos depois, em 1982, João António transformou a sua paixão pela vinha e pelo vinho numa pequena produção familiar independente, tirou o carro da garagem da família, transformando-a numa adega onde nasceu a primeira marca de Alvarinho em Melgaço. O pioneirismo de João António marcou a história da família, que desde aí está ligada à produção de Alvarinho no território.
Hoje, os irmãos Maria João e António Luís Cerdeira, juntamente com a sua mãe, Maria Palmira Cerdeira, continuam o projeto familiar. António Luís, formado em Enologia, construiu um profundo conhecimento da casta Alvarinho ao longo da vida. Maria João, veterinária de profissão, assume a responsabilidade pela viticultura e introduziu com sucesso o modo de produção biológico nas práticas agrícolas na sua propriedade. O Soalheiro alarga-se hoje ao Enoturismo e à produção de Infusões biológicas. O projeto cresceu e é agora o resultado do trabalho e paixão de uma equipa que abraça a atitude de sempre, de um Clube de Viticultores com mais de 150 famílias e de uma visão clara: continuar sem sair do lugar, garantindo o desenvolvimento sustentável do território de origem, Monção e Melgaço.